Pavimentando o caminho

Pacheco coloca popularidade a serviço do PSD, de olho no governo de Minas

Partido chega ao fim da janela partidária com o maior número de prefeitos filiados e maior representação partidária em Minas

Por Hermano Chiodi
Publicado em 05 de abril de 2024 | 14:00
 
 
 
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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), entrou em campo nos últimos dias da janela partidária para dar a amarração final às articulações do PSD para a disputa municipal. De olho no cenário eleitoral de 2026, o senador por Minas tem intensificado os encontros com possíveis aliados e reforçado a presença em cidades chaves para a disputa pelo governo de Minas.

Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu o cargo, em 2023, e o nome de Pacheco começou a despontar como possível candidato para o governo do Estado, o PSD conseguiu a filiação de 52 prefeitos mineiros. Destaque para cidades importantes, com mais de 100 mil habitantes, como Lavras, Passos e Uberaba, onde a atual prefeita, Elisa Araújo (PSD), vai tentar a reeleição. “Busco estar em um partido forte, com influência no governo federal e no Congresso Nacional”, disse a prefeita no evento de filiação.

A missão de buscar novos aliados ao partido tem sido cumprida pelo presidente do PSD em Minas, deputado estadual Cássio Soares, e por lideranças como o deputado federal Luiz Fernando Faria (PSD), coordenador da bancada mineira em Brasília. A figura do presidente do Senado tem sido utilizada para atrair estes apoiadores. "É uma das maiores lideranças de Minas, um interlocutor importante, que tem um potencial de atração grande”, destaca.

No balanço da janela partidária, período no qual candidatos com mandato podem mudar de legenda para disputar as eleições municipais, que acaba neste sábado, o PSD termina como um dos mais bem sucedidos na dança de cadeiras. O partido, que é o único com um representante mineiro entre os ministros de Lula, com Alexandre Silveira, ultrapassou o MDB e, atualmente, controla a maior quantidade de prefeituras do Estado - são cerca de 130 cidades sob controle da legenda. 

O pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público na FGV Lucas Gelape avalia que o movimento de adesão de prefeitos indicaria movimentação de campanha. “Minas Gerais tem muitos municípios pequenos, que dependem de recursos dos governos federal e estadual, e o Congresso tem papel importante. Ser presidente do Senado é um diferencial, mas não explica a adesão de prefeitos. Configura uma aposta, um movimento de aglutinação importante”, avalia o professor.

“É importante lembrar que a eleição para o governo de Minas em 2026 será uma eleição aberta, já que o governador Romeu Zema não pode se candidatar novamente. Ainda que o vice-governador (Mateus Simões) entre no pleito, o cenário segue indefinido e o apoio dos prefeitos pode ser um diferencial”, diz.

O PSD também se tornou líder em número de municípios com representação partidária, seja por diretório ou comissão. São cerca de 800 cidades mineiras com a presença do partido.

Cássio Soares, presidente da legenda, diz que a meta do PSD é lançar 400 candidatos nas disputas por prefeituras e eleger cerca de 50%. “Um bom resultado nas eleições municipais, com certeza vai nos dar força para uma candidatura nas próximas eleições”, diz, ao lembrar que o resultado em 2024 tem peso para a disputa pelo governo do Estado em 2026.

Essência de centro

O cientista política Carlos Ranulfo destaca que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, é importante, mas que existem outros fatores que favorecem o crescimento do PSD. 

"Existe uma lacuna na política brasileira que é a ausência de partidos legitimamente de centro. Que conseguem se afastar da radicalização e manter bom diálogo com governos de todas as ideologias, essa é a essência do PSD e que tem sido cumprida com excelência pelo presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab", destaca.

Ranulfo lembra que não é só em Minas que o PSD tem crescido, mas também em São Paulo. "Dois estados onde o PSDB tinha muita força e está perdendo presença", diz.

O argumento é defendido também pelo presidente da Legenda, Cássio Soares. "Nós conseguimos temos bom diálogo tanto com o governo Zema quanto com o presidente Lula, isso é o nosso diferencial", afirma.

Conversa boa

Nesta semana, Rodrigo Pacheco se encontrou com o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), e com a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT). O objetivo seria garantir uma aproximação com os políticos que disputam a reeleição em suas cidades.

Oficialmente, as agendas de Fuad e Marília no gabinete de Pacheco tiveram como objetivo apenas buscar apoio do presidente do Senado para destinação de verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), sobretudo na área de construção de habitações populares. 

Mas o fato é que, após a reunião, o prefeito de Belo Horizonte afastou da prefeitura os secretários municipais ligados a Marcelo Aro, Chefe da Casa Civil de Zema, e garantiu mais espaço para aliados de Rodrigo Pacheco na administração municipal. Também serviu para afastar o grupo vinculado ao governador, que deve estar em lado oposto a Rodrigo Pacheco em uma eventual candidatura ao governo estadual em 2026.

No caso de Contagem, onde existe uma disputa para indicação do vice na chapa de Marília, depois do encontro, o PSD conseguiu filiar o atual ocupante do cargo, Ricardo Faria. O anúncio da filiação veio um dia após Marília visitar o gabinete de Pacheco, em Brasília. Faria perdeu o apoio de sua antiga legenda, o MDB, de Newton Cardoso Jr, e procurava um caminho para permanecer na aliança com a petista.

Segundo aliados da prefeita, o martelo ainda não foi batido, mas o endosso da aliança pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pode ser o diferencial necessário para que Ricardo Faria dispute uma nova eleição como vice-prefeito.

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