GABRIEL AZEVEDO

Receitas para melhorar o atendimento médico em BH

Serviço municipal precisa de gestão, humanidade e tecnologia


Publicado em 26 de julho de 2019 | 03:00
 
 
 
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O sistema de saúde municipal de Belo Horizonte precisa urgentemente de melhor gestão, de mais humanidade e de tecnologia. Do contrário, o atendimento à população continuará precário, fazendo com que os usuários percam muito tempo nas filas e acabem não recebendo a atenção adequada. Nesta semana, fiz uma visita técnica à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Oeste, no Jardim América, onde encontrei protocolos incorretos, que podem ser corrigidos desde que haja vontade política e investimentos destinados à orientação da população.

Hoje, o sistema de atendimento municipal de saúde conta com 152 unidades básicas e nove unidades de pronto-atendimento, equipadas para atender casos mais complexos. Entretanto, em razão da falta de informações, a maioria das pessoas acaba indo diretamente às UPAs, que vivem lotadas, com pacientes que perdem um tempo precioso, quando, na verdade, se informados corretamente, poderiam ser atendidos com muito mais rapidez nos postos de saúde. O desmantelamento do programa Mais Médicos e a crise econômica, que levou muita gente a cancelar planos particulares de saúde, só aumentam a procura pela saúde pública.

Quando vai em busca de atendimento médico em uma UPA, a pessoa passa por uma triagem e é classificada de acordo com o Protocolo de Manchester, sistema internacional de classificação de riscos à saúde usado em dezenas de países. A utilização de fitas de cores diferentes define o risco de vida de quem procura atendimento médico. Verde é usada para casos mais simples, que não constituem ameaça à vida da pessoa. Na sequência, por ordem de gravidade da situação, vêm as cores amarelo, laranja e vermelho. Esta última classifica pacientes que precisam de atendimento urgente, pois o risco de morte é muito alto.

Nas UPAs da capital, de acordo com informações de profissionais que atuam nestas unidades, 70% dos pacientes que buscam atendimento médico recebem a classificação verde. Ou seja, poderiam ser muito bem atendidos nos postos de saúde. Entretanto, lotam as unidades e passam horas esperando ser examinados por um médico, pois, à medida que pacientes em situação mais delicada chegam e passam pela triagem do Protocolo de Manchester, quem recebeu a classificação verde fica para trás na ordem de atendimento. Assim, só serão examinadas horas depois de terem chegado a uma UPA.

A PBH, que em 2018 investiu R$ 40 milhões em publicidade para divulgar não se sabe exatamente o quê, não destina recursos para informar à população qual é o melhor procedimento quando alguém precisa de atendimento médico. Não é prioridade da atual gestão municipal orientar melhor os 2,5 milhões de habitantes da cidade sobre questões de saúde. Tal comportamento tem um nome: descaso. Desse jeito, a prefeitura não está governando para quem precisa.

Descaso que leva a outras falhas: as UPAs não são informatizadas, tudo é feito de maneira analógica. Os prontuários são preenchidos a mão. Nada é digital. Se um médico precisa do diagnóstico de determinado paciente, não pode obter essa informação pelo computador. É necessário consultar arquivos em papel. Isso em pleno século XXI.

Os postos de saúde, por sua vez, estão com as equipes desfalcadas, há uma grande carência de médicos. Todas essas questões, repito, podem ser solucionadas com vontade política, gestão e inovação. Mas, pelo visto, não há interesse em modernizar e agilizar o atendimento médico na nossa cidade.

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