Mea culpa

País Basco: ETA reconhece danos causados e pede desculpas a vítimas

Desde 1968, o grupo assumiu a responsabilidade pela morte de mais de 800 pessoas, além de ter deixado milhares de feridos


Publicado em 20 de abril de 2018 | 14:01
 
 
 
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O grupo separatista basco ETA divulgou nesta sexta-feira (20) comunicado em que "reconhece os danos causados no curso de sua trajetória armada" e pede desculpas às vítimas de seus atos. O ETA é considerado "organização terrorista" pela União Europeia e por outros países, entre os quais, os Estados Unidos.

A sigla ETA vem do basco Euskadi Ta Askatasuna, que significa Pátria Basca e Liberdade. O grupo foi fundado em 1959 com objetivo de promover a cultura basca e, no fim da década de 60, transformou-se em uma organização paramilitar armada, que lutava pela independência do País Basco (Euskal Herria, em basco).

Desde 1968, o grupo assumiu a responsabilidade pela morte de mais de 800 pessoas, além de ter deixado milhares de feridos. Em 20 de outubro de 2011, o ETA anunciou a cessação definitiva de suas atividades armadas.

No comunicado em que reconhece os danos que causou, o grupo se autodenomina "organização socialista basca de libertação nacional" e ressalta o compromisso de não repetir os atos de violência e com a superação definitiva das consequências do conflito.

"Estamos cientes de que, neste longo período de luta armada, causamos muita dor, incluindo muitos danos que não têm solução. Queremos mostrar respeito pelos mortos, feridos e vítimas das ações do ETA, na medida em que foram afetados pelo conflito. Como resultado de erros ou decisões equivocadas, o ETA também causou vítimas que não tiveram participação direta no conflito, tanto no País Basco quanto fora dele. Sabemos que, forçados pelas necessidades de todos os tipos de luta armada, nossas ações prejudicaram cidadãos sem qualquer responsabilidade. Nós também causamos sérios danos que não têm caminho de volta. Pedimos a essas pessoas, e a suas famílias, perdão. Essas palavras não vão resolver o que aconteceu, nem mitigar tanta dor. Nós dizemos com respeito, sem querer causar nenhuma nova aflição."

O grupo publicou ainda nota explicativa em que informa ter reivindicado "todas as ações que realizou em seus jornais, e nos quais a militância do ETA assumiu uma responsabilidade coletiva. "Achamos que é importante ressaltá-lo, já que ainda existem muitas ações violentas que ocorreram no País Basco que ninguém assumiu, que ninguém esclareceu".

Desde o início deste mês, o grupo vem anunciando a dissolução definitiva, que deve ocorrer no dia 5 de maio.

A organização não governamental (ONG) espanhola Associação das Vítimas do Terrorismo (AVT) divulgou sexta-feira um comunicado em que afirma que o pedido de desculpas "é mais um passo na estratégia, orquestrado pelo ETA desde que declarou o cessar-fogo em 2011, por diluir sua verdadeira responsabilidade, justificando o uso da violência para a imposição de seu projeto totalitário".

A organização afirma ainda que o ETA assumiu uma "responsabilidade coletiva sobre todos os ataques reivindicados em seus jornais sem assumir responsabilidades individuais que possam contribuir para o esclarecimento dos ataques pendentes de resolução".

O porta-voz do governo espanhol, Íñigo Méndez de Vigo, afirmou sexta-feira, no Twitter, que o "governo jamais – nem antes, nem depois – dará uma contrapartida ao ETA. As vítimas do ETA estarão sempre em nosso coração e em nossa mente", afirmou.

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