SÃO PAULO " De uma lista de 28 itens apontados pelos autores do programa de governo do PT na campanha eleitoral de 2002 como fundamentais, apenas três foram cumpridos integralmente desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao poder.
A metade das propostas está em fase de implantação ou foi executada parcialmente passados quase três anos e meio da posse.
Onze promessas foram abandonadas. Cortes de gastos decorrentes da política macroeconômica, resistências dos governadores por motivos políticos, interesses corporativos e desconfiança de setores da polícia e do Judiciário são as causas apontadas por especialistas para a não-implantação das promessas de campanha do então candidato Lula para a segurança pública.
O governo alega que uma série de 50 ações na área de segurança pública, muitas delas não previstas no plano original de Lula, foi executada desde 2003.
Estardalhaço
O Projeto de Segurança Pública para o Brasil foi lançado com estardalhaço em fevereiro de 2002 ainda sob o impacto da morte do prefeito de Santo André e coordenador do programa de governo de Lula, Celso Daniel, assassinado em janeiro daquele ano.
O documento de 108 páginas que demandou mais de um ano de debates envolvendo mais de uma centena de especialistas de diversas áreas e partidos políticos sob o comando do Instituto Cidadania " ONG que era presidida por Lula " foi elogiado até por adversários do PT, como o então ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), quando foi lançado.
Interesses eleitorais
Os motivos apontados para a timidez na execução das propostas vão desde interesses eleitorais do presidente e dos governadores até resistências por parte dos setores diretamente envolvidos no assunto e cortes de gastos decorrentes da política econômica.
Para o ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares, um dos coordenadores do projeto, que saiu brigado do governo ainda em 2003, Lula deixou de priorizar a segurança temendo ônus eleitorais em caso de crises graves e preferiu priorizar as "ações midiáticas" da Polícia Federal.
"O governo federal renunciou à segurança pública porque o presidente avaliou que não valeria a pena assumir o protagonismo das mudanças numa área tão problemática à medida que, apresentando-se como líder da reforma da segurança, o presidente se exporia a cobranças e críticas sempre que houvesse qualquer tragédia. Achou que seria politicamente mais prudente deixar a bomba no colo dos governadores. Até porque os resultados positivos das mudanças só viriam a longo prazo e não trariam, portanto, dividendos políticos" diz Soares.