Laura Serrano

Por que a moeda única Brasil-Argentina não é a solução

Harmonizar políticas econômicas e fiscais é um grande desafio

Por Laura Serrano
Publicado em 13 de fevereiro de 2023 | 05:00
 
 
 
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Atualmente, uma das principais discussões políticas envolve a criação de uma moeda única entre Brasil e Argentina. É fundamental lembrarmos que esse não é um assunto estritamente político, mas sobretudo econômico. A implementação de uma moeda única entre os dois países apresenta vários desafios e problemas.

Brasil e Argentina têm economias diferentes em termos de tamanho, estrutura e desenvolvimento. Harmonizar as políticas econômicas e fiscais é difícil e exige ajustes significativos. A economia do Brasil é mais diversificada e ampla do que a da Argentina, com uma base industrial mais robusta e uma economia de mercado mais desenvolvida.

Diferenças das economias

A economia do Brasil é significativamente maior do que a da Argentina, com uma produção anual de US$ 2,2 trilhões em comparação com US$ 368 bilhões na Argentina. O Brasil tem um histórico de crescimento econômico mais estável e consistente do que a Argentina, que tem sofrido com severas oscilações do seu PIB nas últimas décadas.

O Brasil tem uma base industrial mais sólida, com destaque para o setor de bens de consumo, enquanto a Argentina tem uma economia baseada em commodity, como a produção agrícola e pecuária. O Brasil é um player mais ativo no comércio internacional, com uma rede mais ampla de acordos comerciais e participação em blocos econômicos regionais, enquanto a Argentina tem uma participação limitada no comércio com outros países.

A Argentina tem uma história de alta inflação, enquanto o Brasil tem conseguido controlar sua inflação e mantê-la em níveis mais estáveis. Essas diferenças na matriz econômica dos dois países precisam ser levadas em conta na avaliação da implementação de uma moeda única. Brasil e Argentina têm histórico de ciclos econômicos diferentes e a sincronização dos ciclos pode ser extremamente difícil ou mesmo prejudicial.

Desafios da implementação

Os governos Lula e Fernández alegam que a moeda única pode aumentar a integração econômica entre os dois países e levar a uma maior cooperação econômica entre Brasil e Argentina. De fato, uma moeda única pode facilitar negócios, comércio e viagens entre os dois países. Por outro lado, ao contrário do que comumente se pensa, a moeda única tende a aumentar a desigualdade econômica entre regiões com diferentes contextos de desenvolvimento.

Além de todos os aspectos econômicos, a implementação de uma moeda única é uma empreitada técnica complexa que envolve a harmonização de sistemas financeiros, a criação de instituições comuns e a definição de regras e procedimentos padronizados. Tudo isso levanta importantes preocupações sobre a perda de soberania nacional. Na hipótese de moeda única entre Brasil e Argentina, como ficaria, por exemplo, a autonomia do nosso Banco Central?

Foi aventada a possibilidade de criação de um banco central único responsável por implementar a política monetária de ambos os países. Isso significaria que o Banco Central do Brasil e o Banco Central da Argentina perderiam sua autonomia e se tornariam subordinados a esse novo banco central supranacional. Um grande retrocesso para o sistema econômico brasileiro.

Impacto na vida da população

A criação de uma moeda única entre Brasil e Argentina deve ser analisada para além do barulho das narrativas políticas da esquerda.

Trata-se de uma mudança econômica de grande relevância e enorme impacto na vida da população dos dois países. O argentino não melhoraria muito de vida e o brasileiro certamente ficaria mais pobre.

A moeda única por si só não consiste em medida capaz de salvar a economia argentina mas, por outro lado, tem potencial significativo de afundar a economia brasileira junto.

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