Gabriel Azevedo

Os olhos da cidade precisam ficar abertos

Apoio ao pequeno empreendedor e vitalidade urbana


Publicado em 04 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Como fazer para incrementar a recuperação da economia urbana, em especial a saúde financeira dos pequenos empreendedores, os mais atingidos pelos efeitos da pandemia de Covid-19? Apoiar empresários de pequeno porte e contribuir para a preservação dos empregos gerados por esse segmento é fundamental para manter “os olhos da cidade abertos”, como definiu a urbanista Jane Jacobs em “Morte e Vida de Grandes Cidades”, sua obra mais importante.

Jacobs afirma que o fechamento de lojas, livrarias, cafés ou qualquer outro tipo de empreendimento equivale a fechar os olhos de determinada rua, quarteirão ou bairro e, por consequência, de uma cidade. De acordo com seu ponto de vista, quando uma porta é cerrada, o risco de decadência aumenta. Na sequência, outra porta pode se fechar, o movimento de pessoas diminui, a rua fica erma, abre-se espaço para a violência urbana, a saída de moradores e a desvalorização imobiliária, entre outros problemas.

Em síntese, o raciocínio da urbanista canadense cabe como uma luva na análise dos graves efeitos da crise socioeconômica causada pela Covid-19. A pandemia obrigou um número incalculável de pequenos empreendedores a suspender suas atividades, “a fechar os olhos” que mantinham abertos. Por isso, é imprescindível oferecer condições para que essas empresas permaneçam em atividade, assegurem os empregos dos colaboradores e evitem a degradação urbana das áreas onde estão instaladas.

Essa é a proposta do Estímulo 2020, iniciativa idealizada por Eduardo Mufarej e abraçada por um grupo de 30 empresários, executivos e organizações do terceiro setor. Os objetivos do Estímulo 2020 são oferecer financiamentos a baixo custo para que pequenos empreendedores superem a fase mais aguda da crise atual e disponibilizar orientações para que as empresas que receberam o financiamento possam traçar planos de recuperação e crescimento de forma segura, com redução de riscos e danos.

Para entender melhor a logística da iniciativa, conversei com Eduardo Mufarej e com alguns empreendedores já atendidos pelo programa. O funcionamento é simples. Os parceiros do Estímulo 2020 fizeram doações para o fundo de financiamento, iniciativa inspirada nos fundos emergenciais existentes nos Estados Unidos. Isso possibilitou a liberação dos empréstimos de baixo custo, ao contrário das linhas de crédito disponibilizadas por bancos e financeiras que atuam no mercado.

Entretanto, o ponto que mais me chamou a atenção no Estímulo 2020 foi a preocupação com a orientação para os empreendedores atendidos. É uma mentoria permanente, que aborda temas como gestão de marketing e gestão, criação de lojas online, segurança no varejo e linhas de crédito disponíveis. E, o mais interessante: o empreendedor recebe a mentoria diretamente dos parceiros do projeto e tem reunião online com Abílio Diniz, Eduardo Mufarej, Rubens Menin e Eugênio Mattar, entre outros líderes empresariais engajados na iniciativa.

O Estímulo 2020 foi lançado em São Paulo e já chegou a Minas Gerais, com um número recorde de pequenos negócios atendidos com financiamento e consultoria. A repercussão foi tão grande que o senador Antonio Anastasia estuda a apresentação de projeto de lei que regulamente a criação de fundos emergenciais no Brasil. A pandemia veio para transformar nosso modus vivendi. Entretanto, com criatividade e atuação coletiva, a recuperação será mais rápida e menos dolorosa.

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