Opinião

Os bons frutos da moderação

Eleitores optaram por quem não ganha a disputa no grito


Publicado em 04 de dezembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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O segundo turno das eleições municipais, no último domingo, transmitiu um recado claro da sociedade brasileira aos políticos: não há mais espaço para populismo. Os eleitores optaram por quem não ganha a disputa no grito e foca a solução dos graves problemas que o país enfrenta. A leitura dos resultados do segundo turno demonstra que o bolsonarismo e o lulismo foram os grandes derrotados na disputa.

No primeiro turno, em razão das eleições proporcionais para vereador, essa realidade ficou em segundo plano. Entretanto, a votação para cargos majoritários, no dia 29, tornou o cenário transparente. Os populistas não representam os interesses da sociedade e, por esta razão, foram rechaçados. Em resumo, os populistas foram devolvidos a seus nichos minoritários.

Necessário lembrar que o espaço de debate público e democrático foi usurpado nos últimos anos pelas ideias populistas. O resultado das urnas do último domingo de novembro tem o dom de contribuir para recolocar o centrismo e o diálogo em seus lugares. É óbvio que trata-se apenas de um primeiro passo para escantear a polarização extremada que tão mal fez e faz à política brasileira. Ainda há muito a ser conquistado, mas a voz das urnas do último domingo soou forte e se fez ouvir.

A derrota dos populistas é mais que bem-vinda. É oportuna. A situação das finanças dos municípios ainda é muito delicada. Neste ano, a liberação de recursos federais para combate à pandemia da Covid-19, contribuiu para a melhoria dos indicadores fiscais no país. Entretanto, para 2021, sem esse socorro, a previsão é de aumento das despesas, sem que haja incremento da arrecadação.

A análise da situação financeira dos municípios é do pesquisador Marcos Mendes, associado ao Instituto de Ensino Insper, divulgada na última semana de novembro. A recomendação aos gestores municipais que assumirão o mandato no primeiro dia de 2021 é de cautela fiscal, para evitar um descontrole financeiro ainda maior. Nesse cenário, o pior que poderia acontecer seria a eleição de gestores municipais sem condições de dialogar de forma republicana com a esfera federal, o governo estadual e o Poder Legislativo municipal.

Uma semana após a apuração dos votos, o que se nota é a diminuição do tom da discussão política no Brasil, embora representantes dos polos ideológicos insistam em aumentar a temperatura e reacender a fogueira da guerra. E assim farão até as eleições presidenciais de 2022. Entretanto, creio eu, já sem a força motriz da polarização que os alimentou desde 2013. Vão gritar, sapatear e espernear, mas a sociedade brasileira sinalizou que não está disposta a embarcar nesta canoa furada.

Assim deve ser. Os gestores municipais, responsáveis pelo atendimento das necessidades mais prementes da população – saúde, educação, mobilidade e desenvolvimento –, têm que direcionar seus esforços para melhorar e ampliar estes serviços. O objetivo é melhorar as cidades que vão administrar. As pessoas são o foco, prioridade que não pode ser esquecida. E, com um cenário político menos tóxico, com o bom senso retomando sua primazia, o difícil trabalho que terão a partir do ano que vem se torna um pouco menos árduo. A política é para políticos.

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