POLÍTICA

Prometeu e não cumpriu

Lula, candidato, afirma que a geração de empregos será sua obsessão. Mas preste atenção: você está em 2002.

Por HERALDO LEITE
Publicado em 23 de julho de 2006 | 00:01
 
 
 
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Há exatos quatro anos " no dia 23 de julho de 2002 ", o então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez aquela que pode ser considerada sua promessa mais ambiciosa: criar, em quatro anos, 10 milhões de empregos.

Seu mandato termina no dia 31 de 10embro deste ano, mas o próprio governo admite que até o o último dia da gestão deverá abrir, ao todo, 8,5 milhões de novos empregos formais e informais.

Para as entidades de defesa dos trabalhadores, porém, não passam de 6,4 milhões os postos de trabalho abertos durante o governo do presidente operário.

"Criar empregos será minha obsessão nos próximos quatro anos", disse o então candidato no dia em que lançou seu programa de governo, em Brasília, para uma platéia que lotou o auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados.

Sob o impacto de denúncias de fraude na contabilidade da gigante norte-americana Enron, nos Estados Unidos, e ante a expectativa da divulgação de mais uma pesquisa do Instituto Vox Populi, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) despencava 6,52% e o dólar batia na casa dos R$ 2,90 (o maior valor desde a criação do Plano Real, em 1994).

Foi neste cenário que Lula divulgou seu programa, um calhamaço de 89 páginas, fruto de 10 meses de discussões por uma comissão composta por 22 assessores, militantes e amigos.

Entre outras medidas para dar emprego a 10 milhões de brasileiros, o PT acenava com a redução da carga horária de trabalho, aumento de 20% para o salário-mínimo e um crescimento econômico de 7%.

No programa, o PT deu-se ao luxo de enumerar pequenas metas dentro da promessa dos 10 milhões: seriam 5,33 milhões advindos do crescimento econômico, 3,2 milhões pela redução da jornada de trabalho e 1,47 milhão pela mudança no padrão de gastos públicos.

A chapa petista prometia investir pesado em saneamento básico e na construção civil, tradicionais empregadoras da mão-de-obra não qualificada. Como a meta dos 10 milhões de empregos, nenhuma saiu do papel.

O jogador de futebol Vampeta, da seleção brasileira de 2002, dera as famosas cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto, comemorando o pentacampeonato, e Lula já ensaiava suas primeiras "metáforas futebolísticas": "É possível ser defensivo e ofensivo ao mesmo tempo", afirmou. "Não dá é para ficar o tempo todo na defesa tentando não tomar gol."

Conjuntura
Em julho de 2002, Lula liderava as pesquisas com 33% e era seguido de perto por Ciro Gomes (candidato pelo PPS), com 26%. O tucano José Serra ainda patinava nos 13%.

O Brasil tinha 28 milhões de empregos formais e o cálculo dos economistas mostrava que, para atingir a meta dos 10 milhões, era preciso crescer 5% ao ano. Tal desempenho nunca foi comemorado por Lula e sua equipe econômica.

O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 0,5% em 2003, 4,9% em 2004, 2,5% no ano passado e deve chegar, no máximo, a 4,5% neste ano.

Há quatro anos, Lula também não poupava o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), acusando que "o brasileiro trabalha de dia para pagar juros à noite. Não é possível este país continuar assim. Este país precisa voltar a crescer", apregoava o candidato, sob o aplauso da platéia.

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