Gabriel Azevedo

É nosso dever ajudar o Líbano

As profundas ligações dos brasileiros com o país


Publicado em 14 de agosto de 2020 | 03:00
 
 
 
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A explosão de 2.750 toneladas de nitrato de amônia em um armazém no porto de Beirute, capital do Líbano, causou uma tragédia que devastou a cidade, de imenso valor histórico e cultural. O número de mortes já chegou a 220, mas ainda há muitos desaparecidos. Praticamente toda a população foi atingida e a infraestrutura de Beirute foi arrasada.

Por laços familiares e também por conhecer a importância da presença libanesa no Brasil e, mais especificamente, em Belo Horizonte, entendo que todos os esforços devem ser feitos para auxiliar na reconstrução de Beirute. É mais que solidariedade. É compromisso do qual não podemos nos omitir, em razão dessa forte proximidade entre os dois povos.

Essa relação de amizade se iniciou em 1876, quando o imperador dom Pedro II e sua comitiva visitaram o Império Turco-Otomano, onde hoje se localiza o território libanês. Em carta a um amigo, comentando a viagem, o imperador brasileiro definiu a nação como “sentinela da Terra Santa”. O monarca fez mais: abriu as fronteiras do Brasil para a migração dos cidadãos turco-otomanos.

Entre as pessoas que deixaram a nação turco-otomana para se estabeleceren no Brasil estava meu bisavô, Miguel Gabriel Saliba, que veio para Minas Gerais, onde se tornou pai de Gabriel Miguel Saliba, meu avô, nascido em Paracatu, em 1906. Em homenagem a ele recebi meu nome. Meu pai, Gilson Marques de Azevedo, ficou com o sobrenome da minha avó, Generosa Marques de Azevedo, mas basta olhar uma foto dele para ver que os traços libaneses são fáceis de identificar.

Papai morreu há algumas semanas vitimado por um câncer no pulmão. Não tive tempo de realizar uma das suas vontades: a cidadania libanesa, cujos trâmites estavam em curso, e uma viagem para a província de Monte Líbano, de onde veio o meu bisavô.

Como vereador, não posso menosprezar a importância da participação libanesa no desenvolvimento da capital mineira, especialmente no comércio. A rua dos Caetés era conhecida como a rua dos libaneses e sírios, tamanha a presença dos imigrantes dessas nações no local.

Ainda há lojas fundadas no começo do século passado e que se mantêm em funcionamento, com os herdeiros mantendo a tradição empreendedora dos antepassados.

A influência dos libaneses em Belo Horizonte vai além do varejo. A culinária, a participação na fundação de clubes esportivos e de lazer, a expansão das atividades na construção civil, tudo isso traz a marca dos imigrantes que chegaram à capital poucos anos depois da inauguração. Os sobrenomes aí estão para nos lembrar disso. E só não cito para não incorrer na injustiça de esquecer algum, o que seria imperdoável. Todos contribuíram e contribuem com nossa cidade.

Gostaria de destacar a decisão acertada do presidente Jair Bolsonaro ao escolher o ex-presidente Michel Temer como chefe da missão oficial de ajuda do Brasil ao Líbano. Por mais restrições que se tenha ao nome do político, e eu as tenho, em profusão, é preciso reconhecer que ele é descendente de libaneses e um ex-chefe de Estado. Sua escolha sinaliza que o governo brasileiro realmente valoriza e apoia o Líbano nessa situação extrema. Que ele seja exitoso no fortalecimento das nossas relações bilaterais.

PS: Deixo aqui o desejo de melhoras ao meu amigo Everaldo da Cunha, que trabalha na Embaixada Brasileira no Líbano, em Beirute, que teve seu apartamento afetado pela explosão. Ele sofreu fraturas nas costelas, mas já está em processo de recuperação e segue trabalhando pelas nossas importantes relações diplomáticas naquela nação.

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