31 de março

Forças Armadas celebram ditadura e dizem que golpe de 64 foi 'marco histórico'

O texto é assinado pelo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, que deixa o cargo nesta quinta-feira (31) e deve ser o vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de outubro

Por Renato Alves
Publicado em 31 de março de 2022 | 08:46
 
 
 
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O Ministério da Defesa publicou na noite desta quarta-feira (30) uma ordem do dia celebrando o golpe de 31 de março de 1964, que culminou na ditadura militar, em que qualifica a ação como um "movimento" e um "marco histórico da evolução política brasileira". 

O documento também diz que o golpe agiu para "restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil", ainda que não haja nenhuma evidência histórica para sustentar tal afirmação.

A ordem do dia às vésperas do aniversário do golpe é uma tradição mantida desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2019.

O texto é assinado pelo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, que deixa o cargo nesta quinta-feira (31) e deve ser o vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de outubro.

Nesta quarta-feira, Bolsonaro voltou a ameaçar o Judiciário quanto ao resultado das eleições de 2022, para depois dizer que é o presidente mais “democrata” da história do país.

Braga Netto cobra  "isenção e honestidade"

O documento assinado por Braga Netto diz que a sociedade brasileira "conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político" nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964.

"O Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época", diz o texto divulgado pela Defesa.

O termo "movimento" para se referir ao golpe já havia surgido nos anos anteriores do governo Bolsonaro. A nota também diz que "a história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização".

No documento, Braga Netto também alega que a mobilização teria sido apoiada por famílias, igrejas, empresários, políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a "sociedade em geral".

O ministro ressalta ainda que civis e militares deixaram "um legado de paz, liberdade e democracia" no período, "cuja preservação demanda de todos os brasileiros o eterno compromisso com a lei, com a estabilidade institucional e com a vontade popular".

Expressão "supremo é o povo" é amplamente usada por Bolsonaro

A expressão que diz que o povo é soberano é amplamente usada pelo presidente Bolsonaro. Seus apoiadores também costumam dizer que "supremo é o povo", em referência ao STF, alvo do bolsonarismo.

Em evento no Rio Grande do Norte nesta quarta, o presidente voltou a fazer críticas indiretas a ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele disse que os votos das eleições serão contados, sem explicar como, já que o voto impresso foi derrubado pelo Congresso em meio a discursos golpistas do presidente da República.

"O povo armado jamais será escravizado. E podem ter certeza que, por ocasião das eleições de 2022, os votos serão contados no Brasil. Não serão dois ou três que decidirão como serão contados esses votos", disse, em referência a Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE; Edson Fachin, o atual; e Alexandre de Moraes, que será presidente nas eleições.

Golpe durou 21 anos e foi marcado por falta de liberdade, tortura e mortes

A ditadura militar durou 21 anos e, durante o período, proibiu eleições diretas, perseguiu e torturou opositores e decretou censura à imprensa. 

Cidadãos contrários ao regime militar como o ex-deputado Rubens Paiva e o jornalista Vladimir Herzog foram assassinados.

Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) listou 191 mortos e o desaparecimento de 210 pessoas. Outros 33 desaparecidos tiveram seus corpos localizados posteriormente, num total de 434 pessoas.

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