Baixa credibilidade

Partidos mudam de nome para tentar aproximação com eleitor

Para especialistas, estratégia reflete o desgaste sofrido pelas siglas nos últimos anos


Publicado em 13 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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Brasília. Saem o socialismo, o trabalhismo, o liberalismo e outras ideologias políticas. Entram verbos e substantivos parecidos com slogans: “Avante”, “Podemos”, “Cidadania”. Algumas das principais legendas políticas brasileiras (e outras sem tanta relevância) estão mudando de nome para tentar se reconciliar com uma sociedade que rejeita a política tradicional. Uma pesquisa Datafolha divulgada em abril informou que apenas 5% dos brasileiros “confiam muito” nos partidos.

Uma das mudanças mais recentes ocorreu no PPS (Partido Popular Socialista), que, desde março, prefere ser chamado de Cidadania. Em 1992, após a falência da União Soviética, lideranças importantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) fundaram o PPS para afirmar as aspirações democráticas dos socialistas. Quase três décadas depois, eles abandonam a referência ao socialismo para receber grupos que pregam a renovação, como o Agora, o Acredite e o Livres, que abandonou o PSL (Partido Social Liberal) no início de 2018, com a entrada do agora presidente Jair Bolsonaro.

“Mudamos o nome para melhor representar a nova sociedade”, disse Roberto Freire, presidente da legenda. “Na sociedade industrial, que não existe mais, os partidos representavam a classe operária ou a classe média. Hoje, um partido tem que representar todo o conjunto social”, acrescentou Freire.

Também mudaram de nome recentemente o PTN (que virou Podemos), o PSDC (Democracia Cristã) e o PP (Progressistas). O PRB quer se chamar Republicanos e o PR (Partido da República) vai voltar a ser PL (Partido Liberal). O MDB, que há pouco a mais de um ano se livrou do “P” de “partido”, discute se chamar apenas “Movimento”. O PSDB não descarta adotar outro nome num futuro próximo.

“Essas mudanças de nome refletem o desgaste dos partidos, que não representam mais as mesmas linhas ideológicas de quando foram criados. Os nomes já não expressam mais a pregação desses partidos”, afirmou o marqueteiro Lula Guimarães, que, no ano passado, trabalhou na campanha presidencial do tucano Geraldo Alckmin.

Silvana Krause, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lembra que já houve na história casos em que a lei exigiu a mudança de nomes dos partidos. Em 1979, por exemplo, uma norma baixada pela ditadura militar extinguiu a Arena e o MDB e determinou que todas as legendas carregassem a palavra “partido” no nome. O MDB virou PMDB; a Arena, PDS. Depois, o PDS se dividiu em PPR e PFL. O PPR virou PPB, depois PP e, desde 2017, Progressistas. Em 2007, o PFL deixou se ser Partido da Frente Liberal e adotou outro nome: Democratas (DEM).

“O MDB quer ser Movimento para reivindicar sua atuação na ditadura militar e na transição democrática. Essa volta às origens tem a ver com o desgaste do partido depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ”, afirmou a professora Silvana Krause.

Congresso muda lei para ajudar siglas

Brasília. Com pouco mais de três meses de legislatura, o Congresso enviou para a apreciação do presidente Jair Bolsonaro um projeto de lei que prevê anistia a multas aplicadas a partidos que não destinaram devidamente os recursos para promover a participação feminina na política. Em um contexto no qual o Legislativo intensificou as faturas ao Executivo como condição para aprovar projetos do Planalto, Bolsonaro terá de decidir nos próximos dias se atende ou não à demanda que costuma unir boa parte do Congresso, da situação à oposição.

Neste tema, são recorrentes os casos em que os parlamentares legislam em causa própria. Desde a criação da Lei dos Partidos, em 1995, pelo menos outras 19 alterações trouxeram benefícios às siglas, segundo levantamento do Movimento Transparência Partidária: a média é de uma aprovação a cada 14 meses. Além disso, pelo menos nove projetos de lei foram apresentados desde então para tentar anistiar multas de candidatos e legendas – apenas um foi aprovado. O presidente terá de decidir até a próxima sexta-feira, se veta ou sanciona o atual projeto. Estimava-se, quando ele foi apresentado, que a anistia prevista poderia chegar a R$ 70 milhões, valor dos débitos de diretórios municipais das siglas com o Fisco.

O deputado Delegado Waldir (PSL-GO), líder do partido de Bolsonaro na Câmara, aposta que o texto será sancionado. “Não vejo nada que indique que o presidente será contrário à medida”, disse o parlamentar. “A liderança liberou a bancada para votar da forma que desejar sobre o tema, o que mostra a total vontade do governo em não intervir na questão”, completou.

PSL quer repetir nas eleições municipais façanha de 2018

Brasília. De olho nas eleições municipais de 2020, filhos do presidente Jair Bolsonaro estão reformando diretórios do PSL em alguns dos mais importantes colégios eleitorais do país, como São Paulo, Rio e Minas. Em outras regiões, operadores do partido já trabalham com metas de cidades a serem conquistadas.

O objetivo é tentar repetir, na disputa municipal, um salto semelhante ao alcançado na eleição do ano passado, quando, além do presidente, a sigla, até então nanica, elegeu uma enorme bancada na Câmara (54 deputados), quatro senadores e três governadores. Um contraste em relação à disputa municipal de 2016, quando o PSL saiu das urnas com prefeitos em 31 cidades – à época, o fenômeno Bolsonaro ainda engatinhava e o próprio não era filiado à legenda.

Dirigentes do PSL dizem não querer cair no mesmo erro do PRN, sigla nanica que, mesmo tendo o presidente Fernando Collor no Planalto, elegeu só 92 prefeitos em 1992 – nenhum em capitais ou cidades relevantes.

Para o êxito nas eleições do próximo ano, integrantes do PSL reconhecem que a família do presidente da República é crucial. Por isso, em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o comando local da legenda saiu das mãos do senador Major Olímpio para ficar com o deputado Eduardo Bolsonaro. O objetivo é claro: o partido quer aproveitar a força que ele obteve nas urnas em 2018 – foi o deputado mais votado do país, com 1,8 milhão de votos e manteve o recorde de líder de votos em cem das 645 cidades de São Paulo.

Legislativo pode derrubar eventual veto de Bolsonaro

Brasília. Caso o presidente Jair Bolsonaro vete o projeto de lei que prevê anistia a multas aplicadas a partidos, a decisão pode ser derrubada pelo Congresso Nacional. “A Constituição garante ao Legislativo, em caso de eventual veto presidencial, a prerrogativa de apreciação do referido veto”, explicou o líder do Cidadania (antigo PPS) na Câmara, Daniel Coelho (PE).

Em 2000, o Congresso derrubou o veto do então presidente Fernando Henrique Cardoso e levou adiante uma anistia que custou aos cofres públicos, em valores corrigidos, cerca de R$ 80 milhões. Se optar pela sanção, Bolsonaro será o primeiro presidente desde 1995 a autorizar anistia a multas das siglas.

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