Opinião

Setembro Amarelo: a pandemia e a saúde mental das crianças

Necessária articulação entre família, escola e serviço de saúde


Publicado em 27 de setembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Este mês de setembro é o mês da prevenção ao suicídio. Desde 2014, acontece no Brasil a campanha Setembro Amarelo, criada pelo Centro de Valorização da Vida, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Segundo o CFM e a ABP, cerca de 96,8% dos casos de suicídio são relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias.

O Brasil é o oitavo país em número absoluto de suicídios: 13 mil por ano. São mais de 1 milhão de suicídios em todo o mundo a cada ano, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa realidade estarrecedora tem piorado recentemente, com aumento significativo dos casos entre os jovens. Em uma década, o Brasil registrou crescimento de 10% nos casos de suicídio entre crianças e adolescentes dos 9 aos 19 anos, segundo estudos do Ministério da Saúde de 2015.

O suicídio é uma questão de saúde pública em todos os países. De acordo com a OMS, é possível prevenir o suicídio desde que, entre outras medidas, os profissionais de saúde de todos os níveis de atenção estejam aptos a reconhecer os fatores de risco presentes, para que possam adotar medidas para mitigar esses riscos.

Com todas as vidas perdidas para a pandemia da Covid-19 em nossas cidades e até mesmo em nossas famílias e entre amigos, podemos refletir que valorizar a vida em 2021 ganhou novo significado. Os debates da campanha Setembro Amarelo geram reflexão para ações em favor de uma vida digna, com acesso à prevenção, proteção e reabilitação das condições de saúde.

Especialistas afirmam que a pandemia gerou uma situação de estresse que pode levar ao desenvolvimento ou agravamento de transtornos mentais em indivíduos suscetíveis, inclusive crianças mais vulneráveis. Um recente estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) constatou que uma em cada quatro crianças e adolescentes apresenta ansiedade e depressão durante a pandemia.

O diagnóstico de depressão infantil é bem mais complexo do que em adultos. A apresentação dos sinais da depressão depende da idade, do nível de maturidade da criança, e a caracterização da doença depende do contexto em que os sintomas aparecem. Para contornar essa triste situação, é necessário articulação entre a família, a escola e os serviços de saúde.

Episódios de depressão na família aumentam consideravelmente as chances de desenvolvimento da doença nas crianças, principalmente se os pacientes forem o pai ou a mãe. A existência de transtornos associados à depressão infantil, principalmente ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade, é mais comum do que se imagina.

O profissional especializado é capaz de realizar o diagnóstico e propor o tratamento adequado, mas a família também pode observar alguns sinais importantes.
Estudos médicos apontam que os principais sinais são: alterações no apetite ou sono; dificuldade de concentração; cansaço; sentimentos de inutilidade ou culpa; sentimentos contínuos de tristeza ou desesperança; maior sensibilidade à rejeição; irritabilidade; raiva com explosões de choro; retraimento social; perda de interesse em eventos e atividades em casa, na escola ou em momentos de lazer; queixas físicas (como dor de cabeça) que não melhoram; pensamentos suicidas.

É fundamental analisarmos também a importância das escolas enquanto rede de apoio para o desenvolvimento das crianças e adolescentes, inclusive no que tange à promoção da saúde mental infantil. Psiquiatras especialistas afirmam que a escola deve ser cada vez mais pensada como um lugar não apenas de aprendizagem de conteúdo, mas também como um espaço de socialização e de pertencimento.

 

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