A ex-prefeita Marta Suplicy retorna, nesta sexta-feira (2), aos quadros do PT após nove anos fora do partido, cujo período foi marcado por atritos e desencontros. A cerimônia de filiação será realizada às 18h, em São Paulo, e contará com a presença e o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O petista foi responsável por articular a refiliação de Marta, que agora vai compor como vice na chapa do deputado federal Guilherme Boulos (Psol) para a Prefeitura de São Paulo. Além de Lula, outros nomes políticos do PT devem estar no evento.
Entre eles estão a presidente nacional do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), e os ministros da Fazenda, Fernando Haddad; do Trabalho, Luiz Marinho; e da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Boulos também vai marcar presença no evento, onde o PT espera receber cerca de 1 mil convidados.
A chapa Boulos-Marta vai confrontar diretamente a do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição. Lula já disse que a eleição deste ano na capital paulista será um embate entre ele e "a figura", em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os dois são opositores políticos e polarizaram as eleições de 2022, quando o petista venceu no segundo turno.
Nunes tem o apoio de Bolsonaro, e o ex-presidente confirmou, na quinta-feira (1º), sua indicação pelo coronel da Polícia Militar do Estado Ricardo Mello Araújo para disputar como vice. A volta de Marta ao PT, inclusive, deve ser explorada no embate pelo lado da chapa de Nunes. Isso porque a nova filiada compôs o atual governo da cidade de São Paulo.
Marta foi secretária municipal de Relações Internacionais da gestão Nunes e deixou o cargo há menos de um mês, em 9 de janeiro. Na época, por meio de nota, a Secretaria Especial da Prefeitura de São Paulo informou que o prefeito chamou Marta na sede da administração municipal para que ela esclarecesse informações divulgadas na imprensa sobre sua intenção de concorrer como vice-prefeita na chapa de Boulos.
De acordo com o texto, a decisão de a secretária deixar suas funções na pasta foi tomada “em comum acordo”. Marta Suplicy divulgou uma carta direcionada a Ricardo Nunes em que agradeceu sua passagem pela Secretaria de Relações Internacionais desde janeiro de 2021.
No texto, ela justificou que o cenário político de São Paulo “prenuncia uma nova conjuntura”, diferente de quando foi convidada por Bruno Covas a compor sua gestão. “Como em outras passagens de minha vida pública, seguirei caminhos coerentes com minha trajetória, princípios e valores que nortearam toda minha vida pública e que proporcionaram construir o legado que me trouxe até aqui”, disse.
Apesar do novo cenário político, a relação de Marta com o PT já passou por percalços. Filiada por 33 anos, ela deixou o partido em 2015 em meio a ataques à sigla. Na época, que foi o auge da operação Lava Jato, que investigou irregularidades na Petrobras, ela chegou a afirmar que o PT tinha protagonizado “um dos maiores escândalos de corrupção da nação brasileira”.
Em 2016, Marta escreveu no X (antigo Twitter) que Haddad, filiado ao PT e no comando da gestão da cidade de SP, era "o pior prefeito que São Paulo já teve”. Quatro anos antes, ela chegou a fazer campanha para Haddad, mas cortou a relação ao romper com o PT.
A ex-prefeita também já teve embates com o PSOL de Boulos, especialmente quando foi favorável ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. Na ocasião, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL), que foi candidata a vice de Boulos nas eleições de 2020, chamou Marta de “traidora do povo” e insinuou que a então senadora também traiu o PT “no momento mais trágico” da história do partido.
Já em 2020, Marta disse que Erundina, por duas vezes, foi “desleal” com ela ao acusá-la de ter reduzido o Orçamento da Educação quando foi prefeita. Ainda nas eleições municipais de 2020, Marta Suplicy chegou a afirmar que o então candidato Guilherme Boulos, em um debate no segundo turno contra o então prefeito Bruno Covas (PSDB), estava "tenso, pesado, com conteúdo fraco".
Agora juntos, Marta e Boulos enfrentarão ao longo da campanha eleitoral situações que deixarão expostos os contrastes entre os dois. Apesar das experiências políticas, eles circulam em meios diferentes. Marta tem trânsito entre empresários, e a expectativa de aliados é que essa relação atraia doações para a campanha, especialmente de setores que rejeitam Boulos.
Já Boulos, que será o cabeça da chapa, se mostra acessível para falar com os eleitores de menor poder aquisitivo. Não à toa, ele faz questão de fazer aparições em seu “celtinha” popular. Foi nesse carro, declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como patrimônio de R$ 20 mil, que ele chegou à casa de Marta em um almoço para a consolidação da chapa, em janeiro.