MATEUS SIMÕES

Deixem o Carnaval em paz

É isso que precisamos da prefeitura e do governo estadual


Publicado em 25 de fevereiro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Estamos às vésperas de mais um Carnaval que, tenho certeza, confirmará BH como um destino regional preferencial, com destaque nacional. O que muita gente não lembra é que esse é um fenômeno recente.

Durante décadas, desde os anos 80, a prefeitura de BH tentou organizar o Carnaval na cidade e, apesar de investimentos altos, programação paga, planejamento e publicidade, ele nunca decolou… até que a prefeitura largou o Carnaval para lá, e ele desabrochou!

O fenômeno de BH é a prova mais empírica da proposta liberal de organização social não dirigida como a solução para a maior parte dos problemas com as quais o indivíduo não consiga resolver por si mesmo.

No fundo, é tudo um desdobramento do princípio da subsidiariedade, pelo qual apenas transferimos para um ente maior aquilo que os entes menores não são capazes de resolver sozinho. Ou seja: esperar que o governo decida o horário, o local e até as músicas que os foliões vão brincar é uma tolice.

O indivíduo decide a roupa que vai usar, o tempo que vai ficar e o bloco a que vai se juntar. O bloco define o dia e horário da festa, o trajeto do desfile e o repertório de músicas.

A cidade pode ter um espaço nisso, por exemplo, para definir que ruas fechar ou onde instalar banheiros públicos. Mas veja: é função subsidiária, apenas para aquilo que os grupos menores não foram capazes de resolver.

A festa em BH carece de melhorar em civilidade, com menos sujeira e mais respeito ao patrimônio, público e privado. Mas isso é menos uma questão de intervenção do Estado e muito mais de cultura de respeito… Essa que o Estado pode promover, oferecendo uma cidade bonita e limpa (o que BH não oferece hoje), que leve as pessoas a se constrangerem de estragar o que é delas… Podemos enveredar pela teoria das janelas quebradas – se o poder público não cuida para que o espaço comum permaneça limpo e seguro, ele será a cada dia mais sujo e perigoso.

Apesar dos problemas, que ainda levarão tempo para se corrigirem, é evidente que a festa cresce e melhora, em tamanho, qualidade e envolvimento social, porque é algo que deriva do povo que vive e trabalha aqui, e não dessa figura artificial que quer comandar a vida dos outros.

Minha expectativa é que os políticos, nossos administradores públicos, possam perceber essas evidências com o tempo e permitir que a economia volte a se organizar, para que Belo Horizonte e Minas Gerais possam voltar a crescer, desempenhando todo o potencial de seus habitantes. O fato é que, ao pensar em empreender, seja organizando um bloco de Carnaval ou uma indústria de alta tecnologia, deveríamos pensar em possibilidades, alternativas e planos, mas somos obrigados a gastar quase todo o nosso tempo e esforço tentando nos livrar dos labirintos da burocracia estatal, até que não sobre quase nenhuma energia para empreender…

Fico sempre lembrando, ao discutir esse tema, do ditado de nossas avós: muito ajuda quem pouco atrapalha. É exatamente isso que precisamos da prefeitura e do governo estadual: que eles se contenham de atuar onde não sejam absolutamente necessários e, com o tempo, assim como ocorreu com o Carnaval de Belo Horizonte, poderemos ver desabrochar maravilhas antes inimagináveis.

Que a organicidade, a espontaneidade e a vida do Carnaval de BH possam marcar como exemplo a capacidade de realização das pessoas, por elas mesmas, sem a interferência abusiva do Estado para dirigir cada detalhe da nossa vida.

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