Táticas

Esquerda e direita buscam votos em espaços que não têm domínio

Fonte do PT admite ser preciso adequar discurso para ampliar base entre eleitores evangélicos. Conservadores devem tentar maior aproximação com público não militante

Por Clarisse Souza e Letícia Fontes
Publicado em 18 de dezembro de 2023 | 06:00
 
 
 
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Em uma eleição municipal que tende a repetir a polarização entre esquerda e direita já observada nas gerais de 2022, buscar votos de não militantes pode ser o caminho para que os partidos ampliem suas bases para o pleito de 2024 em BH.

Além de empregar esforços para atrair os eleitores indecisos ou mais ao centro – que, a depender da circunstância, podem caminhar mais à direita ou à esquerda –, é dado como certo que as campanhas vão se empenhar em conquistar votos em território dominado por seus opositores mais diretos. Nesse cenário, o PT, por exemplo, já se articula para ampliar sua base entre eleitores evangélicos, público conhecido por se alinhar às ideologias da direita. 

No dia do lançamento da pré-candidatura de Rogério Correia (PT) à PBH, no último dia 12, interlocutores do partido admitiram à reportagem de O TEMPO que a aproximação com a comunidade evangélica está entre as estratégias para alavancar votos no próximo pleito municipal. É sabido, porém, que será preciso adaptar o discurso para alcançar essa fatia do eleitorado. “Nós temos que ter uma linguagem própria para chegar ao evangélico, e isso não é só aqui, em Belo Horizonte. É um eleitor que, muitas vezes, não vê o PT como primeira opção, mas com que nós queremos, sim, dialogar”, disse uma fonte do partido. No início do mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já havia sinalizado uma aproximação com evangélicos, durante conferência eleitoral da sigla.

Em contrapartida, partidos mais à direita miram territórios tradicionalmente dominados pela esquerda. Um interlocutor próximo do senador e pré-candidato Carlos Viana (Podemos-MG) explica que uma das estratégias do político deve ser a aproximação com os trabalhadores de classes mais baixas e moradores da periferia da capital, público que o reconhece devido ao período em que atuou como jornalista. 

Líder do recém-criado PRD, o deputado federal Fred Costa considera que o caminho para o partido crescer nas municipais de 2024 pode estar justamente na conquista do eleitor que não se identifica com as extremas direita e esquerda. O cientista político e professor do Ibmec Adriano Cerqueira concorda. “Principalmente em um cenário de segundo turno, é preciso buscar o eleitor moderado, que se diz sem partido ou aquele mais de centro. Em eleição polarizada, quem consegue esse volto é o que ganha”, avalia. (Com Letícia Fontes)

Eleitor evangélico exige moderação no discurso

Para se aproximar do eleitorado evangélico, partidos de esquerda podem ter que moderar o discurso, “buscando não se antagonizar de forma aberta com seus princípios e crenças”, avalia a cientista política Marta Mendes.

Na avaliação dela, um caminho para a aproximação é focar pautas que afetem diretamente a rotina do eleitor em seus municípios, como transporte coletivo, saúde, educação, lazer e cultura, “temas sobre os quais os Executivos municipais podem agir com políticas públicas que têm impactos diretos e tangíveis sobre a vida das pessoas”.

Já o cientista político e professor do Ibmec Adriano Cerqueira não vê grande possibilidade de a esquerda ampliar sua base no meio evangélico: “Para se aproximar desse eleitorado, ela teria que defender também as pautas mais conservadoras”. 

 

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