BRASÍLIA - Em Caracas, Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República, acompanha as eleições na Venezuela e divulgou, por meio de nota, sua expectativa de que "todos os candidatos" respeitem o resultado do pleito. A votação se encerrou às 19h, horário de Brasília, e Amorim monitora os desdobramentos da eleição a partir da Embaixada do Brasil em Caracas.

Amorim expressou sua satisfação com a tranquilidade do processo eleitoral e a expressiva participação do eleitorado. "Houve participação expressiva do eleitorado. Estou em contato com diferentes forças políticas e analistas eleitorais, além de membros da equipe de observadores do Centro Carter e do Painel de Especialistas da ONU", afirmou.

Ele também destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido continuamente informado sobre o andamento das eleições e que "todos aguardam os resultados finais com a expectativa de que sejam respeitados por todos os candidatos".

Amorim tornou-se uma figura central nas eleições venezuelanas após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela barrar a participação de observadores da União Europeia e de autoridades latino-americanas no processo eleitoral.

Desde sua chegada a Caracas na sexta-feira (26), Amorim, embora não atue oficialmente como observador internacional, desempenha um papel semelhante, dialogando tanto com aliados do governo venezuelano quanto com a oposição. A real dimensão de sua presença e influência na região será conhecida somente nos próximos dias.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou Amorim à Venezuela em um momento delicado das relações diplomáticas entre os dois países, marcadas por declarações polêmicas de ambos os lados. No sábado (27), o presidente Nicolás Maduro convocou uma reunião com embaixadores estrangeiros, incluindo a embaixadora do Brasil, Glivânia Maria de Oliveira.

O encontro ocorreu um dia antes das eleições, que coincidem com o aniversário do ex-presidente Hugo Chávez (1954-2013). Maduro lidera um regime autocrático, conhecido por violar liberdades fundamentais e manter presos políticos.

Entre os dez candidatos à presidência, o principal rival de Maduro é o diplomata Edmundo González, concorrendo pela primeira vez. González foi escolhido após María Yoris e Corina Yoris, líderes da oposição, serem impedidas de se candidatar devido a indícios de perseguição política e fraudes pela Justiça venezuelana.

Amorim não participou do encontro com Maduro, mas se reuniu com o chanceler venezuelano, Yván Gil, na sexta-feira (26). Gil descreveu o encontro como "cordial" e destacou a relevância das eleições e o clima de paz na Venezuela, elogiando a organização do processo eleitoral.

No sábado (27), Amorim encontrou-se com membros da oposição e do Centro Carter, além de Gerardo Blyde, chefe dos negociadores da oposição no Acordo de Barbados, que busca promover eleições livres e justas na Venezuela.

As relações entre Brasil e Venezuela têm se deteriorado nas últimas semanas. A tensão aumentou quando Lula, em entrevista, declarou ter ficado "assustado" com a ameaça de Maduro de um possível "banho de sangue" caso perdesse para a oposição, que lidera as pesquisas de intenção de voto. Maduro respondeu criticando a confiabilidade do sistema de votação eletrônica brasileiro, alegando falsamente que o voto no Brasil não é auditável.

Em resposta, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu não enviar observadores para as eleições presidenciais na Venezuela. A informação foi divulgada em nota à imprensa.

"Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país para acompanhar o pleito do próximo domingo", declarou a Corte Eleitoral.

O TSE reforçou que a "Justiça Eleitoral brasileira não admite que, interna ou externamente, por declarações ou atos desrespeitosos à lisura do processo eleitoral brasileiro, se desqualifiquem com mentiras a seriedade e a integridade das eleições e das urnas eletrônicas no Brasil".