Entrevista exclusiva

'Política é responsabilidade, não é oportunismo; é cuidado', diz Kalil

Ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), conversou com O TEMPO no escritório dele, na região da Savassi; falou sobre eleições para prefeito e governador, RRF e oportunismo, pandemia, entre outros assuntos

Por Cynthia Castro
Publicado em 22 de dezembro de 2023 | 15:00
 
 
 
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O ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), recebeu O TEMPO no seu escritório de Belo Horizonte e deu o seu recado: ‘quero sim, participar da vida política’ e afirmou que "política é responsabilidade, não é oportunismo; é cuidado com os outros". Nas redes sociais, ele afirmou recentemente que “vai voltar”. Kalil ficou mais recolhido nos últimos meses, depois de perder a eleição para governador em 2022. “Eu acho que esse é o papel do bom perdedor. Eu sou um bom perdedor, até porque eu mexi com futebol (foi presidente do Galo, o Clube Atlético Mineiro) (...)  como bom perdedor, o ganhador tem que governar”, disse Kalil, ao comentar o motivo de ele ter ficado mais “quieto” neste ano. Na entrevista, o ex-prefeito de Belo Horizonte declarou que, por enquanto, não apoia ninguém para as próximas eleições para o Executivo municipal. Comentou também sobre a dívida de Minas e disse que tem havido muito oportunismo político em torno do assunto. Os problemas da Câmara Municipal de Belo Horizonte, a pandemia, o Galo e as pretensões para a eleição de governador em 2026 também são temas da conversa com Alexandre Kalil.


Recentemente, o senhor postou nas redes sociais uma frase comemorando o aumento do número de seguidores e escreveu: “vou voltar, podem esperar”. Como o Kalil vai voltar? Eu aciono muito pouco a rede social. Eu vejo uma ânsia grande desse pessoal que quer aparecer em rede social e não tem nem número para aparecer. Então, eu não posso desprezar 1,7 milhão de seguidores, nem para o bem e nem para mal, porque não são 1,7 milhão de fãs. Devem ser 800 mil inimigos e 900 mil amigos. Mas para o bem ou para mal, eu tenho que participar dessa nova realidade do mundo, e eu vou participar. Eu vejo muita gente querendo ter 10% do que eu tenho, metade, então, eu não vou desprezar a rede social. Eu tenho que participar, eu tenho que opinar, eu tenho que escutar e participar. É só isso que eu quero fazer.
 
O senhor passou um tempo mais quietinho. Agora, o senhor está querendo estar mais presente nas discussões? Eu acho que esse é o papel do bom perdedor. Eu sou um bom perdedor, até porque eu mexi com futebol e quem mexe com futebol, seriamente e com responsabilidade, aparece na hora que perde e aparece na hora que ganha. Senão, é covardia, se não é coisa de vagabundo que só aparece quando ganha. Mas eu acho que, como bom perdedor, o ganhador tem que governar. E ele tem que governar, sem aproveitador e sem o perdedor, com fama de mau perdedor que está perseguindo quem ganhou. O governador ganhou a eleição, tem que mostrar. Ele prometeu e vai ter que fazer, porque tudo que está acontecendo, eu disse que ia acontecer, eu falei que o regime era ruim, eu falei que o hospital não ia ser inaugurado a não ser que o governo federal venha cá e inaugure. Ele está debaixo de uma pressão muito grande, que eu sabia que viria, sendo eleito ou não. O tempo passou, nós vamos começar a avaliar o que está sendo feito com pesquisas. Não adianta querer ser, tem que ter apelo popular para ser. Então, tem duas coisas que não adianta: querer ser e ser ruim de voto, e não querer ser, sendo bom de voto.Nós temos que ver quem tem voto, as pesquisas vão falar na época certa, e eu quero sim participar da vida política, porque para isso eu ainda tenho lenha para queimar.
 

Começando por 2024, temos no ano que vem uma eleição para prefeitura. Algumas pesquisas apontam que o nome do senhor é um cabo eleitoral forte. A última DATATEMPO deu que mais de 30% das pessoas votariam no candidato que estiver com Kalil. Quem vai ter o apoio do senhor em Belo Horizonte? Primeiro, que isso aí não é uma realidade, porque senão a gente teria o seguinte: o Kalil é o prefeito de Belo Horizonte e ele vai determinar quem que vai ser o próximo prefeito. Isso (cabo eleitoral) não é verdade, isso é uma demonstração clara que a população tem um carinho pelo que foi feito. Eu acho que esse carinho veio, até porque eu, quando prefeito, por vontade de Deus, eu peguei a maior crise da história da cidade, que foi a tempestade que devastou Belo Horizonte e logo depois, a pandemia. Foi um período muito marcante na vida de todo mundo, e eu me senti na obrigação de liderar essa cidade. E, hoje, depois do resultado, porque na época ninguém sabia, nem eu, houve um resultado. O resultado foi demonstrado na urna como o prefeito mais bem votado da história da cidade. E, agora,  pode ser que eu esteja colhendo esse fruto. Mas tudo vai ter hora, eu hoje não tenho candidato. Eu não vou atrás de secretaria, eu não quero cargos, 200, 300 secretarias. Eu saí da prefeitura, o prefeito assentou na cadeira, trocou todo o secretariado. Trabalha do jeito que ele quer, com os aliados que ele quer, isso é a prova cabal de quem sai, saí. E aí, eu te digo: eu não tenho obrigação nenhuma com nenhum político desse Estado, porque eu tive uma caminhada quase solitária no governo de Minas.
 
O senhor falou do combate à pandemia, o nome do seu ex-secretário de Saúde, Jackson Machado, chegou a ser ventilado. Algumas pessoas ligadas ao senhor falaram que ele poderia ser um nome que o senhor queria lançar, embora ele ainda não tenha um partido, não esteja na vida política. Isso é verdade? Até que ponto essa história é real ou não? O Jackson foi, na minha modestíssima opinião, o melhor secretário municipal dessa cidade. No Estado de Minas Gerais muito poucos secretários chegaram ao nível do Jackson. Mas ele realmente não é político, ele não é do ramo, apesar de que hoje não tem muito isso. Mas jogaram o nome dele, que é um nome muito querido, que fez muito justamente em um período muito importante (pandemia). Mas realmente não houve grupo, não houve esse movimento e ele mesmo, eu estive com ele outro dia, porque ele é sogro do meu filho, nós rimos disso um pouco, mas não tem nada disso.
 
E o prefeito atual, Fuad Noman, que era vice do senhor. Há uma expectativa no meio político de que Kalil estivesse junto com o prefeito. Ele ainda não se colocou como candidato, mas tudo indica que será o candidato do PSD ou de outro partido, porque ele também tem conversado com outros partidos. O senhor pode estar junto com o Fuad? Eu posso estar junto com quase todos, inclusive, com o Fuad. Eu me pareço muito com o Fuad nesse ponto, de independência. O Fuad manteve na minha eleição para governador uma independência, uma neutralidade, e quando ele resolveu apoiar o presidente Lula, no segundo turno, foi uma questão também de foro íntimo. Então, eu também me reservo, até porque, como eu disse, nunca fui ajudado, fui muito solitário na minha caminhada. Então, apesar do apreço, da amizade e da consideração que eu tenho pelo Fuad, eu não tenho nenhuma obrigação com o Fuad e ele sabe disso, como ele não tinha comigo, o que nos torna amigos, mas politicamente independentes. Nunca inimigos e nem adversários.
 
 Teve um pedido dele já para o senhor estar junto dele?  Não, até porque ele não se colocou como prefeito (candidato) ainda. Então, não se pede voto sem ser candidato. Então, eu acho que o Fuad faz um bom trabalho, é um cara legal, um cara correto, que pensa na cidade e que não precisa de nenhum grande cabo eleitoral, porque ele vai fazer três anos na prefeitura de Belo Horizonte, então, ele tem o que mostrar para a população de Belo Horizonte, se foi boa ou ruim a sua administração.
  
O senhor falou da boa relação que o senhor tem com ele, mas eu queria saber sobre a sua campanha para o governo, ficou alguma chateação por ele não ter dado o apoio que o senhor esperava? Ficou alguma situação ruim nesse sentido? Não, porque não houve compromisso. Então, quando não há compromisso, não há decepção e não há traição. Então, não adianta, porque eu sou um cara de compromisso, eu tenho compromisso e palavra. Ele hora nenhuma falou comigo que iria me apoiar para o governo, eu não pedi isso a ele quando o escolhi para vice-prefeito. Quando saí para a campanha do Viana também para o Senado, eu não pedi nada em troca. Eu acho muito difícil falar em traição, chateação, porque eu não peço nada em troca para quem eu politicamente participe da vida. E não admito que me peçam também. Então, é simples assim. Ele não pode ter feito nada comigo, ele não tem compromisso comigo. Eu não pedi compromisso nenhum, como o Viana também, quando eu participei modestamente da campanha dele para o Senado, ele também não me pediu nada. Então, ele nunca fez nada comigo.
 
Hoje, que o senhor saiu da prefeitura já tem um tempo, qual a avaliação sobre essa administração de Belo Horizonte? E eu queria saber também a opinião do senhor sobre esse embate prefeitura, Câmara, Gabriel Azevedo. De que forma isso prejudica a cidade? Eu previ isso como prefeito. Eu falei isso para ele, porque a Câmara tem uma enorme responsabilidade junto com a prefeitura, só que há uma distorção de poderes. Enquanto o vereador para ser vereador precisa de 12 mil votos, um prefeito para ser eleito precisa de 1 milhão de votos. Então, o conjunto da Câmara é o Legislativo que tem que pensar na cidade em colaboração. Isso não existe hoje em Belo Horizonte. São projetos distintos, com nome e sobrenome e se o empréstimo do Izidora ou o empréstimo do Vilarinho está parado lá, é problema da cidade. O que importa é se o grupo X vai ganhar do grupo Y. Se o grupo Y vai ganhar do grupo X. E aquilo não ia dar certo. Eu falei que não ia dar certo, não deu certo. E é, na minha opinião, a pior. E olha que era só o Kalil sair, que ia melhorar. Eu escutei isso um monte de vez, Kalil saiu, piorou. Porque ali, realmente, é uma decepção o nível de egoísmo que se trata a cidade de Belo Horizonte. Eu acho muito triste, e eu não sou de demagogia, de palavra bonita. É a pior Câmara. Nem digo que é a pior Câmara, é o pior momento de vaidade da Câmara Municipal de Belo Horizonte, da história da cidade. Nunca houve nada parecido em Belo Horizonte.
 
E com o objetivo de? Eles fazem o seguinte, e eu quero dar um exemplo rápido e eu faço questão de falar: eles fizeram uma CPI para mim. Quando eu falei que ia lá depor sobre estádio de Atlético e MRV, não me convocaram e não me indiciaram com medo. Então, além de tudo, são medrosos. Pior que a traição é só a covardia. Faz uma CPI para mim de abuso de poder, não me indiciam e não me convocam para depor? Eu tive que entrar na Justiça querendo depor. Então, eles não estão ligando para o que o povo está pensando, porque alguém que vê isso fala: esse povo é louco? Chegaram a esse nível de insanidade, e o prefeito tem que conviver com isso.
 
Essa vaidade tem um olhar para 2024? Tem. Será que alguém acha que tem alguém naquela Câmara com traço na pesquisa para prefeito de Belo Horizonte? Com traço? Aqueles grupos? Pelo amor de Deus. Aqueles lá não têm traço. Eles não passam de 1% em qualquer pesquisa que foi feita em Belo Horizonte. Não adianta pendurar melancia, subir no palanque. O povo vota em quem presta serviço ao povo, em quem entrega. Nós temos que lembrar que aquela Câmara votou contra o empréstimo do Vilarinho, que aquela Câmara votou contra o empréstimo do Izidoro, que pretendia por água para os outros beber, asfalto e esgoto, por política. O que você pode esperar? Eles estão falando em Belo Horizonte. Primeiro, politicamente não existem na campanha de prefeito para Belo Horizonte.
 
Mesmo o presidente Gabriel Azevedo? Ninguém, ninguém, sem exceção. Todas as pesquisas estão aí. O TEMPO tem um instituto. É só ver o que ele deu lá. Eu não vi, mas não passa de 1%.  É insignificante. Não adianta querer ter significância política, agredindo, humilhando, xingando, destruindo vidas, que ninguém faz nada fazendo isso. A população quer que entrega.
 
E em 2026, quais seriam seus planos? Está um pouco longe ainda, mas a gente vai enxergar lá o Kalil na disputa para governo do Estado? Em 2026, eu tenho que chegar vivo, essa é a primeira coisa. O cara, quando passa dos 60 anos, e eu já passei bem… então, eu 2026, eu espero que eu esteja vivo. Agora, é o que eu disse. O que vai ser você, Kalil, em 2026? Eu te falo. Eu quero ver a pesquisa de 2026. Se eu for traço de pesquisa, eu vou trocar fralda da minha neta.
 
Mas no cenário atual? No cenário atual, eu não sou traço. Então, nós temos que esperar. Nós temos que andar um pouco, ver o tempo. E não vai ser agredindo, não vai ser metendo a cara em coisa que não é, quem tem que resolver a dívida do Estado é quem foi eleito para isso. Quem tem que resolver e falou que ia fazer o regime de recuperação fiscal, o governador falou na campanha dele. Então, o que eles estão esperneando agora? Não elegeram ele? Tinha um outro para eleger, que falou que não ia funcionar, falou que não ia fazer hospital, que não ia recuperar a estrada, porque isso é mentira. Está tapando buraco de mil e poucos quilômetros. Nossa malha viária é de 70 mil km. Não vai cumprir o que falou. Eu falei que não ia cumprir o que falou, porque na política, até hoje, a irresponsabilidade é o que marca a política, ou o oportunismo ou a irresponsabilidade. Eu posso ser tudo, eu não sou oportunista e nem irresponsável.
 
O que o senhor acha dessa questão da dívida de Minas com a União, que já chega a quase R$ 160 bilhões, das negociações, das propostas, do governador? Eu não avalio a pessoa do governador. Ele disse na campanha, que está gravado nos programas eleitorais dele, que o regime de recuperação fiscal, que ele ia fazer nos próximos anos. E agora ele vai fazer. O povo falou que era pra fazer, o povo elegeu ele. Então, esse tipo de coisa eu não concordo. Ele não vai pôr para funcionar seis hospitais em Minas Gerais, porque não vai a não ser que ele vá lá pedir benção para quem ele só agrediu, que é o governo federal. Se ele não for, ele não vai fazer, é mentira. Agora o regime, ele falou que ia fazer. Se ele o fizer, ele está cumprindo a palavra e a promessa de campanha dele.


Esse primeiro ano do segundo mandato do governador Romeu Zema, o senhor tem uma avaliação? Eu tenho uma avaliação de cinco anos. Não está no trilho, mas eu falei lá. Descobriram agora que Minas Gerais deve R$ 160 bilhões? Quer dizer que os políticos todos, em Brasília e Minas, não sabiam? Descobriram na semana passada? Descobriram que Minas não estava no trilho? Descobriram que ele não pagou um tostão da dívida? Descobriram que ele aumentou a despesa? Mas eu falei isso tudo, está gravado nos programas eleitorais. Então, ou se estuda mais ou tem que ser menos oportunista. No momento, o governo de Minas precisa, pelo menos, de paz e, não, de brechinha para colocar o rosto, para tentar ser alguma coisa nas costas de uma crise gravíssima que o Estado está passando. O que a gente vê agora é que ninguém senta do lado do governador para tentar resolver junto com ele, porque quem assina é ele, quem foi eleito é ele. Então, quem quer ser oportunista de ocasião vai se dar mal. Porque quem vai assinar o acordo com o governo federal é o governador de Minas Gerais, que, bem ou mal, tem que ser respeitado, que foi eleito em primeiro turno.


Quem o senhor acha que está sendo oportunista nesse momento? Eu deixo isso para vocês, tá? Eu não vou arrumar inimigos, eu não quero. Eu acho que é o seguinte: o governador precisa de apoio. Ele precisa é do que o próprio Tadeu está fazendo, o Tadeuzinho lá da Assembleia. É chamar ele, junto com ele e falar:  vamos no ministro, vamos no presidente, vamos em quem for para tentar resolver, porque isso vai bater, sabe em quem? É no povo. É no funcionário público. É na escola. É na merenda. É na pobreza. O Norte de Minas está numa situação gravíssima. Isso vai bater lá no Jequitinhonha, no Mucuri, com muito mais força do que no Sul. E isso para esse povo, não interessa. Então, vamos aproveitar e vamos fazer demagogia. Vamos aproveitar a crise para ver se a gente bota a cabeça de fora. Isso está errado.


O senhor tem uma opinião sobre essa proposta que foi apresentada, capitaneada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que propõe, inclusive, a federalização de empresas de Minas? Eu acho isso uma aberração. É a minha opinião. Porque se é para tirar do Estado, porque se e  federalizar, vai aumentar o valor da Cemig? Eles vão pagar mais caro para abater mais na dívida? Isso é o principal. É negócio. Nós estamos fazendo um negócio. Então, vender para o privado. Não, porque se o governo federal comprar duas vezes o preço. Ah, bom, então vende. Isso não falaram. É uma proposta biruta. A empresa é razoável, quando ela é municipal. Ela é de razoável para ruim, quando ela é estadual. Ela é péssima quando é federal. Então, além de liquidar as empresas, o governo federal não pode assumir,  porque está dentro do pacto federativo, o governo vai pegar Goiás, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, quer dizer, não tem pé nem cabeça isso.  Se é para tirar do Estado, porque só quer se preocupar com funcionário para vira funcionário federal  ao invés de estadual? Não, tem que pensar no global. Eu, pessoalmente, acho uma aberração. Mas tomara que o governo federal engula e pague mais e continue uma estatal gigante, grande e boa e que vai simplesmente sair do controle do Estado e vai continuar uma empresa pública, mais uma empresa pública federal. Eu não gosto dessa proposta, mas isso é uma questão pessoal. Se eu tivesse a caneta, eu falaria.


O senhor teria uma proposta? A proposta é assentar. É ajudar. É pegar o governador e apoiar o governador agora, porque o governador é rico, ele é milionário. Minas Gerais não vai afetar o negócio dele futuramente na vida dele não. Provavelmente, nem a minha nem a sua. Mas vai embaixo. Vai afetar o povo pobre. Então, tem que ter muito carinho com isso. A recomposição da Lei Kandir é, si,  um assunto. Aonde está esse juro, onde está essa dívida, como ela foi cobrada, como ela foi composta? Esse é o assunto, tem que trazer para a mesa para conversar. Eu volto a repetir: eu disse isso na campanha. O regime de recuperação fiscal não resolvia. Com esse regime, ele não pode contratar um médico. Eu queria saber como abre seis hospitais sem contratar um médico.


O senhor falou sobre o governador Romeu Zema, da campanha. O senhor foi um prefeito bem avaliado, querido por grande parte dos eleitores. Na campanha para o governo do Estado, o senhor enxerga algum erro para não ter ido ao segundo turno? Ter estado com o presidente Lula te prejudicou? Não, absolutamente não. Eu fiz uma aliança momentânea com o presidente Lula. Teve a parte boa e a parte ruim. Então, nada a queixar, não houve erro nenhum. Não era o momento. Foi propagado que Minas estava nos trilhos. Eu não tive apoio de deputado. Eles caminharam todos junto com o Zema, todos a favor da recuperação fiscal, todos que estão aí gritando agora, estavam todos juntos, no mesmo bonde. Mas o erro foi meu, o erro foi que eu não era conhecido no interior. Eu sou um ótimo perdedor, foi um negócio bacana para cacete ser candidato ao governo. Foi muito legal. Eu rodei esse Estado. Conheci e vi gente que eu não conhecia. Não tive problema, nenhuma vaia na campanha inteira. Fui sempre tratado pelo povo com muito respeito. Foi um negócio muito bacana que aconteceu na minha vida. Faria de novo, inclusive. 


Mas o senhor acredita que estar aliado ao PT não dividiu votos, de um público do senhor que ficou com raiva porque não gosta do Lula? Eu recebi muito esse tapinha nas costas. Não vou votar mais em você por causa disso. Mas veio muita gente também. Então, creditar a alguém a derrota, é muito cretino. O perdedor tem nome e o ganhador tem nome. Quem ganha e quem perde tem que ter rosto, tem que ter vergonha na cara para dizer: eu perdi. E sem constrangimento.


E para 2026, Kalil será candidato ao governo? O que que o senhor aprendeu dessa campanha e que faria diferente numa eventual nova campanha? Não é que eu aprendi não, eu acho que hoje eu sou mais conhecido. Disputei uma eleição, não tive meia dúzia de votos. Tive quase 4 milhões de votos. Então, minha urna não foi uma vergonha. Eu acho que eu posso ter alguma vantagem, mas é o que eu digo. Se na época, eu for traço, eu vou recolher a minha insignificância. Se não for traço, eu vou pensar o que eu vou fazer na minha vida. A verdade é a seguinte: eu posso ser amado e posso ser odiado. A única coisa que eu não posso ser é desprezado.


Começamos a conversa falando de redes sociais, como é que o senhor enxerga essa questão? Pensando em 2026, temos dois nomes que são atuantes em redes sociais e se cogita que podem estar em uma disputa para 2026, que são o deputado federal Nikolas Ferreira, do PL, e o senador Cleitinho, do Republicanos, que estaria indo para o Novo… Eu acho que a rede social é muito importante. Mas nós vamos ter que mostrar mais, porque existe uma questão de gestão. Pode ser que o governador mostrou e fez o que eu não vi em Minas Gerais, mas ele mostrou, prometeu que ia fazer. Eu tenho o que mostrar na minha administração. Mas a rede social só não vai eleger governador, nunca elegeu, nunca elegeu presidente da República e nunca elegeu prefeito. O que mostra o que vai eleger o cargo majoritário, além da divulgação, que redes sociais é divulgação, e blá blá blá. Além de divulgação, o que fez, como gerir, como tratar gente e como tratar pobre, como tratar rico, como tratar empresário, como trata a sociedade em geral.
 
O senhor acredita que a postura do senhor durante a pandemia vai ter um peso positivo numa eventual candidatura? Eu não sei. Eu sei que na pandemia, eu fiz o que tinha que ser feito. Eu já disse isso algumas vezes: a única coisa que eu queria era deitar. Por a cabeça no travesseiro e falar: nessa cidade, não morreu uma pessoa por falta de cuidado. Foi por uma pandemia. Quem matou aqui em Belo Horizonte foi o vírus. Não foi político.


Avaliando a postura do senhor durante a pandemia, tem alguma coisa que se arrependa? Ou acha que foi correta?  A gente sabe que nós tínhamos que fazer. Quem abriu está mais rico, a cidade que bambeou que deixou matar mais gente está mais rica? Ou Belo Horizonte continua sendo a terceira capital do país? Ou foi passada por alguma capital que não cuidou como deveria ter cuidado? Acho que não. Então, eu não sei, porque a gente pega o que fez de bem e joga na política. Não faz política achando que vai fazer coisa boa, é o contrário. Eu sinceramente não avaliei isso não. Mas pelo carinho que recebo na rua, eu acho que não fui muito mal na pandemia. 


O senhor falou uma vez que teve momentos de muita responsabilidade. Contou o caso de uma mulher que falou sobre a  escola. Como foi? Eu queria falar isso, o cuidado que a gente tem que ter com o povo. Eu estava numa fila. Tinha aberto as escolas e com 30% de alunos. Aí, tinha um garotinho. Eu falei: olha aqui, como é … a senhora. Já voltou para a escola? Ela olhou para mim. Era no bairro de Lourdes, um bairro de elite. Ela falou: não, senhor. Eu falei: não voltou? Não, estou esperando o senhor mandar voltar. Eu cheguei em casa, falei com a minha mulher. Falei: olha que responsabilidade. Uma mãe está com uma criança esperando eu falar que pode voltar para a aula. Então, eu acho que política é responsabilidade. Política não é oportunismo. Política é cuidado com os outros. Falar não, eu fiz porque eu devia ter feito isso. Pode estar errado, mas o seu coração, a sua instrução, o seu assessoramento tem que te dar isso.


Para encerrar, eu queria que o senhor falasse um pouquinho sobre alguns nomes da política. Como o senhor define?
Romeu Zema? Está apertado
Rodrigo Pacheco? Não convivo
Gabriel Azevedo? Há muitos anos não converso 
Fuad Noman? É um bom prefeito e um bom amigo
Carlos Viana? Um bom amigo e um bom senador

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