CPI da Cemig

Ex-presidente da Light diz que venda da Renova por R$ 1 'não foi melhor solução'

Luis Paroli Santos declarou que havia outras opções para lidar com problemas enfrentados pela empresa de energia eólica

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 26 de outubro de 2021 | 12:31
 
 
 
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O ex-presidente da Light, Luis Paroli Santos, disse nesta terça-feira (26) que a venda da participação da empresa na Renova por R$ 1 no final de 2019 não era a melhor solução e que havia outras opções para resolver os problemas financeiros da companhia.

Paroli prestou depoimento à CPI da Cemig nesta terça-feira (26). Ele foi presidente da Light, empresa que detém a concessão de energia em municípios do Rio de Janeiro, entre 2017 e abril de 2019. 

A Cemig era a controladora da Light com 49,9% das ações, mas vendeu 27,3% em julho de 2019, e os 22,6% restantes em janeiro de 2021.

Em novembro de 2019, sete meses depois de Paroli deixar a presidência da Light, a empresa fluminense, ainda com participação da Cemig, vendeu por R$ 1 os 17,17% de ações que detinha na Renova, empresa que atua no ramo de energia eólica, a um fundo de investimentos.

Dois dias depois da venda, a Renova entrou com um pedido de recuperação judicial por não conseguir pagar as dívidas no valor de R$ 3 bilhões.

Além da participação indireta que tinha via Light, a Cemig ainda detém 27% das ações com direito a voto na Renova e integra o bloco de controle da empresa. A estatal é a maior acionista individual, segundo o site da Renova.

Os deputados mostraram a Paroli durante o depoimento uma apresentação interna de slides da Cemig, datada de janeiro de 2019, já no governo Zema mas meses antes da venda e do pedido de recuperação judicial, em que são apresentadas sete alternativas para tentar solucionar os problemas financeiros enfrentados pela Renova, como venda de ativos e refinanciamentos da dívida. 

A venda por R$ 1 não era uma das opções. Perguntado se essa seria a melhor solução, Paroli afirmou que não teve acesso aos dados da Renova no momento da venda, já que não era mais presidente da empresa quando a operação financeira ocorreu, mas que não concordava com o caminho adotado.

“No momento em que eu dirigi a Light, eu não entendia essa solução [venda da participação na Renova por R$ 1] como a melhor para a empresa. Tanto que eu não a exerci e não a coloquei em prática”, respondeu.

“A Renova tinha várias opções, todas tinham prós e contras, mas tinha opções. Tanto que a Renova existe até hoje e as ações estão na Bolsa”, disse Paroli, que informou que atualmente cada ação da Renova vale R$ 8,33 e o valor de capitalização na Bolsa de Valores é de R$ 480 milhões.

Ele declarou ainda que, por ter indicado a maioria dos conselheiros da Light, a Cemig poderia, em tese, não aprovar a venda da participação da empresa fluminense por R$ 1 caso não concordasse com a operação.

Procurada, a Cemig disse que não vendeu sua participação na Renova e que quem efetuou operação nesse sentido foi a Light, na qual teve participação até janeiro de 2021.

A estatal negou que tivesse poderes para impedir a venda da participação da Light na Renova por R$ 1 por meio de seus conselheiros na empresa.

"Quando da referida venda, a Cemig tinha três dos nove representantes no Conselho de Administração (CA) da Light, entre eles o Sr. Cledorvino Belini. Em atendimento às boas práticas de governança, eles se abstiveram de votar após se declararem impedidos por conflito de interesses. Isso porque, após a votação no CA da Light, um eventual direito de preferência da Cemig teria que ser votado no CA da própria Cemig. Essa razão foi exposta e documentada em reunião na Light", disse a Cemig em nota.

Paroli não foi o único a não concordar com a venda da Renova por R$ 1. O ex-presidente da Cemig, Cledorvino Belini, relatou à CPI que renunciou ao cargo de conselheiro da Light depois do Conselho de Administração ter aprovado a operação financeira. Ele disse que se sentiu desconfortável com a decisão.

A CPI da Cemig aprovou um requerimento para que a Light envie à comissão a cópia da ata da reunião que aprovou a venda da participação na Renova, assim como uma lista dos conselheiros responsáveis pela decisão e eventuais manifestações contrárias à operação.

A Light foi procurada, mas ainda não se posicionou. Esta matéria será atualizada com a resposta.

Deputados criticam operação e, como ironia, fazem “leilão” da Renova

A venda da participação da Light na Renova por R$ 1 recebeu críticas da maior parte dos parlamentares que integram a CPI da Cemig. Vice-presidente da comissão, o oposicionista Professor Cleiton (PSB) disse que é preciso entender o que aconteceu.

“Nos intriga a venda da Renova por um real. Não entra na minha cabeça. A Renova tinha salvação?”, questionou. “Temos que chegar aqui à conclusão de quem fez essa opção pela venda. O ex-presidente Belini disse que ele não concordou com isso”, acrescentou Cleiton.

O relator da CPI, Sávio Souza Cruz (MDB), disse que a responsabilidade pela negociação, em última instância, é dos conselheiros da Light. “Mas [a responsabilidade] tem que ser imputada a quem tinha competência de indicar os conselheiros comprometidos com os interesses da empresa e preferiu indicar pessoas, entre aspas, do mercado”, declarou, em referência à Cemig.

Em um momento de ironia, o relator fez uma proposta para comprar a Renova. “Quero falar aos compradores: eu pago 100% de lucro. Pago dois reais à vista. Pode me procurar, estou disponível aqui na Assembleia. Um grande negócio, estou publicamente propondo aos compradores da Renova. Pago 100% de lucro, a inflação não chegou a isso. Não tem melhor condição. Se quiser pago em espécie, tenho na carteira uma nota de dois reais. Senhores compradores, vocês compraram pelo preço justo de um real e têm a chance de ter 100% de lucro”, disse Sávio Souza Cruz (MDB).

Em seguida, o presidente da comissão, Cássio Soares (PSD) também ironizou. “Se for leilão, eu estou disposto a pagar cinco reais. 500% de lucro”. “Eu pago 13 reais”, disse a deputada Beatriz Cerqueira (PT).

Zé Guilherme defende venda da Light

O deputado Zé Guilherme (PP), integrante da base de governo, lembrou que Luis Paroli foi indicado para a presidência da Light na gestão de Fernando Pimentel (PT) , o que o deputado considerou natural pelo fato do petista ter vencido as eleições. “É assim que funciona”, afirmou. 

Durante a reunião, Paroli disse que é filiado ao PT desde o final dos anos 90, mas que não participa das atividades partidárias.

Zé Guilherme justificou a decisão da Cemig de se desfazer das ações na Light. Segundo ele, a Cemig arrecadou R$ 2,2 bilhões com a venda da participação na empresa fluminense, mais R$ 636 milhões em créditos tributários e deixou de gastar R$ 1,6 bilhão em aportes que teria que fazer na Light, totalizando R$ 4,4 bilhões de impacto positivo no caixa da estatal.

“Essa venda representa o espírito atual da Cemig: focar em Minas Gerais. A Cemig não deve e não pode gastar seu tempo com o Rio de Janeiro ou onde quer que seja. A Cemig tem que estar 100% focada em melhor atender aos clientes mineiros”, afirmou.

"A Cemig parou de queimar no Rio de Janeiro para botar em Minas Gerais. É sempre difícil reconhecer que foi feito um mau negócio: é exatamente isso que é a Light. Um péssimo negócio para a Cemig”, acrescentou o parlamentar.

Matéria atualizada às 13h36 para incluir posicionamento da Cemig e informações sobre a participação acionária da empresa na Renova

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