Entrevista

'Eu sou a favor de acabar com os partidos políticos'

Em entrevista à rádio Super Notícia FM, o deputado estadual Sargento Rodrigues defendeu o distritão e disse ser favorável ao fim dos partidos políticos.


Publicado em 18 de agosto de 2017 | 03:00
 
 
 
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Uma das polêmicas da reforma política é o modelo de voto chamado “distritão”. Como o senhor avalia essa proposta?

Entendo que o distritão seja a melhor alternativa. Temos um exemplo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) de deputados que receberam 57 mil votos e não foram eleitos. Ficaram de fora. Já outros, com 28 mil votos, estão lá exercendo o mandato. Essa conjugação de votos nominais e votos de legenda não é a melhor opção em termos de escolha. O cidadão hoje, e já há um bom tempo, não quer votar em partido político. Ele quer conhecer a pessoa que vai fazer um trabalho como seu representante, ele quer esse contato direto, quer cada vez mais conhecer o trabalho e aprofundar nas propostas do candidato. Portanto, o voto hoje caminha na direção de ser um voto nominal. Até porque os partidos estão desacreditados. Se a ALMG tem 77 cadeiras, os mais votados assumem essas vagas. Traria maior legitimidade.

Mas o senhor concorda com a forma que essa reforma política está sendo realizada, a toque de caixa?

Falta um debate mais alongado. De 2014 para cá, o conjunto da sociedade brasileira vive um momento dificílimo, com as ações da Lava Jato. Causou um estrago enorme aos políticos brasileiros, principalmente aos caciques dos grandes partidos. Esse clima fez com que os políticos deixassem de lado temas importantes que precisavam ser discutidos. E a reforma das reformas é a política. Ou seja, seria ótimo se nós conseguirmos uma reforma bem debatida, bem amarrada, o mais o próximo da vontade do cidadão e da realidade do país. Eu cheguei a tal ponto que sou a favor de acabar com os partidos políticos. Queria que o registro fosse feito direto na Justiça Eleitoral pelo candidato. Lá, ele receberia o número e a Justiça Eleitoral criaria uma fórmula para dividir o tempo de TV. Infelizmente, os partidos políticos são instrumentos para lavagem de dinheiro, criaram formas de fazer extorsão de pessoas. Muitas vezes, essa extorsão ocorria com a conivência de muita gente. Se formos ouvir a população, eu acredito que eles iriam pedir para acabar com os partidos políticos. As pessoas que estão à frente dos partidos foram afetadas pelos escândalos que são estarrecedores e lamentáveis. Nós, que buscamos fazer um trabalho sério, transparente, propositivo, para a sociedade, sofremos muito com isso. Porque o cidadão generaliza, mesmo quando mostramos que estamos presentes em todas as sessões no plenário, nas comissões e, obviamente, sem nenhum arranhão político na nossa imagem referente a todos esses escândalos que vêm acontecendo Brasil afora. Então, a reforma política é muito importante, mas não uma reforma política tocada às pressas, a toque de caixa. Teria de haver um debate, uma consulta popular, para que o Congresso pudesse votar uma proposta que fosse condizente com o que a população quer.

Por falar em partido, o senhor é filiado ao PDT, que prepara o lançamento de Ciro Gomes à Presidência. Ele sempre foi muito alinhado ao ex-presidente Lula, postura diferente da que o senhor adota aqui em Minas, sendo inclusive do grupo político mais ligado ao PSDB. Como o senhor vai lidar com essa contradição?

Hoje a gente fala que são pré-candidatos, mas ainda é muito cedo para antecipar qualquer coisa sobre a eleição do ano que vem. Muita água vai passar por debaixo da ponte até o fim do prazo de filiação. Mas, com certeza, eu não vou caminhar com um candidato que esteja mais próximo do PT, PCdoB, PSOL. Essa não é a minha linha. Não comungo com a forma de pensamento, com as ideologias partidárias, especialmente da chamada “esquerdopata”, da esquerda doentia. Eu caminho no sentido mais propositivo. O cidadão quer menos ideologia e mais ação.

O senhor poderia mudar de partido se o PDT insistir na candidatura de Ciro Gomes?

Mudança de partido, qualquer um pode fazer. Mas o cenário ainda é imprevisível. Nós não sabemos quem é o candidato. Agora, eu digo que não tenho nenhuma afeição pelo pré-candidato do PDT, o Ciro Gomes. Ainda mais que ele falou que sequestraria o Lula para o ex-presidente não ser preso. Eu falo na condição de advogado, o Lula precisa ser julgado, respeitado o devido processo legal, e, se for condenado, levado à prisão como qualquer cidadão. Temos que romper com esse modelo provinciano de que só vai para cadeia ladrão de galinha. Essa mudança já está ocorrendo: temos empresários e políticos presos, como o caso de Marcelo Odebrecht. O Lula não pode ser poupado. Se Lula realmente for condenado dentro do processo legal, ele deve ir para a cadeia. Não é uma pessoa que vem, diz que vai passar por cima da Justiça, sequestrar o Lula para que ele não seja preso. Isso me deixou com o pé atrás com o senhor Ciro Gomes.

Um dos pré-candidatos é o deputado Jair Bolsonaro (PSC) que tem tido apoio de grupos de militares. Ele seria uma boa opção?

Não tenho esse pensamento. Não compartilho com posições no estilo Bolsonaro. Ainda é cedo, nós temos que saber quais são as opções que teremos. O certo é que, com alguém com esse pensamento, não vou caminhar junto.

Trazendo para política local, o senhor é um dos principais opositores ao governador Fernando Pimentel (PT) na ALMG. Mesmo com o trabalho da oposição, o governo continua tendo uma base expressiva e aprovando os projetos de interesse com facilidade. Por quê?

O governo é péssimo. Com o estrago que esse cidadão (Fernando Pimentel) tem feito a Minas Gerais, levará muitas décadas para corrigir as falhas. O governador esta desmantelando todas as políticas sérias que os governos anteriores implantaram. Agora, a votação na ALMG é diferente. Eu escrevi um artigo – “Legislar ou prostituir” – que causou muito incômodo aos meus colegas da Casa. Infelizmente, troca-se apoio político por emenda parlamentar. Troca-se apoio político por obras na sua base eleitoral. Troca-se apoio político por cargos no governo. Isso sempre aconteceu em governos anteriores, eu quero deixar claro. Eu sou da tese de que o Poder Legislativo deveria ser muito mais independente. Mas isso não acontece por causa dessa esquizofrenia do Poder Legislativo. Por causa dessa forma de se prostituir, que é vender o seu voto depois que ganhou cargo. Quem mais sofre com isso é o cidadão. O governador dá um exemplo da forma mesquinha, atrasada que ele governa o Estado. Ele deixou de repassar recursos para 1.713 escolas de tempo integral, recursos da merenda escolar. Mas não falta dinheiro para comprar salmão, camarão, lagosta e até cerveja belga para as despensas do palácio do governador. O governador chegou e falou que herdou um Estado com um déficit de R$ 7 bilhões. Nós esperávamos que ele tivesse uma postura austera, de cuidado com o dinheiro público. Mas a postura foi contrária. Em 2015, ele gastou, com o fretamento de aviões, R$ 850 mil. Em 2016, R$ 1,07 milhão.

O deputado tenta abafar os problemas das gestões anteriores?

Quem herda uma dívida dessa poderia ter criado seis secretarias e centenas de cargos comissionado? Ele não deveria ter enxugado a máquina pública? A Cemig tem um andar que vai cair uma hora dessas, de tanto cargo comissionado que ele colocou lá. O mesmo acontece na Codemig, na Copasa. Enquanto isso, falta dinheiro nas coisas mais necessárias. Um exemplo é a Santa Casa, que deixou de receber R$ 21 milhões do governo do Estado e fechou mais de 400 leitos. Ou seja, prejudicando o atendimento ao cidadão mais humilde. Enquanto isso, o governador vai aplicar R$ 600 milhões para asfaltamento no interior do Estado. Essas críticas são feitas com argumentos. Agora, eu não vou nem falar da situação do governador, com as denúncias feitas pelo Benedito de Oliveira, o Bené, em sua delação premiada. São estarrecedoras. Nós temos, sentado na cadeira de governador, um criminoso contumaz chamado Fernando Damata Pimentel.

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