Detalhamento

Dinheiro em mochila no cabaré

Delator da Odebrecht explica como funcionava o “departamento de propina da empresa


Publicado em 25 de março de 2017 | 03:00
 
 
 
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BRASÍLIA. O ex-diretor da Odebrecht Hilberto Mascarenhas relatou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – durante depoimento na ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, no último dia 6 – que uma das regras para o pagamento de propina a políticos de vários partidos e intermediários era que o valor máximo repassado em dinheiro não poderia ultrapassar R$ 500 mil. E o motivo é simples: esse era o máximo que cabia dentro de uma mochila.

Durante o depoimento, Mascarenhas também relatou que os pagamentos em dinheiro eram feitos “em todos os lugares”, desde hotéis a “cabaré”. “Em todos os lugares. Você não tem ideia dos lugares mais absurdos se encontra, no cabaré...”, narrou.

Mascarenhas era o responsável pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como “departamento de propina”. Ao detalhar como se dava o repasse de vantagens a agentes públicos, o ex-executivo afirmou que, ao tomar conhecimento dos pagamentos a serem feitos, ele e sua equipe tinham que “criar uma alternativa” para disfarçar o montante.

“Se eu tenho um pagamento de R$ 2 milhões, isso é uma mala. Ninguém pode estar transitando na rua com uma mala com R$ 2 milhões. Então, existiam também regras como, por exemplo, o valor máximo a ser pago era de R$ 500 mil, que cabia dentro de uma mochila”, afirmou. “Se você tinha R$ 2 milhões a receber, você ia receber quatro vezes R$ 500 (mil). E, aí, tinha que ser combinado alguma coisa.
Mas, nem sempre, ministro, era com o interessado final. Às vezes, tinha muito preposto”, explicou.

Propina e caixa 2. Tema de discussões jurídicas e políticas, a diferenciação entre o caixa 2 e a propina não existia para o ex-chefe do Setor de Operação Estruturadas. Mascarenhas afirmou que os valores para os dois tipos de pagamentos saíam das mesmas contas abastecidas com caixa 2 da empreiteira.

“Para mim, é a mesma coisa, viu, doutor. Propina, caixa 2 e não contabilizado. É a mesma coisa. A única diferença que faço aí é que nós também pagávamos, em determinado momento, bônus do ano”, afirmou, explicando que o bônus “era uma parcela paga por fora” e que “isso é caixa 2, não é propina, é caixa dois”. Mascarenhas afirmou que não sabia se os recebedores dos pagamentos eram políticos.

Próprio. Mascarenhas disse que, quando fala em caixa 2, se refere às próprias contas da Odebrecht. O departamento da propina operacionalizava todos os pagamentos não oficiais.

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