Congresso estadual

Rachado, PT elege Cristiano Silveira como presidente em Minas Gerais

Chapas derrotadas alegam que há indícios de irregularidades na escolha dos delegados

Por Sávio Gabriel
Publicado em 19 de outubro de 2019 | 20:43
 
 
 
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O deputado estadual Cristiano Silveira (PT) foi eleito, neste sábado (19), presidente estadual do PT em Minas Gerais em meio a um clima de racha na legenda. Grupos ligados ao deputado federal Paulo Guedes e à deputada estadual Beatriz Cerqueira não compareceram ao encontro, ocorrido em Venda Nova, por alegarem fraude no processo. Parlamentares dizem que há indícios de irregularidades na escolha de aproximadamente 120 dos 400 delegados que tiveram o poder de escolher a nova executiva do partido. O grupo de Silveira nega as acusações.

De acordo com integrantes do PT, os parlamentares denunciaram à diretoria estadual irregularidades ocorridas em cerca de 140 atas, cada uma representando um município. As atas foram assinadas por filiados durante os congressos municipais, ocorridos no início de setembro, e, a partir delas, foram escolhidos os delegados que votaram ontem. “Foram assinaturas iguais (da mesma pessoa), casos em que uma assinou por outra. Há casos de documentos que estavam em locais diferentes do previsto”, disse o deputado federal Rogério Correia, acrescentando que, nesse caso, houve aumento no número de delegados representando a chapa de Cristiano Silveira.

O deputado explicou que foi feita uma representação à direção estadual, que teria se negado a analisar o tema. Com isso, o assunto foi levado à executiva nacional. “Foi emitida uma orientação para representantes da (executiva) nacional virem ao Estado, ter acesso às atas, e, só depois, é que haveria o congresso. Não se pode realizar o evento antes de apurar a denúncia”, afirmou Correia.

O parlamentar disse que o resultado de ontem não está garantido. Segundo ele, houve uma garantia da deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido, de que o congresso só será validado após a análise das denúncias. “Estamos respaldados com essa garantia”. Correia integra o grupo que defendia o nome da deputada Beatriz Cerqueira para a disputa.

“Entramos com recurso na nacional, que criou uma comissão para analisar os recursos. Como eles mantiveram a eleição sem antes analisar o material, o resultado não está garantido”, disse Paulo Guedes, informando que a sua chapa foi a mais votada durante as etapas municipais.

Legitimidade

Cristiano Silveira disse lamentar as acusações. “Os companheiros deveriam aceitar o resultado das eleições. Questioná-lo porque foi derrotado não é um comportamento democrático”, disse, informando que as denúncias passaram por uma instância composta por integrantes de todas as chapas. “Passou pela estadual e pela nacional, que decidiu homologar o resultado (da escolha dos delegados)”.

Questionado sobre a garantia dada por Gleisi de que a homologação só aconteceria após as apurações, o parlamentar disse não acreditar que possa haver mudanças no resultado. “Esse congresso está sendo realizado por orientação e decisão do PT nacional. Honestamente, até por conhecer os processos internos, não acredito que o resultado seja alterado”, disse.

Resolução da Nacional ratifica resultado

Apesar de os deputados insatisfeitos afirmarem que o resultado pode ser modificado, uma resolução publicada pelo PT nacional no dia 14 de outubro aponta que a sigla homologou, de maneira definitiva, os resultados do Processo de Eleições Diretas (PED), realizado no início de setembro. O documento vale para todo o Brasil.

No documento, o PT criou também uma comissão especial, composta por sete membros da nacional, para averiguar as denúncias de irregularidades durante o processo de votação. O colegiado emitirá os pareceres até o dia 11 de novembro, e vai encaminhá-los para análise da Executiva nacional, que os analisará no dia 15.

Integrantes da Executiva nacional da sigla presentes na convenção foram taxativos ao dizer que não há qualquer possibilidade de mudança no resultado. Secretária Nacional de Organização, Gleide Andrade disse que os resultados da comissão especial resultarão em punições em âmbito disciplinar. “Se houve caso de violência, vamos imputar medidas disciplinares. Se houve caso de irregularidades, vamos imputar uma medida pela comissão de ética, para que o outro lado tenha amplo direito de defesa”.

A secretária disse desconhecer as 140 atas com indícios de irregularidades. “Isso nunca chegou à direção nacional. Não sei que número cabalístico é esse”. Segundo ela, apenas sete recursos oriundos de Minas foram encaminhados. “Os daqui foram relacionados a horários, de que a votação fechou antes do previsto ou abriu depois do horário. Tudo será objeto de discussão”.

Prioridades

A despeito do imbróglio envolvendo a escolha de seu nome, o deputado estadual Cristiano Silveira disse que sua prioridade à frente do PT em Minas será organizar a sigla para as eleições municipais de 2020. O novo dirigente do partido também defendeu que a sigla tenha candidatura própria à Prefeitura de Belo Horizonte no próximo ano.

“Meu esforço é para que o PT tenha candidato a prefeito no maior número de municípios possível, assim como uma chapa de vereadores, para tentarmos eleger pelo menos um parlamentar em cada cidade”, disse. O deputado também pretende aproximar a legenda dos movimentos sociais e organizar a base setorial.

Sobre a capital mineira, Cristiano disse que ainda não há definição de nomes. “Haverá um momento em que os companheiros poderão se inscrever. A partir daí, começa uma negociação para acharmos uma unidade naquele nome que consiga levar o nosso projeto, inspirado nas administrações petistas em BH”.

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