Após o fim de uma verdadeira guerra nas urnas, apenas um candidato emergiu vencedor. Mas para boa parte dos outros dez nomes que disputaram a Prefeitura de Belo Horizonte não conquistar o cargo não é o maior problema que eles terão, já que as dívidas das campanhas ainda precisarão ser quitadas.
Até agora, cinco campanhas estão no prejuízo, incluindo as duas que foram para o segundo turno e possuem até o dia 19 deste mês para enviar a última parcial da prestação de contas. Juntos, João Leite (PSDB), Alexandre Kalil (PHS), Délio Malheiros (PSD), Reginaldo Lopes (PT) e Maria da Consolação registram uma dívida de mais de R$ 9 milhões.
O problema passa a ser de onde tirar dinheiro para resolver os débitos em aberto. O deputado federal Rodrigo Pacheco (PMDB), que ficou em terceiro lugar na disputa, afirmou que teve que tirar do próprio bolso a diferença para saldar a sua dívida, de cerca de R$ 1,2 milhões, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Tive que custear eu mesmo boa parte da minha campanha. E o que ficou faltando após as eleições, também saldei com recursos próprios”, afirmou Rodrigo Pacheco, que fez uma das campanhas mais caras dessa eleição, com gastos de cerca de R$ 6,7 milhões.
Sem um patrimônio tão vultoso, o deputado estadual Sargento Rodrigues (PDT) teve que recorrer a empréstimos para não deixar a campanha no vermelho.
“Precisei pegar R$ 170 mil para acabar de quitar todos os compromissos. Gastei mais do que podia, já que o partido ficou de me dar R$ 300 mil e deu R$ 200 mil. Ficou um rombo que cresceu na reta final do primeiro turno”, disse Rodrigues.
Já o deputado federal Reginaldo Lopes (PT) não precisou tirar o escorpião do bolso, já que seu partido assumiu todas as dívidas da campanha. Segundo a Justiça Eleitoral, ainda faltavam quitar R$ 978.741,03. “O PT se comprometeu a assumir essa dívida, fizemos um acordo com os fornecedores. Está tudo tranquilo e combinado com eles”, afirmou Lopes.
Vencedor. Nem a vitória no pleito foi sinônimo de escapar das cobranças para o prefeito eleito Alexandre Kalil (PHS). Para ajudar a custear parte da sua campanha, ele afirmou que vendeu um apartamento por R$ 2,2 milhões. Mesmo assim, de acordo com o TSE, a dívida, se descontado o valor que ainda tinha em caixa, era de R$ 323.264,66.
“Quem coordenou a parte financeira da campanha foi o próprio Alexandre Kalil. Ele decidiu sobre todos os gastos. O dinheiro que falta, acredito que ele irá conversar com seus apoiadores para arrecadar”, explicou o vereador eleito Gabriel Azevedo, que coordenou a campanha de Kalil.
Azevedo também explicou que os fornecedores já estão cientes da negociação para quitação das dívidas.
“Já conversamos com todos sobre os gastos de campanha e eles estão sabendo que os compromissos feitos serão honrados”, disse.
Prazos
Primeiro turno. O prazo para os candidatos a prefeito encaminharem as prestações de contas das campanhas no primeiro turno terminou no último dia 1º de novembro. Quem não zerar os débitos ficará com a prestação de contas irregular, mas não sofrerá nenhuma sanção, já que as negociações com os fornecedores podem se estender.
Segundo turno. Já os candidatos a prefeito que foram ao segundo turno da eleição terão até o próximo dia 19 para apresentar os cálculos, conforme regra da Justiça Eleitoral.
Áurea Carolina
Vereadora teve serviço doado
Vereadora mais votada da capital, a cientista social Áurea Carolina (PSOL) fez uma campanha que, a partir de agora, sem a antiga bonança de doações, pode se tornar referência e ser copiada por futuros candidatos.
Durante os 45 dias de pleito, Áurea arrecadou menos de R$ 60 mil, mas, desse total, cerca de R$ 35 mil corresponderam a serviços prestados, que englobam criação musical e audiovisual, design e fotografia de profissionais que doaram sua força de trabalho, e não dinheiro diretamente.
Todas as produções gráficas e musicais da campanha de Áurea, por exemplo, foram criadas a partir de serviços gratuitos feitos por apoiadores. O designer gráfico Ronei Sampaio foi o responsável pela criação de materiais e pela identidade visual da campanha, enquanto o produtor musical Clebin Quirino produziu o jingle, o clipe de campanha e ainda ofereceu seu estúdio para gravação. Os serviços foram feitos de forma gratuita.
Além dos trabalhos doados, a campanha da vereadora eleita contou com os recursos arrecadados através do “Ateliê Criativo das Muitas”, um coletivo vinculado ao movimento Cidade que Queremos, que criou peças gráficas e materiais para serem comercializados. Parte do trabalho do Ateliê foi remunerada, e outra parte entrou como doação para os candidatos do partido.