BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chorou, nesta quinta-feira (15), em cerimônia no Paraná, próximo de onde ficou preso por 580 dias por causa de processos da Lava Jato. Ele ainda fez duras críticas ao ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR) e aos procuradores da operação. Também defendeu a Petrobras.

Lula participou da cerimônia de retomada das operações da Fábrica de Fertilizantes Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa), que receberá investimentos da Petrobras. A unidade fica em Araucária (PR), na região metropolitana de Curitiba, a capital paranaense.

Em discurso, o presidente afirmou, chorando, que sentia orgulho de usar a camisa da Petrobras e que gostaria de visitar o prédio da estatal para afirmar que “é do povo e também do presidente da República”. Mais cedo, em entrevista a uma rádio local, Lula falou que deseja visitar também a cela onde ficou preso em Curitiba.

BRASÍLIA - O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, chorou nesta quinta-feira (15) em cerimônia no Paraná, próximo de onde ficou preso por 580 dias por causa de processos da Lava Jato. Ele fez duras críticas ao ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR) e aos… pic.twitter.com/gyKqQh8Kss

— O Tempo (@otempo) August 15, 2024

“Eu já falei para a Magda [Chambriard, presidente da Petrobras] que eu quero voltar para visitar o prédio da Petrobras, entrar na sala dela, com uma camisa dessa [da empresa], e dizer ‘a Petrobras é do povo brasileiro, e se é do povo brasileiro é também do presidente da República’”, ressaltou. 

O petista falou ainda que, por causa da Lava Jato, quem trabalhava na estatal era taxado de “ladrão”. A força-tarefa integrada por procuradores federais lotados em Curitiba investigou principalmente esquemas de corrupção na estatal petrolífera, levando a prisões de alguns de seus dirigentes.

“Vocês não têm dimensão do orgulho que eu estou de estar [ele começa a chorar], de estar vestindo essa camisa da Petrobras. Muitas vezes eu ficava deprimido e chorava quando eu ficava sabendo de notícia de que companheiros trabalhadores da Petrobras entravam em um restaurante para comer, ou entrava no bar, e muitas vezes eram chamados de ladrão”, afirmou Lula.

“Conseguiram criar no imaginário daqueles que não gostam de nós a ideia de que todo mundo na Petrobras era ladrão, inclusive aqueles que eram responsáveis pela grandiosidade da Petrobras, que eram seus trabalhadores”, prosseguiu o presidente. Antes, ele agradeceu aos militantes que fizeram vigília em frente à carceragem da Polícia Federal em Curitiba durante o tempo em que ficou preso. 

“A minha música eram três: Bom dia, de manhã, de tarde e de noite. Fazendo calor ou chovendo, sendo domingo ou feriado prolongado. Eu ouvia da cela em que eu estava todo santo dia o pessoal cantar, cantar parabéns, comemorar aniversário. Aquilo marcou a minha vida”, comentou, interrompendo a fala para chorar. Enquanto ele bebia um copo d’água, a plateia cantou “Olê, olê, olê, olá, Lula”, jingle da sua campanha.

Lula ressaltou que quem comete crimes precisa ser condenado e preso, mas as ações não podem resultar em fechamento de uma empresa, nem mesmo ao desgaste à imagem dela, com demissões de trabalhadores. Nesse momento, sem citar nomes, afirmou que a Lava Jato era comandada por um “juiz insignificante” e que os procuradores da força-tarefa formavam uma “quadrilha”.

“Antes de eu vir para a PF, eu tinha ideias, sugestões de companheiros que queriam que eu fosse para o exterior, companheiros que achavam que eu devia ir para uma embaixada, muita gente me dando conselho. Toda noite eu pensava: ora, como é que vão ficar os meus amigos que a vida inteira acreditaram em mim, como vai ficar minha família, se aparecer a manchete de qualquer país ‘Lula fugitivo procurado’. Então tomei a decisão, e foi a decisão mais sábia que tomei: eu vou me entregar na PF e vou lá para dentro, vou perto daquele juiz insignificante, vou perto daqueles procuradores da República que faziam parte de uma quadrilha dentro do Ministério Público. Eu vou lá para provar minha inocência”, afirmou Lula.

Lula visita fábricas no Paraná e anuncia investimentos

A Fábrica de Fertilizantes Araucária Nitrogenados, em Araucária, estava parada desde 2020 e será reaberta depois que o investimento na produção de fertilizantes voltou a fazer parte do portfólio da Petrobras. 

O investimento previsto para a reabertura da unidade é de R$ 870 milhões. Serão imediatamente iniciados todos os procedimentos necessários à retomada, incluindo a publicação dos editais para contratação de serviços de manutenção e de materiais críticos. 

Na primeira fase desta reentrada no setor, a estratégia tem sido reconfigurar e consolidar operações viáveis em ativos que já pertencem à companhia. A previsão é que a operação seja iniciada no segundo semestre de 2025.

Durante a intervenção para retorno operacional serão gerados mais de 2 mil empregos, entre empregados da Ansa e das empresas contratadas. Após retorno operacional, devem ser mantidos cerca de 700 empregos diretos. 

No início de julho, 215 antigos funcionários da Ansa reiniciaram suas atividades de trabalho no Paraná. São essencialmente técnicos especializados no funcionamento da planta industrial e foram recontratados pela subsidiária.

A fábrica está em processo de contratação de serviços e aquisição de materiais, com previsão de conteúdo local superior a 85%. Após finalizada essa etapa, será realizada a mobilização dos contratos de serviços e manutenção dos equipamentos para o início das atividades.

Ainda no Paraná, Lula confirmou nesta quinta-feira investimentos da estatal na Repar, refinaria responsável por aproximadamente 15% do mercado nacional de derivados de petróleo. Seus produtos atendem principalmente os mercados do Paraná, Santa Catarina, sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul.

A Petrobras anunciou o investimento de R$ 3,2 bilhões, previstos no Plano Estratégico, destinado a paradas de manutenção e projetos de investimento na Repar. Serão gerados cerca de 27 mil empregados diretos e indiretos. 

Entre os projetos, está prevista a implantação de uma nova unidade de hidrotratamento de médios (HDT), que tem por finalidade o aumento da produção de diesel S10, além de projetos de melhoria de eficiência energética, visando uma menor pegada de carbono nas operações e aumento de carga de destilação, para acréscimo da produção de derivados e atendimento ao mercado.

Em 2023, a Repar bateu recordes de produção de mais de 10 anos. A produção de gasolina foi de mais de 3,4 bilhões de litros, superando em 3% o recorde de 2012. O volume total de vendas de gasolina pela Petrobras, na área de influência da Repar, foi o maior da série histórica, superando em 4,8% a marca anterior, de 2022. A produção de asfalto (CAP 50/70) atingiu 453 mil toneladas, um aumento de 0,5 % em relação a 2010, ano do recorde anterior.

A Repar é pioneira na produção do Diesel R, combustível produzido por co-processamento (processamento conjunto) de derivados de petróleo (parcela mineral), com matérias-primas de origem vegetal, como óleo de soja. Esse novo combustível é uma alternativa sustentável no ciclo diesel, pois a redução das emissões associada à parcela renovável é de ao menos 60% em comparação com o diesel mineral, podendo ser até maior a depender da matéria-prima utilizada.

A unidade atende cerca de 15% da produção nacional de derivados de petróleo e 85% do abastecimento vai para os estados do Paraná, Santa Catarina, sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul. A capacidade instalada é de 33 mil m³/dia ou 207.563 bbl/dia e os principais produtos são o diesel, gasolina, GLP, coque, asfalto, óleos combustíveis, QAV, propeno, óleos marítimos.

Presidente tem extensa agendas no RS

Lula tem uma longa agenda prevista para sexta-feira (16) no Rio Grande do Sul. Na quinta passagem pelo estado desde o início da crise decorrente das enchentes no fim de maio, Lula participa de uma série de atividades conectadas ao esforço de reconstrução e retomada da economia gaúcha.

Primeiro, o presidente acompanha a entrega de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida e a assinatura de acordos para agilizar a conclusão de outros empreendimentos para garantir moradia a quem perdeu tudo nas enchentes. 

Em seguida, ele participa da inauguração de uma nova estrutura para tratamento de câncer em Porto Alegre. Na sequência, segue para São Leopoldo, região estratégica para a logística do estado e que terá um novo complexo viário para beneficiar 3 milhões de pessoas.

Na comitiva com o presidente estarão o ministro da Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, a ministra Nísia Trindade (Saúde), o ministro Jader Filho (Cidades) e o ministro Renan Filho (Transportes), entre outras autoridades federais, regionais e locais.