O TEMPO

Crime de responsabilidade social

Tolerância zero contra desigualdades econômicas e sociais


Publicado em 14 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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No último artigo aqui publicado, tratamos da economia de Francisco e da missão do papa de enfrentar a gritante desigualdade social no mundo. Recebi um retorno singular, principalmente com mensagens de apoio a essa luta da qual faço parte.

Tempos de obscurantismo, como os que vivemos, são tempos de resistência. Enfrentamos a força do fascismo de um governo que tem como alicerces o fundamentalismo de mercado, o obscurantismo civilizatório e uma política de regressão social. Mas a luta no cotidiano não pode tapar nossas vistas para tentar enxergar além da tempestade. Temos que apontar saídas para esse Brasil em crise. Pensar soluções e pactos a serem assumidos para continuar acreditando em um projeto de nação. Fundamentalmente, identificar as questões estruturais que atravancam o desenvolvimento do país.

A minha história de vida, pessoal e política, ensinou-me que não há chaga maior que a desigualdade. No Brasil, ela chegou navegando nas caravelas e navios negreiros da Coroa portuguesa; sobreviveu na Independência e na proclamação da República; amenizou-se na Revolução de 30; reduziu-se no desenvolvimentismo dos anos 50; voltou com força pelas mãos da ditadura militar e depois cresceu enormemente; até ser enfrentada com sucesso durante os governos petistas. Depois do golpe de 2016, segundo a última pesquisa do IBGE, houve uma explosão de desigualdade jamais identificada desde 1960, quando começou a aferição.

Com a atual etapa do capitalismo rentista, o mundo retomou a sua concentração de riquezas do período pré-Revolução Industrial. No Brasil, 1% dos mais ricos concentra 28% da renda nacional. Conquistamos o triste título de país mais desigual do mundo, segundo os relatórios da ONU. Em pleno século XXI, esse sistema desigual só se sustenta em governos autoritários, que precisam de uso da força para reprimir conflitos e convulsões sociais.

A elite branca brasileira é o próprio obstáculo para a retomada do desenvolvimento. Ela implementa teses insustentáveis do ponto de vista ambiental, inaceitáveis para quem tem compromisso humanitário, inviáveis como modelo de desenvolvimento econômico e de produção de novas riquezas e incompatíveis com a democracia.

Precisamos enfrentar a brutalidade da atual etapa do capitalismo neoliberal, um sistema predador e selvagem que ameaça a humanidade. Buscar uma profunda reforma, como etapa construtiva de um novo modelo econômico e de sociedade, que passa necessariamente por um ousado programa de distribuição de renda e produção de novas riquezas. Caso contrário, caminharemos para a barbárie.

O Brasil precisa criar uma nova hegemonia por tolerância zero com a desigualdade. Introduzir uma política com metas de redução da disparidade econômica e social que, uma vez não cumpridas, poderiam até ser enquadradas como crime de responsabilidade social. Levarei essa missão para o próximo ano legislativo. Vou sugerir a criação de uma frente parlamentar pela redução e enfrentamento da desigualdade. Apresentaremos proposições e programas com objetivos e metas anuais da redução da pobreza e produção de novas riquezas. Não podemos aceitar mais esses dois Brasis, compostos por uma elite milionária e uma maioria esmagadora na miséria.

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