Crise sem fim.

Família quer delação de Fred

Prisão do primo de Aécio causa revolta entre parentes, que atacam duramente o senador

Por Lucas Ragazzi
Publicado em 23 de maio de 2017 | 03:00
 
 
 
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A prisão de Frederico Pacheco de Medeiros, na última quinta-feira, durante a operação Patmos, da Polícia Federal, abalou a família do empresário, primo do senador afastado Aécio Neves (PSDB). Em conversa com a reportagem, um parente revelou que o ex-desembargador Lauro Pacheco de Medeiros Júnior, pai de Frederico, está “no chão” e não para de culpar o senador tucano pelo acontecimento.

“O Laurinho está muito nervoso com o Aécio e não para de xingar. A família não tem dúvidas de que o Fred só foi parar nesta situação por culpa do Aécio, então é um sentimento de revolta, de ódio”, disse.

O familiar confirmou que há uma mobilização para que Fred auxilie e ajude a Polícia Federal e o Ministério Público Federal a esclarecer as denúncias. “Fred é uma pessoa do bem e quis ajudar um parente. Pode ter certeza que ele irá, sim, prestar ajuda no que for necessário para auxiliar as investigações”.

O TEMPO tentou contato com o ex-desembargador Lauro Pacheco, mas o jurista decidiu não mais se pronunciar. Ele publicou um desabafo no Facebook no domingo. No texto, dirigido ao tucano, o magistrado ressalta que “falta-lhe, Aécio, qualidade moral e intelectual para o exercício do cargo que disputou de Presidente da República”. Ele diz que foi a lealdade de seu filho ao primo que o levou à cadeia.

“Ele (Frederico) tem um ótimo caráter, ao contrário de você (Aécio), que acaba de demonstrar, não ter, usando uma expressão de seu avô Tancredo Neves, ‘um mínimo de cerimônia com os escrúpulos’. Vejo agora, Aécio, que você não faz jus à memória de seu saudoso pai o deputado Aécio Cunha”, diz um trecho do desabafo de Lauro Pacheco.

“Para o bem do Brasil, sua carreira política está encerrada”, concluiu o desembargador.

Procurado no mesmo dia pelo jornal O Globo, ele confirmou a autoria do texto. “Não quero dar entrevista, mas confirmo que o texto é meu. Está lançado. Compartilhei no perfil da minha mulher porque não sei mexer nessas coisas. Ele (Frederico) admirava demais o Aécio. Agora, meu filho está preso, tadinho”, disse Lauro Pacheco.

Preso na última quinta-feira após ser flagrado pela Lava Jato carregando malas de dinheiro da gigante JBS para Aécio, Frederico Pacheco é primo distante do tucano, mas pertencia ao círculo íntimo dos Neves. Nos anos 90, ele era sócio do então marido de Andrea Neves em uma firma de comunicação, relação que se fortaleceu quando virou secretário parlamentar na Câmara dos Deputados presidida por Aécio (2001 e 2002).

O desembargador reforçou, por telefone, que não é tio do senador afastado, conforme foi dito nas redes sociais após o texto viralizar. “Não sou tio do Aécio. Acontece que fui casado com falecida prima dele”, explicou o pai de Frederico.


Abuso de autoridade

Conversa complica Gilmar

A interceptação telefônica que mostra Gilmar Mendes tratando das negociações para a votação da lei do abuso de autoridade com o senador Aécio Neves (PSDB) complicou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na conversa, Aécio, que é investigado em pelo menos um inquérito nas mãos de Gilmar, pede que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ligue para o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA). O objetivo era convencer o colega a votar a favor do projeto, que era alvo de críticas de entidades que defendem as investigações, incluindo associações de procuradores e juízes federais. Gilmar concorda.

A conversa foi gravada na manhã de 26 de abril, dia em que o Senado aprovou, na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) e no plenário, o projeto que modifica a lei.

A autorização para a gravação dos telefones de Aécio partiu do ministro Edson Fachin, do STF, a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR).

Aécio Neves diz a seu interlocutor para ligar para o senador Flexa e dizer que acompanhe sua posição. Gilmar concorda e diz que já havia falado com (Antonio) Anastasia e Tasso (Jereissati), outros tucanos que estavam na comissão. O ministro se manifestou por meio de nota de sua assessoria.

“Desde de 2009 o ministro Gilmar Mendes sempre defendeu publicamente o projeto de lei de abuso de autoridade, em palestras, seminários, artigos e entrevistas, não havendo, no áudio revelado, nada de diferente de sua atuação pública. Os encontros e conversas mantidas pelo ministro Gilmar Mendes são públicos e institucionais.”


Na cadeia

Isolada, Andrea rejeita banho de sol

Presa desde a última quinta-feira, a ex-presidente do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), Andrea Neves, irmã do senador afastado Aécio Neves (PSDB), passou o fim de semana sem sair de sua cela na Penitenciária Estevão Pinto, na região Leste de Belo Horizonte. Tentando evitar ao máximo contato com outras presas, ela recusou, por três vezes, ir para o pátio da unidade prisional para tomar o banho de sol e se manteve em silêncio, apesar de inquieta.

Ainda deprimida, Andrea tem chorado menos do que nos dois primeiros dias de cadeia. No sábado, recebeu as visitas de seu marido, o ex-presidente do Sebrae Luiz Márcio Pereira, e de seus advogados.

Na manhã dessa segunda-feira (22), ela solicitou, à administração da Estevão Pinto, livros e revistas para ler enquanto está na cela. A solicitação foi aceita e Andrea pegou quatro publicações da biblioteca da cadeia – a maioria romances brasileiros.

Segundo testemunhas, ela tem se alimentado bem, não recusando os pratos oferecidos durante almoço e janta. Almoçou arroz, feijão, bife e salada no sábado e no domingo, sempre acompanhada de um suco natural. Entre as outras detentas do local, a piada é que a Estevão Pinto se tornou “chique” e, por isso, teriam que sair mais “arrumadas” de suas celas. (Lucas Ragazzi)

Futuro

Alternativa. O grupo que sempre esteve ao lado de Aécio Neves em Minas agora busca emplacar como candidato ao governo alguém que seja visto como o novo e esteja descolado do senador.


“Não cometi nenhum crime”

BRASÍLIA. O senador afastado afirmou, em artigo publicado na “Folha de S. Paulo” nessa segunda-feira (22), que não cometeu nenhum crime e atacou o delator Joesley Batista. O tucano afirmou no texto que, nos últimos dias, teve a vida virada pelo avesso, com a prisão da irmã Andrea. No artigo, o tucano disse que, ao se referir a autoridades, usou um vocabulário que não costuma usar e disse que já se desculpou pessoalmente com as pessoas.

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