Política externa

Reunião do G20 começa no Rio com crise diplomática do Brasil com Israel na pauta

Antony Blinken, encarregado por Joe Biden para intermediar negociações de paz, estará no evento, assim como Sergei Lavrov, chanceler da Rússia

Por Renato Alves
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 | 08:23
 
 
 
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Ministros das Relações Exteriores do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, estão reunidos nesta quarta (21) e quinta-feira (22), no Rio de Janeiro. O principal tema, segundo o Itamaraty, será a reforma de organismos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU). Mas o evento, considerado de grande importância dos pontos de vista político e econômico, deve ser ofuscado pela crise diplomática sem precedentes entre o Brasil e Israel.

Deflagrada no domingo (18), após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparar ações israelenses na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus pela Alemanha nazista, a crise aumentou com a reação do governo de Israel, que declarou o brasileiro “persona non grata”, constrangeu o embaixador do Brasil em Tel-Aviv, e usou contas oficiais para atacar nominalmente o petista.  

O presidente do Brasil vai participar do encontro no Rio. Mas, antes, na manhã desta quarta-feira, ele recebe em Brasília o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken. Além de acordos bilaterais, ambos devem falar sobre o conflito entre Israel e o Hamas. A crise diplomática entre Brasil e Israel provavelmente será abordada.

Na terça-feira (20), o governo dos Estados Unidos afirmou que “não concorda” com os comentários de Lula. No mesmo dia, os EUA vetaram uma nova resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo em Gaza.

Chanceler da Rússia também estará no Rio 

Blinken, encarregado por Joe Biden para intermediar negociações de paz, também seguirá para o Rio para a cúpula do G20. Além dele, está no evento desta quarta-feira Sergei Lavrov, chanceler da Rússia, país que desencadeou outra guerra, ao invadir a Ucrânia. 

Ao contrário do que faz com Israel, Lula não condena as ações militares russas. Em 24 de fevereiro, fará dois anos que tropas russas invadiram a Ucrânia, numa tentativa de anexação de todo o território ucraniano.

Apesar da tentativa do Ocidente de condenar a invasão determinada por Vladimir Putin, a reunião de cúpula do G20, em setembro em Nova Délhi, terminou com um comunicado vago que denunciava o uso da força, mas não citava a Rússia, que mantém relações cordiais com integrantes do grupo, como Brasil e Índia.

Lula também não condenou o regime de Vladimir Putin pela perseguição e mortes de adversários, como Alexei Navalny, líder da oposição morto na sexta-feira (16) em uma prisão na Sibéria. Na quarta-feira (20), a Casa Branca responsabilizou o governo da Rússia pela morte.

O governo dos Estados Unidos também anunciou que vai adotar um “grande pacote de sanções” contra a Rússia. Blinken e Lavrov não devem ter uma reunião bilateral no Rio de Janeiro. O último encontro dos dois aconteceu em uma reunião do G20 na Índia, em março de 2023.

Depois da reunião do G20, Blinken segue para Buenos Aires para um encontro com Javier Milei, presidente da Argentina. Lavrov esteve em Cuba e na Venezuela antes de chegar ao Brasil nesta quarta-feira. Já o chanceler da China, Wang Yi, é ausência confirmada no encontro do Rio de Janeiro.

Rio receberá chefes de Estado em novembro

As reuniões de quarta-feira e quinta-feira, na Marina da Glória, terão participação de representantes de todos os membros do grupo: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, União Africana e União Europeia.

O Brasil convidou outros países e entidades para participar da reunião de chanceleres no Rio de Janeiro: Angola, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal e Singapura; o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD, também conhecido como Banco Mundial), a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, a Corporação Andina de Fomento, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a ONU, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a Organização para o Tratado de Cooperação Amazônica.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, as discussões durante todo o ano estarão estruturadas em torno de três prioridades: inclusão social e combate à fome e à pobreza; promoção do desenvolvimento sustentável, considerando-se seus três pilares: social, econômico e ambiental; e reforma das instituições da governança global.

O Brasil está na presidência rotativa do G20 desde 1º de dezembro de 2023 e permanece na posição até 30 de novembro de 2024. A previsão é que nesse período ocorram cerca de 130 reuniões, realizadas entre 15 cidades do país. A mais importante será a Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do G20, marcada para 18 e 19 de novembro deste ano, no Rio de Janeiro.

 

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