A presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, mandou apurar a compra de 19 toneladas de bisteca que não forem entregues para indígenas do Vale do Javari (AM).
Mesmo se o produto tivesse sido entregue, não haveria local de armazenamento e conservação para acomodar o alimento. Os contratos foram assinados no governo de Jair Bolsonaro (PL) entre 2020 e 2022 e seguem em vigor na a gestão do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
As informações constam em reportagem publicada pelo Estadão no último domingo (14).
A presidente da Funai acionou a área técnica do órgão para apurar o que aconteceu com a bisteca. "Eu vou apurar as informações, pois se trata de atos da gestão anterior e para tanto preciso que se apure junto aos departamentos competentes internos na Funai", afirmou Joenia ao Estadão após a publicação da reportagem. A Funai ainda não deu explicações oficiais.
O Estadão também revelou que governo de Jair Bolsonaro pagou R$ 4,4 milhões para enviar ao Território Yanomami alimentos que não são consumidos pelos indígenas, durante uma crise humanitária. Desprezando recomendação técnica, a Funai assinou o contrato milionário para comprar cestas básicas contendo sardinha e linguiça calabresa. O peixe enlatado e o embutido não fazem parte da dieta local. Também não há registros de que os produtos foram entregues integralmente.
A reportagem diz ainda que a carne deveria abastecer indígenas e servidores do órgão na região com o maior número de povos isolados do País. O produto, entretanto, não chegou a ser incluído nas cestas básicas distribuídas às famílias.
Ainda segundo o Estadão, a área técnica da Funai já havia alertado o governo e o Ministério Público a respeito dos hábitos alimentares dos indígenas. “Os yanomamis não comem sardinha nem calabresa”, informou a coordenadora da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami, Elayne Rodrigues Maciel, responsável pelo órgão da Funai com atribuição exclusiva sobre a Terra Indígena Yanomami, em depoimento ao MP.
Na ação que ouviu a servidora, de 2021, o MP pediu a condenação da União para considerar estudos antropológicos e nutricionais na composição das cestas. A Justiça acatou o pedido. No entanto, mesmo depois da condenação, o governo Bolsonaro não só voltou a adquirir os alimentos como assinou a maior compra já realizada para a terra indígena de linguiça e sardinha em lata. (Com Estadão Conteúdo)