Em Davos

Na Suíça, mas de olho no Brasil

Para Temer, julgamento de Lula mostra que as instituições estão funcionando com tranquilidade


Publicado em 24 de janeiro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Zurique. O julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostra que as instituições brasileiras estão “funcionando com tranquilidade”. A avaliação é do presidente Michel Temer, que desembarcou na terça-feira (23) em Zurique e, na quarta (24), participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Sua participação, porém, coincide com o julgamento do ex-presidente, em Porto Alegre (RS), na quarta-feira, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Ainda que empresários e organizadores tenham declarado ao Estado que estarão com um olho em Davos e outro no tribunal brasileiro, Temer insiste que não há risco de “mal-estar”. “Não acredito que isso ocorra. Não vai causar mal-estar nenhum. É natural”, disse. “Isso significa que as instituições brasileiras estão funcionando e funcionando com toda a tranquilidade”, concluiu Temer.

O presidente interino afirmou ainda que, em vez de sinalizar instabilidade política, o julgamento de Lula em segunda instância “dá tranquilidade para quem quiser investir no país”. Temer indicou que sua esperança é que, com sua participação em Davos, “os investidores se interessem cada vez mais pelo Brasil”.

Em Davos, Temer apresentará um programa de concessões e privatizações. O governo também aposta que o presidente possa avançar uma série de discussões sobre acordos comerciais, incluindo aquele negociado há anos entre o Mercosul e a União Europeia. Sua comitiva inclui os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho, além do deputado Beto Mansur (PRB-SP) e da senadora Marta Suplicy (MDB-SP).

Tudo ao mesmo tempo. Entre os organizadores do evento, não se esconde o fato de que tão importante quanto ouvir a mensagem de Temer será saber o que ocorrerá em Porto Alegre, a 10,5 mil quilômetros de distância de Davos.

Em declarações ao Estado, o presidente do Fórum, Borge Brende, insistiu na semana passada que o empresariado internacional aposta no fato de que 2018 será um ano de recuperação para a economia brasileira. Mas ele também admitiu que o julgamento de Lula é “uma incógnita”. Sua avaliação é a mesma traçada por diversos outros organizadores consultados pelo Estado.

Davos, porém, deixa claro que colocou o palco para que as autoridades brasileiras possam dar suas versões do que ocorre no país. Numa delas, Temer, empresários e banqueiros falarão sobre a tarefa de “moldar a nova narrativa do Brasil”.

 

Tucanos acreditam em vitória nas urnas

São Paulo. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse na terça-feira que vai derrotar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e qualquer outro candidato petista na disputa presidencial deste ano.

Sobre o julgamento de Lula, que ocorre na quarta-feira em Porto Alegre (RS), o tucano evitou declarar preferências por resultado. “Decisão judicial se respeita. Eu não tenho detalhes da questão jurídica nem sou da área do direito”, afirmou, durante inauguração da estação Higienópolis-Mackenzie, da linha 4-amarela do metrô. “Agora, nós vamos enfrentar e derrotar o PT, seja quem for o candidato. Concorrente não se escolhe. Estamos preparados para enfrentá-los”, declarou Alckmin.

Outro tucano pré-candidato à presidência, o prefeito de São Paulo, João Doria, disse que esta quarta-feira “será um dia que trará mudanças na história política recente do país”. Ele é um dos que acreditam que, em termos políticos, seria melhor que o petista concorresse à eleição de 2018 para que sua saída do cenário seja por meio dos votos.

“Compartilho dessa corrente. Acredito na condenação e na punição do presidente Lula, mas, politicamente, o ideal seria ele ser candidato e derrotá-lo nas eleições de outubro para enterrarmos o mito Lula e aprisionarmos o Luiz Inácio”, declarou.

 

Popularidade é argumento do PT

Porto Alegre. A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou na terça-feira que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “está sendo condenado mesmo sendo inocente” e que ele tem sido “perseguido sem perdão” pela Justiça. “Enquanto isso, outros (políticos) com gravações e malas de dinheiro estão protegidos e não estão submetidos à Justiça e podem disputar as eleições”, criticou.

Durante ato promovido pelas mulheres do PT, em Porto Alegre, Dilma afirmou ainda que, por causa de sua crescente popularidade, “antes Lula tinha que ser destruído, agora tem que ser aniquilado”. “É um processo de perseguição política”, disse sobre o caso do triplex do Guarujá (SP).

A deputada estadual gaúcha e presidenciável pelo PCdoB, Manuela D’ávila, também discursou no ato de mulheres em apoio a Lula. Ela afirmou que o julgamento do líder petista pelo Tribunal Federal da 4ª Região (TRF-4) é um “desdobramento do golpe” sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2016. A parlamentar também acusou o Judiciário de ultrapassar suas atribuições e emitir juízo político. “O único juízo político ao qual eu me submeto é o juízo das urnas, e é esse o direito que eu quero para o presidente Lula”, afirmou Manuela.

 

Zelador torce por condenação

São Paulo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem no zelador José Afonso Pinheiro um eleitor arrependido. Mais do que isso, Pinheiro torce para que o petista seja condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Em abril de 2016, o zelador foi demitido do Condomínio Solaris, no Guarujá (SP), prédio onde fica o polêmico triplex que motivou o julgamento do ex-presidente. “Eu espero que a Justiça seja feita. Como ele já foi condenado na primeira, eu espero que ele seja condenado na segunda instância também”, afirmou Pinheiro.

Legalidade

“(As investigações da operação Lava Jato) foram realizadas em estrito cumprimento da lei brasileira. O direito de defesa foi totalmente assegurado.”

Sérgio Amaral

embaixador do Brasil em Washington, sobre as investigações da operação Lava Jato, Em resposta à carta de deputados americanos que criticaram “violações flagrantes” no processo judicial contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Condenação

“Não tenho grandes ilusões em relação ao julgamento (do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva). Dois a um (pela condenação) já seria uma vitória.”

Gilberto Carvalho

um dos principais auxiliares de Lula durante seu período na Presidência da República. Caso o ex-presidente seja condenado por dois a um, seus advogados poderão apresentar um recurso chamado de embargo infringente no próprio TRF-4

Cenários

“Politicamente, o ideal seria que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pudesse se candidatar nas próximas eleições. Mas, juridicamente, o que trará tranquilidade ao país é o respeito à Constituição.”

Moreira Franco

ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência do governo Michel Temer, durante viagem a Davos, na Suíça, onde participa de reuniões no Fórum Econômico Mundial

Alternativa

“Nessas circunstâncias, não teria tesão (em ser o candidato do PT à Presidência da República). Não há plano A, B ou C. Apenas plano L, Lula presidente.”

Jaques Wagner

Ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff e ex-governador da Bahia, Em discurso na terça-feira em evento do PT na Assembleia Legislativa gaúcha, sobre sua possível candidatura caso o ex-presidente Lula seja impedido de participar das eleições

Apoio à Lava Jato

“Todos são iguais perante a lei, e essa é a base do regime democrático em qualquer lugar do mundo. Por isso, a Rede também tem defendido o fim do foro privilegiado, que dificulta o julgamento dos políticos investigados por corrupção.”

Rede Sustentabilidade

por meio de nota

Tribunal popular

“Considera-se que o tribunal político mais adequado em uma democracia é o voto popular, em eleições livres – avaliação essa que é comum, no presente caso, à maioria das forças políticas responsáveis, independentemente de seu espectro ideológico.”

PSB

por meio de nota

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