Discurso

Em reunião ministerial, Lula foca em Bolsonaro e deixa de lado popularidade

Na primeira reunião ministerial do ano, Lula usou a fala da abertura para atacar o governo passado e rechaçar o uso da religião como instrumento político

Por Renato Alves
Publicado em 18 de março de 2024 | 11:34
 
 
 
normal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou a fala da abertura da reunião ministerial no Palácio do Planalto nesta segunda-feira (18) para falar dos feitos do seu governo, atacar o ex-presidente Jair Bolsonaro e rechaçar o uso da religião como instrumento político. Inicialmente, era dito que o encontro com o alto escalão iria tratar sobre a queda de popularidade do petista e do seu governo, registrada em três recentes pesquisas de opinião. Contudo, Lula desviou desse foco durante o trecho do encontro que foi transmitido ao vivo.  

Perante os seus ministros e com transmissão pelos canais oficiais do governo federal, Lula afirmou que a religião está sendo “manipulada de forma vil e baixa” no país, e que isso precisa mudar, pois ameaça a democracia e o direito de as pessoas exercerem a fé que desejarem.

“A democracia significa que essas pessoas não querem apenas falar da liberdade muito distante. Eles querem falar de trabalho, querem falar de salário, eles querem falar de lazer, eles querem falar de cultura, eles querem falar das coisas que dizem respeito ao dia a dia dele”, afirmou.

“Um país em que a religião não seja instrumentalizada como um instrumento político de um partido político ou de um governo. Que a fé seja exercitada na mais plena liberdade das pessoas que queiram exercê-la. A gente não pode compreender a religião sendo manipulada da forma vil e baixa como está sendo neste país”, emendou.

Em discurso na Avenida Paulista, durante ato em apoio ao seu marido, Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que é presidente do PL Mulher, defendeu a mistura da política com religião, mesmo o Brasil sendo um Estado laico.

“Por um bom tempo fomos negligentes ao ponto de falarmos que não poderia misturar política com religião, e o mal ocupou o espaço. Chegou o momento da libertação. Eu creio em um Deus todo poderoso capaz de restaurar e curar nossa nação”, afirmou Michelle, que chorou.

Lula chama Bolsonaro de “covardão”

Lula não citou a ex-primeira-dama na abertura da reunião ministerial desta segunda-feira, mas falou do marido dela. E o chamou de “covardão”. Para atacar o seu maior adversário, o petista lembrou das recentes investigações sobre um suposto plano de golpe de Estado que visava impedir a sua posse e manter Bolsonaro no poder, segundo a Polícia Federal. O presidente diz que a trama só não teve sucesso por falta de adesão das Forças Armadas.

“Hoje, temos mais clareza sobre o 8 de janeiro [de 2023] porque sabemos o que aconteceu em dezembro. Hoje, a gente tem clareza disso por causa do depoimento de gente que fazia parte do governo dele (Bolsonaro) ou que estava no comando, inclusive das Forças Armadas, de gente que foi convidada para fazer um golpe. Então, se há três meses, quando a gente falava em golpe, parecia apenas insinuação, hoje nós temos certeza que este país correu sério risco de ter um golpe em função das eleições de 2022”, disse. 

“Não teve golpe não só porque algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas não quiserem fazer, não aceitaram a ideia do presidente, mas também porque o ele (Bolsonaro) é um covardão, porque não teve coragem de executar aquilo que ele planejou. (...) Nós sabemos que houve uma tentativa de golpe no país. Quem tinha dúvida, agora podem ter certeza que por pouco não voltamos ao tempo tenebroso neste país”, completou.

O presidente também disse que faltou coragem a Bolsonaro, que, segundo ele, “ficou em casa chorando” e que depois fugiu para os Estados Unidos com a expectativa de que o golpe vingasse. "Ele (Bolsonaro) não teve coragem de executar aquilo que planejou, ele ficou dentro de casa aqui no Palácio chorando quase um mês e preferiu fugir para os Estados Unidos do que fazer aquilo que ele tinha prometido”, afirmou Lula.

Os ex-comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, complicaram Jair Bolsonaro em depoimentos à Polícia Federal (PF). Ambos disseram que o ex-chefe do Executivo não só sabia da chamada “minuta golpista” como apresentou, em reuniões no Palácio do Alvorada, opções de medidas para impedir a posse de Lula, que envolviam prisões de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). 

O interrogatório aconteceu em 1º de março no âmbito da investigação sobre suposta trama liderada por Bolsonaro e que envolvia generais e ministros para dar um golpe de Estado visando a manutenção do ex-presidente no Palácio do Planalto. Os ex-comandantes contaram que Bolsonaro convocou reuniões no Palácio do Alvorada, logo a após a derrota para Lula no segundo turno das eleições de 2022, para apresentar “hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e sítio em relação ao processo eleitoral”. 

Lula não admite culpa em queda de popularidade

O encontro desta segunda-feira ocorre diante de uma queda nos índices de popularidade do governo, registradas em pesquisas divulgadas nas últimas semanas. Lula voltou ao discurso de “herança maldita”, disse que o último ano foi de “recuperação” e sabe que ainda falta muito a fazer naquilo que se comprometeu durante a campanha eleitoral. 

“Todo mundo sabe também que ainda falta muito a gente fazer. Por mais que a gente tenha recuperado Farmácia Popular, Mais Médico, por mais que tenha feito clínica, a gente tem ainda muito para fazer em todas as áreas. E muito não é nada estranho, é tudo o que nos comprometemos a fazer durante a disputa eleitoral”, ressaltou.

“Foi um trabalho hercúleo para recuperar tudo isso. Recuperar o Bolsa Família, incluindo mais gente, aumentando o Bolsa Família. A gente criar programas educacionais, que vão desde a alfabetização na hora certa, ao pé de meia, institutos federais, recuperações de vários prédios universitários que estavam paralisados. Todo mundo sabe o que foi feito nesse país para que a gente recuperasse o poder aquisitivo do salário mínimo. É o segundo ano consecutivo que o salário mínimo vai aumentar acima da inflação”, completou.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!