Gabriel Azevedo

As caixas-pretas da BHTrans estão abertas. E agora?

O contrato com as empresas de ônibus precisa ser anulado


Publicado em 24 de setembro de 2021 | 03:00
 
 
 
normal

A palavra “caixa-preta” é um termo coloquial que sugere um segredo que representa grande ameaça se for revelado. Essa denominação serve para definir um acontecimento em Belo Horizonte nesta semana. Na última quarta-feira, 22 de setembro de 2021, oito caixas estavam no centro de uma sala repleta de pessoas que as observavam.

Em 2016, fui eleito vereador. Alexandre Kalil foi eleito prefeito. Ambos prometemos abrir a “caixa-preta” da BHTrans. Eu não me esqueci. Passei quatro anos até 2020 tentando reunir 14 assinaturas para instaurar uma CPI na Câmara Municipal, sem sucesso. O pleito de 2020 elegeu 24 novos mandatários, que renovaram o Parlamento, e a CPI foi aberta. Tenho presidido seus trabalhos, que completaram 90 dias em 15 de setembro deste ano, quando prorrogamos nossa atuação por mais 30 dias. E por qual razão? A principal documentação que solicitamos à prefeitura… sumiu. E reapareceu!

Um sujeito de nome Adilson Elpídio, servidor há décadas na BHTrans, que já esteve na CPI e mentiu na nossa cara, resolveu, depois de dizer que não sabia onde estava a papelada, buscar tudo numa empresa de armazenagem e entregar. Virou caso de polícia. Na expressão popular, deu BO!

Diante dos nossos prazos, dialogamos com Joaquim Francisco Neto e Silva, chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, para pedir apoio. Ele prometeu uma força-tarefa. Precisamos de uma perícia célere e da digitalização para disponibilização dessa documentação o mais breve possível. Queremos aprovar um relatório, principal fruto de uma CPI, com todo embasamento técnico possível, para solicitar o indiciamento e a prisão de todos que merecem ser indiciados e presos nessa história. A CPI só acaba quando termina.

O prefeito, aconselhado pelo seu secretário de Governo, Adalclever Lopes, resolveu suspender o Comitê de Repactuação do Contrato dos Ônibus e Reformulação de Tarifas do Transporte de Belo Horizonte. Esse outro colegiado foi criado para buscar soluções para esse grave problema. Assim, a dupla acha que está tudo resolvido no sentido de pressionar a CPI a encerrar seus trabalhos. Se a prefeitura acha que chantageia a Câmara Municipal, devo informar que quem sai prejudicada é a cidade. Esse contrato precisa ser anulado.

Enquanto isso, há uma série de ações que devem ser tomadas no âmbito de bilhetagem, infraestrutura, tecnologia, entre outros temas, de forma imediata. Toda essa discussão foi suspensa porque Adalclever Lopes acha que o prefeito precisa fazer sua pré-campanha ao governo viajando por Minas Gerais sem ser incomodado pela imprensa com perguntas sobre a caixa-preta. Em vez de governando para quem precisa, há quem esteja governando para os empresários de ônibus? No dia 17 de dezembro de 2018, o prefeito Alexandre Kalil utilizou seu Twitter para escrever o seguinte: “Se as empresas de ônibus fazem o que querem, vão receber o troco. Belo Horizonte tem governo”. Eu pergunto: tem?

No dia 15 de dezembro de 2017, o prefeito Alexandre Kalil utilizou seu Twitter para escrever o seguinte: “Aumento de 10,5% na tarifa? Calma, gente. Belo Horizonte tem prefeito”. Eu pergunto: tem? Se tem governo… Se tem prefeito… eu aguardo a colaboração com a CPI e o fim da suspensão do comitê. Esse é o papel de um governo. Este é o papel de um prefeito. O resto é politicagem de quem xinga vereador na imprensa e abaixa a cabeça para empresários de ônibus no escurinho da prefeitura. Pronto, falei.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!