Bolsonarismo rachado

Weintraub diz que Bolsonaro se identifica com o Centrão: 'E com orgulho'

O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e o ex-assessor da Presidência Arthur Weintraub afirmaram em live que o presidente ameaçou demiti-los após se aproximar do Centrão

Por Renato Alves
Publicado em 25 de abril de 2022 | 08:18
 
 
 
normal

Não há trégua na guerra de palavras entre os ex-aliados Bolsonaros e Weintraubs. O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e o ex-assessor da Presidência Arthur Weintraub afirmaram em live transmitida na noite deste domingo (24) que o presidente Jair Bolsonaro (PL) ameaçou demiti-los após se aproximar do Centrão.

Os irmãos Weintraub estão em um processo de distanciamento do presidente há alguns meses. O desgaste se intensificou desde que Abraham anunciou sua disposição de concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, em oposição ao nome preferido de Bolsonaro, o do ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Na live, Arthur Weintraub disse que o presidente ficou chateado com o fato de Abraham estar bem nas pesquisas para o Governo do Estado de São Paulo. As primeiras mensagens palacianas para que o ex-ministro desistisse da candidatura chegaram na véspera de Natal de 2021, segundo  o ex-assessor da Presidência. 

Ainda de acordo com Arthur Weintraub,  assessores de Jair Bolsonaro pediram para os irmãos recuarem, caso contrário seriam demitidos dos cargos que ocupavam em Washington D.C, capital dos Estados Unidos, após deixarem o governo brasileiro.

Abraham saiu do Ministério da Educação em 2020, após uma série de polêmicas e declarações em redes sociais. Ele se mudou para os Estados Unidos para ocupar um cargo de diretot no Banco Mundial, por indicação de Bolsonaro. 

Já seu irmão, Arthur, trabalhou como assessor na Organização dos Estados Americanos (OEA), também por indicação de Bolsonaro, após deixar a Assessoria da Presidência da República.

“Começaram a envenenar o presidente contra o meu irmão porque ele era o ponto de discórdia”, disse Arthur. Ele alega que o ex-ministro era o único integrante do governo que não “se contaminou” com a influência do Centrão.

“O presidente Bolsonaro passou a se identificar com o Centrão. E com orgulho”, emendou Abraham. "Ele é 100% vulnerável ao Valdemar da Costa Neto e ao Ciro Nogueira", completou, em referência aos caciques do PL e do PP, respectivamente.

Ainda na transmissão ao vivo, Abraham afirmou que o presidente está deslumbrado com o poder. No entanto, ressaltou que apoiará Bolsonaro na eleição por “falta de alternativa”.

“O presidente não é Jesus Cristo. Não é Deus. O poder seduz muito se a pessoa não tiver a cabeça no lugar”, afirmou o ex-ministro ao ressaltar estar “chateado” com a família Bolsonaro após insultos a sua família.

Ernesto Araújo também critica presidente em live

Também participaram da live, nomeada  de “Reação Conservadora – E Conhecereis a Verdade (Revelações)”,  Ernesto Araújo, ex-chanceler brasileiro; Victor Metta e Paulo Eneias. 

O ex-chanceler Araújo também criticou o presidente na live. "O pessoal é uma pessoa completamente diferente hoje do que era quando trabalhamos com ele. Politicamente pelo menos", afirmou.

Eduardo Bolsonaro dispara: ‘São uns filhos de uma p*!’

No sábado (23), as agressões verbais entre o clã Bolsonaro e os irmãos Weintraub se deram em função do perdão presidencial ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), concedido na noite de sexta-feira (22).

Primeiro, o ex-assessor da Presidência Arthur Weintraub foi às redes sociais para criticar a decisão do antigo chefe.

“Os precedentes que estão sendo criados são péssimos. Depois você vai querer comparar o que aconteceu com o Daniel com um cara lá na frente que tiver (condenação por) corrupção, lavagem de dinheiro, falar ‘não, isso aqui também, já tem o precedente’. É impressionante, nunca pensei que ia ver uma coisa dessas”, disse o ex-assessor em vídeo, no sábado.

Não demorou para um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), reagir. Ele disparou contra Arthur e o irmão dele, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. 

“A gente tá (na) guerra e o cara me falando em precedente, como se nunca um corrupto tivesse recebido indulto e agora o instrumento tenha sido utilizado para seu fim: soltar um inocente. E quem fala são os irmãos que saíram do país para se livrar desta perseguição. São uns filhos de uma p*! Desculpa, mas não há outra palavra”, escreveu Eduardo no Twitter.

Assim como Daniel Silveira, os irmãos Weintraub são alvo de investigação sobre milícias digitais e por ataques ao STF. 

Silveira foi condenado a 8 anos e 9 meses de prisão, inicialmente em regime fechado, na última quarta-feira (20). O Supremo Tribunal Federal determinou também a perda do mandato dele e a suspensão dos direitos políticos enquanto durarem os efeitos da condenação criminal, além de uma multa de R$ 192,5 mil.

O TEMPO agora está em Brasília. Acesse a capa especial da capital federal para acompanhar as notícias dos Três Poderes.

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!