Repercussão

Líderes da ALMG criticam fala de Zema sobre democracia e ajuste fiscal

Parlamentares disseram que governador foi infeliz ao dizer que o período pós-regime militar era uma democracia irresponsável

Por Sávio Gabriel
Publicado em 24 de setembro de 2019 | 19:20
 
 
 
normal

A fala do governador Romeu Zema (Novo), que na última segunda-feira (24) classificou o período de redemocratização brasileira como “democracia irresponsável” e antecipou que o plano de recuperação fiscal deve desagradar ao funcionalismo público não foi bem recebida na Assembleia Legislativa (ALMG). Líderes ouvidos pela reportagem classificaram o discurso do governante como infeliz e lembraram que a Casa tem independência para analisar o pacote de projetos que deve ser enviado até o fim do mês.

“O que estiver sob a égide do Executivo, ele pode privatizar o que quiser. Agora, os poderes são independentes, e ele está esquecendo disso. Ele pode falar como cidadão, mas como governante esquece dessa independência”, disse o deputado Cássio Soares (PSD), líder do bloco Liberdade e Progresso.

Na avaliação do parlamentar, Zema foi infeliz ao se referir ao período pós-regime militar. “A democracia dá trabalho. É complexa, mas é o sistema mais justo de governar uma nação. É diferente de você administrar uma empresa”, disse o deputado. Zema é empresário do ramo do varejo.

O líder da oposição, André Quintão (PT), seguiu a mesma linha. “Todos nós sabemos que foi um golpe militar, e coincidentemente também nasci em 1964. O governador desconhece que foi uma articulação que contou com a participação dos Estados Unidos, dos militares, de políticos financiados por institutos vinculados a grupos econômicos poderosos, que depois gerou mortos e desaparecidos”, disse.

Durante palestra realizada no 10º Fórum Liberdade e Democracia, Zema também adotou um tom mais ameno ao falar sobre o regime miliar. “Sou nascido em 1964, exatamente no ano da revolução, ou do golpe militar. Aí depende de quem quer dar o nome. De 1964 até 1985, vivemos um regime militar, que alguns chamam de ditadura, de repressão, e de 1985 até o ano passado vivemos uma democracia que posso dizer, por mim mesmo, que foi uma democracia irresponsável”, disse o governador, afirmando que “a democracia permitiu que algumas categorias da sociedade se apropriassem do Estado”.

A fala foi criticada por Eduardo Wolf, doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), que sucedeu o governador no evento. “E, se o governador faltou à aula de formação política do Partido Novo, ainda está em tempo para voltar e aprender que isso é uma ditadura”, disparou o professor.

Caminho único

O deputado André Quintão voltou a reforçar que o governo de Minas continua insistindo em apenas uma alternativa para sair da grave crise fiscal. “Nós entendemos e já demos um diagnóstico comum da crise e do déficit estrutural fiscal do Estado, mas acreditamos em outras alternativas”, disse, referindo-se a discussões sobre as renúncias fiscais no Estado e à compensação dos recursos da Lei Kandir.

“Precisamos também combater a sonegação e criar mecanismos de cobranças daqueles que devem ao Estado”, acrescentou o deputado, que fez um comparativo com a situação vivida pelo Rio de Janeiro, que aderiu ao plano de recuperação fiscal em setembro de 2017. “O que de fato salvou o Rio foi a antecipação de royalties do petróleo, e não apenas medidas do ajuste fiscal”.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!