Eleições

Federação é chance para siglas cumprirem cláusula de barreira

União de legendas apresenta 'desigualdade de mando', mas retorno pode compensar diferenças. Partidos maiores possuem mais representantes em órgão de controle

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 18 de julho de 2022 | 05:00
 
 
 
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A discordância entre PSDB e Cidadania sobre a indicação do jornalista Eduardo Costa (Cidadania) para ser o vice na chapa do governador Romeu Zema (Novo) demonstra uma característica presente em todas as três federações partidárias formadas para disputar a eleição de 2022: a predominância da maior sigla da federação sobre as demais. Apesar da “desigualdade de mando”, a união das legendas aumenta as chances de superar a cláusula de barreira – requisito legal para continuarem recebendo recursos do Fundo Partidário e utilizarem tempo de TV.

O PSDB tem 70% dos membros do colegiado nacional, órgão que governa a federação, enquanto o Cidadania tem 30%. A divisão ocorreu com base no número de votos que cada partido teve para deputado federal em 2018. 

Na prática, a proporção significa que os tucanos, sozinhos, são capazes de impor qual será o caminho a ser seguido pela federação. Em Minas, esse poder se traduz no fato de que o PSDB mantém a candidatura de Marcus Pestana (PSDB) ao governo de Minas, mesmo com o Cidadania desejando indicar Eduardo Costa para ser o vice de Romeu Zema.

Presidente do PSDB em Minas, Paulo Abi-Ackel afirma que a relação com o Cidadania é amistosa. “O fato de ter 30% é o menos importante. Poderia, sim, ser alguém do Cidadania, mas o convite ao Eduardo Costa chegou atrasado. No caso, já havia uma decisão muito anterior, de 30 dias antes, a favor do Pestana. Não sei dizer se foi maquiavelismo ou falta de atenção do Partido Novo”, afirmou o dirigente partidário.

No auge da divergência com o Cidadania, Abi-Ackel ressaltou que o partido aliado teria o “bônus” de superar a cláusula de barreira, mas também o ônus de se submeter às decisões majoritárias da federação. “É como um casamento com prazo mínimo de quatro anos. Não dá pra você querer ter a segurança do casamento e ao mesmo tempo a liberdade que a solteirice permite ter”, disse o tucano em junho.

Para continuarem tendo acesso ao Fundo Partidário e à propaganda gratuita de rádio e televisão, que são essenciais para continuarem existindo, os partidos terão que eleger em outubro pelo menos 11 deputados federais espalhados por no mínimo nove Estados ou alcançar 2% dos votos válidos. Neste último caso, também é preciso que as legendas sejam votadas em pelo menos nove Estados, com pelo menos 1% dos votos em cada um deles.

Em 2018, o Cidadania teve 1,62% dos votos válidos. O resultado superou a cláusula de barreira daquele ano, que era de 1,5%, mas não seria suficiente para a eleição atual. Na federação com o PSDB, os resultados eleitorais dos dois partidos são somados, o que aumenta as chances de cumprir as exigências da cláusula.

Presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire afirma que a federação com o PSDB ocorreu por causa de afinidades ideológicas. Ele lembra que os dois partidos são aliados nacionalmente há pelo menos dez anos, e por mais tempo que isso em Minas e em São Paulo, os dois principais colégios eleitorais. 

“Portanto, nada mais natural que discutíssemos, em um momento que se coloca a possibilidade de federação, fazermos com o PSDB. Se tivermos ganhos eleitorais, melhor”, afirmou ele. “Não estamos aqui fazendo uma federação por questões menores de arranjos eleitorais. Se fosse só por isso, podia esperar a eleição, e, se não conseguisse superar a cláusula de barreira, faríamos uma fusão. [...]Estamos tentando construir uma alternativa política para o Brasil”, declarou o presidente do Cidadania.

PT tem maioria em aliança com PCdoB e PV

A predominância de um único partido também se repete nas federações de esquerda. O PT tem 70% das cadeiras na federação formada junto ao PCdoB e ao PV, que têm 15% cada um. 

Dos 18 membros da comissão executiva nacional da federação, 12 são petistas, três comunistas, e três, verdes. 

O PCdoB não superou a cláusula de barreira nas últimas eleições. Apesar disso, o partido permanece com direito ao tempo de TV e ao Fundo Partidário porque houve uma fusão com o PPL após o pleito. 
Juntos, os partidos tiveram 1,72% dos votos válidos em 2018 e elegeram dez deputados federais, menos do que as exigências para as eleições deste ano.

“Os partidos, ao estarem na federação, não têm mais a preocupação com a cláusula de barreira”, disse o presidente estadual do PCdoB, Wadson Ribeiro. “Com certeza vamos ter mais de 2%, assim como eleger mais de 11 deputados este ano”, completou Ribeiro.

As regras desta federação em específico determinam que as decisões serão tomadas por 75% dos votos, o que significa que o PT sempre precisará do apoio de um dos dois outros partidos. “O estatuto estimula que a federação seja um espaço de concertação política no qual não se aplica maiorias absoluta de um único membro”, disse Ribeiro.

Assim como acontece no caso da federação entre PSDB e Cidadania, PT, PCdoB e PV mantém a autonomia sobre como gastar os recursos do Fundo Partidário e Fundo Eleitoral, assim como sobre a forma de utilização do tempo de propaganda eleitoral.

PSOL e Rede vão rediscutir euilíbrio de forças

O PSOL, que superou a cláusula de barreira em 2018, também tem 70% dos cargos no órgão nacional da federação que compõe com a Rede, que tem 30% e não conseguiu ultrapassar a exigência no último pleito. 

A proporção das cadeiras dos dois partidos será recalculada em fevereiro de 2023, quando serão levados em conta os resultados da eleição para deputado federal de 2022. 

A ideia é que a federação reflita o tamanho real de cada sigla, o que servirá de base para a definição das chapas para as eleições municipais de 2024. No caso da Rede e do PSOL, as decisões são tomadas por maioria absoluta dos membros.

Diferente do PSDB e do Cidadania, não há conflito entre os partidos em Minas Gerais: o estatuto determina que, no Estado, o PSOL vai lançar candidato próprio a governador, no caso Lorene Figueiredo (PSOL), enquanto a Rede tem autorização para apoiar a candidatura de Alexandre Kalil (PSD).

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