Reginaldo Lopes

A Amazônia que nos une

Reação a incêndios é ponto de encontro para a agenda democrática


Publicado em 27 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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O país arde em chamas, e hoje o mundo sabe disso. Precisou-se botar fogo na Amazônia, fazendo a fumaça escurecer o dia em São Paulo, para um alerta soar pelo planeta: o Brasil precisa de ajuda. Não só para proteger nossas florestas e o meio ambiente, mas para salvar-se do clima de ódio incendiado por Bolsonaro.

O alerta diante dos incêndios florestais no Brasil partiu do presidente da França, Emmanuel Macron, que colocou o tema na pauta do encontro do G7, organizado por ele nesse fim de semana na cidade francesa de Biarritz. A Amazônia criou no encontro um ponto de convergência: é preciso parar Bolsonaro e seus seguidores.

A preocupação do mundo é certeira, pois o que colocou fogo nas florestas foi uma combinação do discurso incendiário do presidente com a ação de produtores rurais que, por meio de fogos criminosos, mostraram o apoio ao fim da fiscalização dos órgãos ambientais. E, por ironia do destino, podem ser os mesmos produtores os maiores prejudicados com a insana iniciativa. Um dos principais destinos dos seus produtos é a Europa, e os líderes daquele continente já defendem bloquear o acordo de livre comércio que a União Europeia assinou com o Mercosul.

A preservação ambiental é fundamental na negociação de acordos comerciais entre países. E, ao liderar a destruição da Amazônia, o governo Bolsonaro rompe o avanço que o Brasil acumulava no tema nas últimas décadas. De janeiro até o início de agosto, o desmatamento atingiu 533 mil hectares, o que corresponde a um aumento de 71% em relação ao mesmo período de 2018. Sobre igual período de 2017, o aumento foi de 187%. A área derrubada de floresta em 2019 equivale a quase quatro municípios de São Paulo.

Os governos do PT provaram que é plenamente viável conciliar o crescimento econômico com a preservação ambiental. De 2004 a 2015, o desmatamento na Amazônia sofreu uma redução brutal, passando de 27,8 mil km² para 6,2 mil km², uma queda de 78% naquela década. No mesmo período, o efetivo bovino na região cresceu a taxa média de 2% ao ano, e a produção das lavouras na Amazônia evoluiu 5,8% anualmente.

O que Bolsonaro faz com a Amazônia é o mesmo que faz com o país: incendeia. Mas a floresta pode ter despertado uma reação que começou fora do Brasil e atingiu uma parcela da sociedade que ainda estava anestesiada. Foi o que percebi ao participar da manifestação contra as queimadas florestais neste domingo em Belo Horizonte. O sentimento que permeava era o de que não dá mais pra suportar os crimes de Bolsonaro.

Precisamos aproveitar o momento e consolidar uma ampla unidade das forças democráticas. A Amazônia passou a ser o ponto de encontro de uma agenda de convergência que pode ser costurada a partir de cinco bandeiras suprapartidárias: em defesa da soberania e de nossas riquezas naturais; defesa da educação e da ciência; preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável; nova arquitetura para uma segurança pública cidadã; políticas públicas focadas no enfrentamento das desigualdades. O Brasil vai mostrar que é mais forte que Bolsonaro e sua agenda de ódio.

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