Eleições

Grupo evangélico progressista quer mais diversidade na Câmara de Belo Horizonte

Grupo religioso aposta em mandato coletivo para avançar em pautas progressistas na capital mineira

Por Sávio Gabriel
Publicado em 26 de agosto de 2020 | 03:00
 
 
 
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Em sua primeira disputa por um assento na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), o Unidade Popular, partido mais recente do Brasil, aposta numa candidatura coletiva formada por representantes do segmento evangélico. O grupo, denominado Plural, pretende fazer um contraponto aos atuais representantes religiosos no Legislativo da capital mineira e defende a construção de pautas progressistas.

Formado pela professora de artes e ceramista Djenane Vera, pela estudante de pedagogia Kenia Vertelo, pelo pastor evangélico Fillipe Gibran e pelo produtor local Jonatas Aredes, o grupo afirma que o segmento evangélico não está bem representado no Brasil nem na capital mineira. “Os números mais recentes apontam que 31% dos brasileiros são evangélicos, dos quais 58% são mulheres, 59% são pretos ou pardos e 69% recebem até três salários mínimos. Esses números mostram para a gente a discrepância entre a população evangélica e os políticos que hoje ocupam espaços de poder e dizem representar essa população”, afirmou Aredes.

A própria formação do grupo já é uma prova de que eles querem se dissociar do tradicionalismo e conservadorismo que comumente é ligado ao segmento evangélico, segundo os integrantes. São todos negros, há duas mulheres e há um representante da comunidade LGBT. “Ressaltamos que muitos evangélicos não aceitam associar sua fé a práticas de racismo, sexismo e LGBTfobia. Acreditamos que a fé deve gerar ações éticas de justiça e de inclusão na sociedade”, complementou Aredes.

Entre as principais pautas defendidas pelo grupo estão o combate à disseminação de fake news e a garantia da expressão religiosa a todos os tipos de fé. Na lista, também há propostas para a área de educação, e o grupo aposta no fomento da economia local. “Também defendemos o esporte e o lazer como ferramentas de transformação social”, disse Jonatas Aredes.

Contraponto

Ao se intitular progressista, a candidatura coletiva pretende se opor ao que classifica de neoliberalismo e ao fundamentalismo religioso. “Vemos muitos discursos racistas, machistas e LGBTfóbicos pautados pela fé”, acrescentou Aredes, ressaltando que em todas as igrejas existem cristãos progressistas e reforçando que os atuais representantes não falam por todo o segmento.

Como a legislação eleitoral não permite o registro oficial de candidaturas coletivas, oficialmente um dos integrantes do grupo será o detentor do mandato, mas a garantia é que todas as decisões referentes à atuação parlamentar serão tomadas em conjunto.

 

Grupo defende disputa de narrativa no segmento evangélico

A estratégia política do grupo é de disputa de narrativa contra os evangélicos associados ao tradicionalismo e ao conservadorismo. “A disputa entre evangélicos é necessária e já passou da hora”, resumiu Jonatas Aredes, afirmando que a ala progressista do segmento precisa fazer uma autocrítica por ter deixado o que ele classificou como “igreja hegemônica” falar pelo grupo. “O evangelho e ser evangélico é estar o tempo todo em disputa”, complementou.

O pré-candidato reforçou que a Frente Parlamentar Cristã da Câmara Municipal, formada por 28 vereadores, não representa o segmento. “Estamos fazendo a disputa da narrativa segundo a nossa percepção e dizendo: ‘Olha, isso que vocês estão fazendo não é ser cristão, não é ser evangélico’, então essa disputa ocorre o tempo todo, desde o início. Precisamos levá-la para o âmbito político também”, afirmou.

Para divulgar suas bandeiras, os integrantes têm apostado no diálogo junto a movimentos sociais e populares e aos evangélicos presentes nesses grupos. “No caso da eleição, não vamos estar representando somente evangélicos, mas toda a população”, reforçou Aredes. Dentro do segmento evangélico, a aposta é em movimentos progressistas e políticos, dos quais os integrantes da frente fazem parte.

 

Presidente da frente cristã da CMBH diz que integrantes do colegiado atuam de forma responsável

Embora tenha classificado as críticas como importantes para ajudar no posicionamento do grupo, o presidente da Frente Parlamentar Cristã da CMBH, vereador Autair Gomes (PSD), ressaltou que os integrantes atuam de forma responsável com o que propõem. No entanto, ele admitiu que o colegiado não representa a totalidade do segmento.

“Eu, por exemplo, sou pastor da Igreja Quadrangular. No que tange à minha igreja e ao meu segmento, realmente existe uma satisfação do eleitorado nesse sentido”, explicou, ponderando que todas as pautas são bem trabalhadas pela bancada na CMBH.

O vereador disse, ainda, que existe espaço para a discussão de pautas progressistas, mas questionou se a frente formada pela Unidade Popular teria legitimidade para se colocar como tal. “É preciso ver o que é considerado minoria. E essa frente, até onde tem legitimidade para se colocar dessa forma?”, questionou, admitindo que não conhece os integrantes e se colocando à disposição para dialogar com o grupo.

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