Proposta

‘Eleição não é prioridade para este ano’, diz ex-governador Aécio Neves

Em entrevista à Rádio Super 91,7 FM, o tucano defendeu a unificação dos pleitos em 2022 e afirmou que os R$ 4 bilhões previstos precisam ser gastos em ações de combate à pandemia do coronavírus

Por Sávio Gabriel
Publicado em 30 de março de 2020 | 16:23
 
 
 
normal

O ex-governador de Minas e deputado federal Aécio Neves (PSDB) voltou a defender o cancelamento das eleições municipais deste ano e que o pleito seja realizado somente em 2022, quando seria unificado com a disputa presidencial e estadual. Em entrevista concedida nesta segunda-feira (30) ao programa Alerta Super, da Rádio Super FM 91,7 FM, o tucano argumentou que os R$ 4 bilhões que estão previstos para serem gastos com o pleito de outubro podem ser utilizados para o combate à pandemia do coronavírus em todo o Brasil.

O deputado é autor de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o adiamento e a unificação das eleições. “Estamos vivendo uma experiência que não imaginávamos na nossa geração. É preciso que façamos o atendimento aos que mais precisarão dos serviços de saúde. De forma clara, não temos condições de cumprir os prazos estabelecidos”, disse, citando como exemplo a data limite para a filiação partidária, que se encerra oficialmente no próximo sábado (4).

“Será que é justo mantermos o calendário mais apertado, como alguns defendem, e gastarmos cerca de R$ 4 bilhões?”, questionou, citando os R$ 2 bilhões referentes ao fundo eleitoral dos partidos, R$ 1 bilhão em isenções fiscais aos veículos de comunicação devido à propaganda eleitoral gratuita e R$ 1 bilhão vinculado ao Orçamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De acordo com a PEC, a partir de 2022 as eleições seriam unificadas realizadas a cada cinco anos, sem direito à reeleição. O deputado defende que, nesse modelo, os gestores teriam quatro anos seguidos para trabalharem. “Eleições como temos, de dois em dois anos, é natural que impacte nas administrações. E eu, como governador, vivenciei isso”, disse, pontuando que as gestões em todas as esferas (federal, estadual e municipal) são conduzidas também em função da corrida eleitoral. “É a antecipação de projetos ou o adiamento de outros que não teriam retorno eleitoral, o que me parece prejudicial ao bom exercício dos mandatos públicos”.

O tucano admitiu que a proposta deve encontrar resistência no Parlamento, mas disse que a ideia não pretende beneficiar grupos políticos específicos. Ele reconheceu, inclusive, a dificuldade do próprio presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não vê a medida com bons olhos. “Ele tem receio da lógica de que, se adia as eleições (deste ano), vai abrir uma janela para que outras sejam adiadas. É um argumento que respeito, mas estamos vivendo algo inédito, imponderável e de dimensão inimaginável. Entre adiar para o início do ano que vem, gastando os R$ 4 bilhões, por que não aproveitarmos esse momento e fazermos essa unificação?”.

Prioridades
Durante a entrevista, o tucano ressaltou que o Brasil precisa estar preparado para quando a pandemia atingir as periferias dos grandes centros urbanos. “Como vamos recomendar às pessoas que usem álcool em gel, se não sabem direito o que é isso, se não têm água em casa? Como vamos pedir isolamento do idoso com mais de 60 anos que vive numa casa de dois cômodos com mais cinco ou seis pessoas?”, disse. Na avaliação do deputado, falta uma ação do governo federal e parceria com o setor privado.

“O conglomerado bancário faturou muito nos últimos anos no Brasil. As manifestações empresariais são pontuais. Temos que fazer uma operação de guerra, levando materiais de higiene para essas comunidades. A grande verdade é que vai piorar”, alertou, sugerindo que os grupos de risco sejam levados para hotéis e albergues custeados pelo governo federal.

Em meio às declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defende o fim do isolamento social, contrariando todas as orientações de entidades e especialistas, e o embate do Planalto com os governadores, Aécio Neves acredita que falta liderança. “Temos que ter na presidência alguém que tivesse unindo o país e governadores com autoridade e capacidade de se posicionar, de exigir a participação do governo federal em suas ações”. Para o tucano é preciso deixar questões partidárias de lado e focar em ações objetivas.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!