O número de manifestantes na Esplanada do Ministérios, neste feriado de 7 de Setembro, em Brasília, chamou atenção até mesmo dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Para muitos, a manifestação foi o maior ato em apoio ao atual presidente da República, em Brasília. “A maior que eu fui”, disse um apoiador presente. O ânimo ocorreu mesmo sem a manifestação chegar a mais de um milhão de pessoas.
Sem registros graves de ocorrências, os apoiadores do presidente Bolsonaro se reuniram na manhã desta terça-feira (7) com discurso contrário ao Supremo Tribunal Federal (STF) – principalmente contra os ministros Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso.
Vestidos com camisas da Seleção Brasileira, bandeiras do Brasil, bonés e máscaras com temas ligados ao presidente, os manifestantes se animaram de olho em 2022.
Pessoas de diversos Estados brasileiros chegaram a Brasília em carros e ônibus – a maioria. O Setor Hoteleiro da capital foi tomado pelos manifestantes.
De Ipatinga, na região do Vale do Rio Doce, o mecânico Silvano Teixeira Dias saiu da cidade mineira no domingo às 19h e chegou a Brasília por volta das 9h de segunda-feira (6). “Superou as expectativas, muito bom”, disse. Durante a manifestação ele disse que torcia para que tudo continuasse pacífico.
Pandemia
Muitas pessoas andaram pela Esplanada dos Ministérios sem máscara, outras tiravam do rosto com frequência, o que não é recomendado pelas autoridades de saúde pública.
Em alguns caminhões com som, manifestantes defendiam vacinação, mas também o tratamento precoce para combater a Covid-19. Este, sem eficácia comprovada pela ciência.
Discurso de ataque
Bolsonaro, ao discursar, voltou a repetir que o problema do país é atuação de ministros do STF. Sem citar nomes no discurso em Brasília, Bolsonaro afirmou que Luiz Fux, presidente do Supremo, deve enquadrar ministros como Alexandre de Moraes.
“Não mais aceitaremos que qualquer autoridade, usando a força do Poder, passe por cima da nossa constituição. Não mais aceitaremos qualquer ação que venha de fora das quatro linhas da constituição. Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica, da região dos Três Poderes, continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas. Ou o chefe desse poder enquadra o seu, ou esse poder pode sofrer aquilo que não queremos”, disse.
A fala do presidente teve resposta durante a tarde desta terça. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que o partido precisa ser oposição a Bolsonaro e pediu, pela primeira vez publicamente, o impeachment do presidente.
"Até hoje eu nunca havia feito manifestação pró-impeachment. Me mantive na neutralidade, entendendo que até aqui os fatos deveriam ser avaliados e julgados pelo Congresso Nacional. Mas depois do que assisti e ouvi hoje, em Brasília, ele claramente afronta a Constituição, ele desafia a democracia e empareda a Suprema Corte brasileira. Volume de crimes, no dia de hoje, são mais que suficientes", disse Doria.
Aliança pelo Brasil
Diversas pessoas colheram assinaturas de apoiadores do Aliança pelo Brasil, partido que Jair Bolsonaro pretende criar, para tentar quebrar a principal barreira para o partido ser criado: chegar a quase 500 mil nomes de eleitores. Bolsonaro tenta criar o partido desde o final de 2019, quando deixou o PSL.
Spray de pimenta
O único momento mais tenso na manhã desta terça foi a tentativa de um pequeno grupo em ultrapassar o bloqueio da PM para chegar aos Supremo Tribunal Federal (STF). A PM do Distrito Federal, no entanto, utilizou spray de pimenta para conter os manifestantes.
Um senhor com capacete estilo militar disse que estava aqui para “invadir o STF”. Neste momento, a maioria afirmou que não o acompanharia.
De acordo com a revista “Veja”, 400 mil pessoas estiveram na Esplanada dos Ministérios. O jornal “Valor Econômico” citou 150 mil pessoas.
Tensão à noite
Entre a noite de segunda e esta terça, o momento de maior tensão foi a chegada de apoiadores de Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios. Eles conseguiram furar bloqueio da PM e acamparam nas proximidades da Praça dos Três Poderes.
Na altura da rodoviária de Brasília, um congestionamento de carros e, principalmente, caminhões, ocorreu durante a madrugada, porque a PM fez um bloqueio para evitar maiores problemas. Os manifestantes tentaram furar o bloqueio com gritos de “libera”, mas a PM não cedeu.