O baixo nível da represa de Furnas, no Sul e Sudoeste de Minas Gerais, vai continuar sendo motivo de dor de cabeça para os moradores e o setor produtivo dos 34 municípios que têm o lago como base econômica. Pelo menos foi esta a sensação que prevaleceu entre os presentes à audiência pública realizada ontem na Comissão de Infraestrutura do Senado. Além das terras mineiras, o terceiro maior reservatório do país beneficia os Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná.
O principal questionamento dos senadores aos representantes do Operador Nacional do Sistema (ONS) e da Centrais Elétricas Furnas foi o motivo de a represa manter indicadores baixos de níveis de água apesar de a região ter registrado fortes chuvas nos últimos meses. Em dezembro do ano passado, a represa chegou a operar com 12,23% da sua capacidade. Anteontem, o registro feito pela Agência Nacional de Águas (ANA) foi de 48,68%, quase metade do volume útil.
Diante dessas marcas, a Associação dos Municípios do Lago de Furnas tem pleiteado junto aos órgãos competentes estabelecer uma cota mínima de operação de 762 m acima do nível do mar, três a menos da máxima. Esse indicador é considerado o mais seguro para atender todos os setores, como turismo e geração de energia elétrica. Mas, desde o primeiro semestre de 2019, tem ocorrido uma queda frequente do nível. Hoje, a represa tem registrado média de 760 m de cota.
O diretor-presidente de Furnas, Luiz Carlos Ciocchi, reconheceu a situação “calamitosa” do reservatório e afirmou que a empresa cumpre as determinações do ONS e não pode estabelecer o nível dos reservatórios. Ele ainda disse que o baixo nível de Furnas é resultado das poucas chuvas registradas nos últimos anos. Também foi ressaltado pelo executivo que a cota é definida pelo ONS e pela ANA.
Já o diretor geral do ONS, Luiz Eduardo Barata Ferreira, declarou desconhecer quem seria o responsável por determinar essa cota. Ele garantiu que é de interesse do órgão a grande quantidade de água nos lagos, mas que, por Furnas estar entre os três maiores reservatórios do país, requer um grande volume de chuvas para transbordar. “Desde 2012 as regiões Nordeste e Sudeste do país vêm passando por uma recessão climática muito forte, com chuvas muito abaixo da média, que tem impedido que recuperemos os níveis dos reservatórios”.
Autor do requerimento da audiência, Rodrigo Pacheco (DEM) vai solicitar ao Instituto de Criminalística da Polícia Federal uma perícia para apurar se o baixo nível da represa deve-se ao desvio da água para ser usada no abastecimento da hidrovia Paraná-Tietê, em São Paulo.