Repercussão

Deputados de MG acreditam que manifestações radicais vão se intensificar

E para que o Brasil não “imploda politicamente, a maioria dos políticos acredita que é necessário que o presidente Jair Bolsonaro recue

Por Fransciny Alves
Publicado em 01 de junho de 2020 | 18:00
 
 
 
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A avaliação entre os parlamentares mineiros na Câmara dos Deputados é de que, a partir de agora, vão se intensificar no país protestos semelhantes aos que ocorreram no último fim de semana. E, para que o Brasil não “imploda” politicamente a ponto de não se enxergar qualquer perspectiva de melhora, a maioria dos políticos acredita que é necessário que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recue de declarações e de posturas polêmicas, em que minimiza a importância da democracia e possibilita a ruptura dos Poderes.

No último domingo, grupos favoráveis à democracia decidiram ir para as ruas. Na ocasião, foram registrados confrontos entre essa ala de manifestantes e aqueles que há meses estão organizando protestos pedindo o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Esses atos antidemocráticos contam com a presença do presidente. Essas participações, inclusive, estão presentes nas justificativas de pedidos de impeachment contra o chefe do Palácio do Planalto.

Até hoje, foram protocolados 44 requerimentos na Câmara pedindo o afastamento de Bolsonaro do cargo e, para que tenham andamento, é preciso do aval do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Contudo, os deputados avaliam que essa possibilidade vai continuar em banho-maria, uma vez que ele conta com o apoio de um dos maiores grupos do Legislativo, o chamado “centrão”. Soma-se a isso o fato de que os parlamentares ainda consideram que a popularidade dele ainda é alta, de 30%, e esse tipo de pauta somente vai pra frente com apoio popular massivo.

A leitura é de que é preciso atingir um índice menor que dois dígitos, parecido com o registrado durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), para andamento dessa pauta. E, para os políticos que conversaram com a reportagem, essa fatia da população é fiel ao presidente e somente deve diminuir se a economia for ainda mais impactada. Um deputado do centrão que falou sob a condição de anonimato afirmou que há duas possibilidades: o presidente escutar os aliados e recuar com posicionamento em relação às críticas ao STF e ao Parlamento; ou os protestos vão crescer de tal maneira que vai se perder totalmente o controle político do país. Ele acredita que a segunda hipótese tem mais chances de ocorrer.

Para o presidente do PDT de Minas e secretário da Mesa Diretora, Mário Heringer, as pessoas resolveram ir para as ruas porque “perderam a paciência” de ficar em casa sem renda e sem perspectiva, enquanto assistem apoiadores do presidente ignorando recomendações técnicas, provocando as instituições democráticas e tratando o coronavírus como “gripezinha”. “E esse é o primeiro estopim para começar a ter um movimento semelhante à 2013, mas com reação mais intensa. A sociedade percebeu que se ela não fizer, outros não farão. Acho que começamos a assistir um momento de altíssimo tensão no país. E, para existir, um impeachment precisaria de movimento popular”, avaliou.

O deputado Júlio Delgado (PSB) também concorda que os atos do último fim de semana foram inspirados pelos atos anti-racistas nos Estados Unidos e porque a população está cansada de ver ultrajes aos direitos democráticos. Ele ainda afirma que, no meio dessa crise, o Judiciário é quem tem agido e tem ficado clara a inoperância do Legislativo quando diz respeito às atitudes de Bolsonaro, principalmente com “acanhamento” de Maia. Por isso, o mineiro conta que os parlamentares contrários a essa situação estão se articulando para tomar o pelotão de frente dessa crise política.

“Estamos buscando outros caminhos, como as convocações dos ministros na Câmara, impeachment dos ministros via Supremo, cobrar a retomada da CPMI das Fake News no Congresso, retomada do Conselho de Ética. Se preciso, um grupo de 60 deputados, respeitando as normas de distanciamento, vão até o gramado do Congresso, aos salões da Câmara, para protestar e defender a democracia. E se a gente não conseguir, vamos pressionar o STF. Se nós somos o pelotão de frente dessa crise política, não dá para ficarmos escondidos”, desabafou.

Líder do Solidariedade na Câmara, Zé Silva, analisa que a única saída para o que chamou de “pandemia na política” é um acordo entre os três Poderes, mas especialmente entre Executivo e Judiciário, de modo em que cada um cumpra o seu papel respeitando o outro. Ele completa que, se o presidente pedisse um conselho para ele, falaria para ele deixar de apoiar manifestações que não fortalecem a democracia. Isso, no entanto, não é visto como uma chance real pelos parlamentares no Congresso.

“Eu não vejo no Congresso perspectiva de avanço de um pedido de impeachment, mas o presidente perde muito tempo e energia em manifestações antidemocráticas. Acredito que as manifestações populares em defesa da democracia e liberdade tende a aumentar. Eu sou da geração que participou das “Diretas já” e sei bem o quanto é preciosa a democracia, a liberdade de expressão, mas queremos o confronto de ideias, de debates, e não o físico”, disse.

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