Meio Ambiente

Rios de Mata Atlântica não têm água de 'ótima qualidade' em nenhum trecho

Ao menos 20% de trechos da bacia hidrográfica do bioma são ruins ou péssimos, sem condições para usos na agricultura, na indústria ou para abastecimento humano

Por Renato Alves
Publicado em 22 de março de 2022 | 10:07
 
 
 
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Não existem corpos d’água com qualidade ótima nos rios das bacias hidrográficas de Mata Atlântica, enquanto apenas 7% têm água de boa qualidade e 73% podem ser considerados regulares. Os 20% restantes são ruins ou péssimos, sem condições para usos na agricultura, na indústria ou para abastecimento humano.

Os dados constam na pesquisa O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica, realizada pelo programa Observando os Rios e divulgada neste 22 de março, Dia Mundial da Água, pela Fundação SOS Mata Atlântica. 

Os indicadores foram obtidos entre janeiro e dezembro de 2021 por 106 grupos voluntários de monitoramento da qualidade da água. 

Foram feitas 615 análises em 146 pontos de coleta de 90 rios e corpos d’água de 65 municípios em 16 estados do bioma Mata Atlântica – Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. 

Houve pouca alteração em relação aos resultados do período anterior de monitoramento, com alguns casos localizados. “Considerando cada ponto de análise individualmente, a condição da qualidade da água manteve estabilidade em 88 deles, piorou em 45 e melhorou em 13”, diz o estudo. 

Os pesquisadores destacam o lago do Ibirapuera, na capital paulista, onde a água passou de regular para boa, com relatos do aparecimento de peixes em sua foz. “Outra evolução semelhante ocorreu no córrego Paquera, em Ilhabela, litoral norte do estado de São Paulo, evidenciando que obras de saneamento influenciam positivamente a qualidade da água de um rio”, ressaltam.  

O projeto baseia sua análise no chamado IQA (Índice de Qualidade da Água), que foi adaptado da National Sanitation Foundation, dos Estados Unidos e observa os parâmetros físicos, químicos e biológicos mais relevantes para avaliação das águas doces utilizadas para abastecimento público e diversos outros usos. 

Entre os parâmetros observados estão temperatura da água, turbidez, espumas, lixo flutuante, odor, peixes, larvas e vermes escuros e transparentes, coliformes fecais, oxigênio dissolvido, fosfato e nitrato.

Boa parte da contaminação na água encontrada pelo projeto é derivada de esgoto.

Alerta para condição ambiental da maioria dos rios 

Coordenador do programa Observando os Rios, Gustavo Veronesi explica que o retrato da qualidade da água nas bacias da Mata Atlântica é um alerta para a condição ambiental da maioria dos rios nos estados do bioma. A inadequação da água para usos múltiplos e essenciais pode ser consequência de fatores como a poluição e as precárias condições de saneamento, além da degradação dos solos e das matas nativas. 

“A qualidade regular da água obtida em mais de 70% dos pontos monitorados demanda atenção especial dos gestores públicos e da sociedade, indicando também a condição frágil dos recursos hídricos, especialmente neste momento de emergência climática e de pandemia, quando aumenta a demanda por água limpa. As populações mais pobres sempre são as mais afetadas pelas deficiências de estrutura de atendimento ao fundamental, que são água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos e manejo de águas de chuva, os pilares do saneamento básico”, diz Veronesi.

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