Em uma eleição municipal que tende a repetir a polarização entre esquerda e direita já observada nas gerais de 2022, buscar votos de não militantes pode ser o caminho para que os partidos ampliem suas bases para o pleito de 2024 em BH.
Além de empregar esforços para atrair os eleitores indecisos ou mais ao centro – que, a depender da circunstância, podem caminhar mais à direita ou à esquerda –, é dado como certo que as campanhas vão se empenhar em conquistar votos em território dominado por seus opositores mais diretos. Nesse cenário, o PT, por exemplo, já se articula para ampliar sua base entre eleitores evangélicos, público conhecido por se alinhar às ideologias da direita.
No dia do lançamento da pré-candidatura de Rogério Correia (PT) à PBH, no último dia 12, interlocutores do partido admitiram à reportagem de O TEMPO que a aproximação com a comunidade evangélica está entre as estratégias para alavancar votos no próximo pleito municipal. É sabido, porém, que será preciso adaptar o discurso para alcançar essa fatia do eleitorado. “Nós temos que ter uma linguagem própria para chegar ao evangélico, e isso não é só aqui, em Belo Horizonte. É um eleitor que, muitas vezes, não vê o PT como primeira opção, mas com que nós queremos, sim, dialogar”, disse uma fonte do partido. No início do mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já havia sinalizado uma aproximação com evangélicos, durante conferência eleitoral da sigla.
Em contrapartida, partidos mais à direita miram territórios tradicionalmente dominados pela esquerda. Um interlocutor próximo do senador e pré-candidato Carlos Viana (Podemos-MG) explica que uma das estratégias do político deve ser a aproximação com os trabalhadores de classes mais baixas e moradores da periferia da capital, público que o reconhece devido ao período em que atuou como jornalista.
Líder do recém-criado PRD, o deputado federal Fred Costa considera que o caminho para o partido crescer nas municipais de 2024 pode estar justamente na conquista do eleitor que não se identifica com as extremas direita e esquerda. O cientista político e professor do Ibmec Adriano Cerqueira concorda. “Principalmente em um cenário de segundo turno, é preciso buscar o eleitor moderado, que se diz sem partido ou aquele mais de centro. Em eleição polarizada, quem consegue esse volto é o que ganha”, avalia. (Com Letícia Fontes)
Para se aproximar do eleitorado evangélico, partidos de esquerda podem ter que moderar o discurso, “buscando não se antagonizar de forma aberta com seus princípios e crenças”, avalia a cientista política Marta Mendes.
Na avaliação dela, um caminho para a aproximação é focar pautas que afetem diretamente a rotina do eleitor em seus municípios, como transporte coletivo, saúde, educação, lazer e cultura, “temas sobre os quais os Executivos municipais podem agir com políticas públicas que têm impactos diretos e tangíveis sobre a vida das pessoas”.
Já o cientista político e professor do Ibmec Adriano Cerqueira não vê grande possibilidade de a esquerda ampliar sua base no meio evangélico: “Para se aproximar desse eleitorado, ela teria que defender também as pautas mais conservadoras”.