Gabriel Azevedo

2021 em Tóquio

Medalha de ouro para o urbanismo


Publicado em 13 de agosto de 2021 | 03:00
 
 
 
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A realização da Olimpíada 2020 de Tóquio, iniciada em 23 de julho e encerrada em 6 de agosto, despertou um grande interesse para além do desempenho dos atletas e da quebra de recordes importantes. Adiados em razão da primeira onda de Covid-19 do ano passado, os Jogos Olímpicos foram uma oportunidade para conhecer em detalhes como a maior metrópole do planeta se tornou referência mundial em urbanismo.

Os bons exemplos de urbanismo para uma cidade com 37 milhões de habitantes são um feito extraordinário até agora inigualável. Entretanto, devemos lembrar que a capital do Japão foi praticamente destruída pelos bombardeios aliados na Segunda Guerra Mundial e transformada em repositório de soluções inteligentes e sustentáveis em cerca de sete décadas. E o resultado desse esforço pós-guerra é visível praticamente em todo o perímetro urbano da metrópole oriental.

E quais são as principais soluções que tornaram Tóquio a Meca do urbanismo? Primeiro, deve-se compreender que os bons resultados são frutos de ações multidisciplinares de mobilidade, ocupação imobiliária consciente, preservação ambiental e sustentabilidade, entre outros. Um dos destaques são os chamados espaços compartilhados. É uma solução simples: a calçada e a pista de rolamentos são construídas no mesmo nível e na mesma pavimentação. O resultado é a maior fluidez para o deslocamento de pedestres, carros, bicicletas e outros veículos. E, embora pareça arriscado, as ruas japonesas são consideradas muito seguranças, com baixo índice de acidentes.

As obras viárias seguem os princípios da acessibilidade dos pedestres e integração com a vida urbana. Exemplo disso são os viadutos úteis. Enquanto no Brasil os viadutos são grandes obras de concreto que afastam os pedestres. Em Tóquio a proposta é que essas obras de engenharia sejam multifuncionais. A parte de baixo dos viadutos é ocupada por pontos comerciais. Isso assegura a circulação das pessoas e evita a degradação do entorno.

O Japão é um arquipélago, não há terra suficiente para a construção de grandes imóveis residenciais. A escassez de terrenos é acentuada, especialmente na capital. Enquanto no Brasil a legislação só autoriza loteamentos com terrenos com 125 m², no Japão a média é de 112 m², havendo ainda áreas de 100 m² e de até 60 m². Com terrenos menores, a oferta de moradia foi ampliada, justamente o contrário da realidade no Brasil, onde os terrenos são caros e há um déficit habitacional de cerca de 5,9 milhões de unidades residenciais.

A capital japonesa também não adota exclusivamente o critério de separação entre zonas residenciais e comerciais. Essa liberdade cria uma ampla diversidade de atividades na metrópole. A solução encontrada foi a liberação para o funcionamento de atividades comerciais e de serviços nas áreas residenciais. Ainda é possível a construção de imóveis residenciais em zonas comerciais e até industriais. Políticas de subsídio à moradia também são amplas no país oriental

Completam o estado da arte do urbanismo de Tóquio maciços investimentos em infraestrutura de qualidade e no aumento da acessibilidade e mobilidade. O metrô, um dos mais completos do mundo, começou a ser implantado há cem anos e passa por modernização constante. O problema de inundações foi resolvido com a construção de uma rede subterrânea de drenagem de água. Na competição para tornar as cidades cada vez mais inclusivas, democráticas e sustentáveis, os japoneses são campeões mundiais.

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