Investigação

PF envia ao STF provas de que milícia digital usa estrutura do gabinete do ódio

Informações constam em relatório assinado pela delegada que conduz os inquéritos das fake news e das milícias digitais, sob responsabilidade do ministro Alexandre de Moraes

Por O TEMPO Brasília
Publicado em 11 de fevereiro de 2022 | 07:57
 
 
 
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Uma milícia digital que atua contra a democracia e as instituições brasileiras usa a estrutura do chamado “gabinete do ódio”, grupo formado por aliados do presidente Jair Bolsonaro e que atuaria até dentro do Palácio do Planalto. A afirmação é da Polícia Federal e consta em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O documento foi assinado pela delegada Denisse Ribeiro, que conduz os inquéritos das fake news e das milícias digitais, sob responsabilidade do ministro do Supremo Alexandre de Moraes. Ela enviou o relatório quinta-feira (10) porque se afastará do caso por motivos pessoas a partir de segunda (14). 

O inquérito que apura a existência de uma milícia digital foi aberto em 2021, após o procurador-geral da República, Augusto Aras, pedir o arquivamento de outra investigação que envolvia aliados de Bolsonaro. Na época, Moraes atendeu ao pedido de Aras, mas decidiu abrir novo inquérito para investigar as milícias digitais.

O conteúdo do relatório foi revelado pelo portal G1. A ação do grupo seria orquestrada com propósito de difundir ataques e desinformação, criando e deturpando dados para obter vantagens e auferir lucros, buscando, assim, ganhos políticos, ideológicos e financeiros, segundo a PF.

“Identifica-se a atuação de uma estrutura que opera especialmente por meio de um autodenominado 'gabinete do ódio': um grupo que produz conteúdos e/ou promove postagens em redes sociais atacando pessoas (alvos) – os 'espantalhos' escolhidos – previamente eleitas pelos integrantes da organização, difundindo-as por múltiplos canais de comunicação, em atuação similar à já descrita outrora pela Polícia Federal, consistente no amplo emprego de vários canais da rede mundial de computadores, especialmente as redes sociais”, escreveu a delegada.

Denisse afirma também que a suposta milícia digital atua de forma anônima e tem como alvos adversários políticos, ministros do STF, integrantes do próprio governo e dissidentes, além da imprensa tradicional. Para a PF, a ação do grupo estimula a polarização e o acirramento do debate com os ataques à imprensa.

A delegada ressalta que a diferença entre manifestação de opinião e a conduta criminosa “é o nítido propósito de manipular a audiência distorcendo dados, levando o público a erro e induzindo-o a aceitar como verdade aquilo que não possui lastro na realidade”.

“O cruzamento de dados adquiridos mediante quebra de sigilo legal, as oitivas e os documentos obtidos permitem identificar a estrutura montada, os papéis de seus membros e os objetivos buscados, os quais são até aqui indicadores de uma atuação orquestrada, que pratica os fatos descritos com o propósito de difundir os ataques e/ou desinformação, criando ou deturpando os dados para obter vantagens para o próprio grupo ideológico e auferir lucros diretos ou indiretos por canais diversos”, afirmou.

A delegada defende que a estratégia do grupo tem sido explorar os limites entre crimes contra a honra e a liberdade de expressão. Com isso, segundo ela, é criada uma falsa ideia de que a Constituição permite a publicação de qualquer conteúdo sem que o autor seja responsabilizado.

“Sob essa ótica, tem sido rotineiro questionar os limites entre a prática dos chamados delitos de opinião (especialmente calúnia e difamação) e a amplitude da liberdade de expressão, gerando uma ideia de que a Constituição Federal criou uma zona franca para a produção e divulgação de qualquer conteúdo sem risco de responsabilização. Não é o que ocorre com qualquer Estado Democrático de Direito”, afirmou.

Denisse Ribeiro defendeu que é preciso proteger o discurso livre. “É justamente para proteger o discurso livre e aberto que se torna necessário estabelecer a 'nota de corte' a partir da qual se encerra a liberdade de expressão e se inicia a prática ilícita”, disse.

Segundo a delegada, a organização criminosa segue um padrão em seus ataques. Primeiro, escolhe um alvo; depois elabora um conteúdo ofensivo e separa as tarefas entre os envolvidos; em seguida, publica sistematicamente as informações ofensivas, inverídicas ou deturpadas, por várias fontes e canais; tudo é feito por meio de múltiplas plataformas para reproduzir e com o uso de robôs.

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