Deputado federal de primeiro mandato por São Paulo e eleito na onda de renovação política que tomou conta do país nas últimas eleições, Kim Kataguiri (DEM) alertou que a sociedade não pode ficar otimista com as mudanças ocorridas no cenário nacional. Em palestra durante o 10º Fórum Liberdade e Democracia, na tarde desta segunda-feira (23), o parlamentar disse que boa parte dos seus colegas de primeiro mandato “não têm ideia do que está fazendo lá, ou está fazendo besteira, ou está mal intencionado”.
O deputado referia-se a uma parcela de 17% dos novos parlamentares. Ele disse não ter esperanças de que a renovação dos assentos na Câmara Federal poderá trazer mudanças para o país. “Infelizmente a maior parte dos parlamentares, principalmente os novos, não sentaram a bunda na cadeira nas férias para estudar o regimento, para saber o que está acontecendo, e ficam lá perdidos”, disse, afirmando que muitos de seus colegas novatos na Câmara utilizam cargos comissionados para contratar cabos eleitorais.
O uso das redes sociais, prática que se tornou comum nos últimos anos, especialmente entre os deputados estreantes, também foi criticado pelo deputado. Ele disse que muitos colegas utilizam a rede social sem vinculação com o mandato político, “com um fim em si mesmo”. “Em vez de estar no plenário, atuando para virar voto e ganhar a votação, é a ‘bancada da live’, é o cara que fica (falando nas redes) que votou assim ou assado’”, disse, sendo taxativo ao dizer que “a maior parte dos deputados não lê o que vota”.
“Dos 513 parlamentares, 400 não leem. É fato. E desses 400, a maior parte é da renovação”, disse, afirmando que o debate qualificado, no Brasil, é feito por quem “vota em troca de propina, emenda ou cargo”, referindo-se aos deputados do centrão e aos parlamentares mais experientes na Câmara.
Bolsonaro
O deputado também voltou a criticar o presidente Jair Bolsonaro (PSL), afirmando que as pessoas não deveriam “se iludir com a renovação do Palácio do Planalto”. “Quando sai notícia que Bolsonaro deu cargo para Ciro Nogueira (senador) para viabilizar a indicação do Eduardo Bolsonaro (deputado federal e filho do presidente) à embaixada (dos Estados Unidos) no Senado, é verdade. Quando falam que a superintendência do Ibama nos 27 Estados estão sendo loteadas politicamente, é verdade”.
O deputado voltou a dizer que errou em apoiar Bolsonaro e estendeu as críticas aos filhos do presidente. “Tem cara que quer fechar o Parlamento e defende que de 1964 a 1985 foi democracia falando que é conservador. Isso não é ser conservador, mas sim revolucionário. É você ser mais parecido com Stalin (ex-líder comunista da União Soviética)”, disse, referindo-se ao vídeo que circulou em 2018 onde Eduardo Bolsonaro diz que para fechar o Supremo Tribunal Federal (STF) “basta um soldado e um cabo”. “Meu filho, bem vindo ao PCdoB. Isso não tem nada de liberal, nem de conservador”, ironizou.