Reginaldo Lopes

De bom exemplo a vilão do meio ambiente

Em dois anos, presidente destrói acúmulo de dois séculos


Publicado em 27 de abril de 2021 | 03:00
 
 
 
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Dono de uma das biodiversidades mais ricas do mundo, com as maiores reservas de água doce e um terço das florestas tropicais, o Brasil sempre foi associado à preservação ambiental, desde quando ainda buscava sua identidade. O tema começou a ser tratado aqui quando José Bonifácio inovou o naturismo, para vislumbrar o respeito do homem pela natureza como um projeto de nação.

“Destruir matas virgens, como até agora se tem praticado no Brasil, é crime horrendo e grande insulto feito à mesma natureza. Que defesa produziremos no tribunal da razão, quando os nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos?”, escreveu o Patriarca da Independência. Exatamente 200 anos depois desse texto, nosso país chegou ao “tribunal” da Cúpula do Clima sentado no banco dos réus, condição completamente antagônica a como era tratado nos anos anteriores. Os dois anos de governo Bolsonaro nos fizeram retroceder abruptamente na questão ambiental.

Dos tempos de José Bonifácio para cá, foi um longo acúmulo nos estudos e programas ecológicos, até que o país teve seu papel reconhecido ao sediar, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O que se seguiu foi um protagonismo que nos fez negociar de igual para igual com potências como Estados Unidos e União Europeia em temas como a defesa de metas globais de redução de emissões de gases poluentes, assunto predominante na Cúpula do Clima.

Em um encontro no qual são exigidos, e exibidos, mais números que palavras, o Brasil já entrou condenado. Colocado como 19º orador, Bolsonaro soltou mais fake news, agora em forma de discurso. Escondeu o desastre do seu governo e falou dos últimos 15 anos, assim usando números e programas dos governos petistas, como a utilização de matrizes energéticas limpas, a inovação tecnológica no campo e políticas de preservação das florestas.

Bolsonaro já ficou conhecido no mundo como inimigo do meio ambiente, quando incentivou as queimadas nas florestas brasileiras e seu desmatamento descontrolado. Em 2019, os incêndios florestais cresceram cerca de 82% em relação ao ano anterior. A Amazônia perdeu uma área estimada em 10 mil quilômetros quadrados, o que corresponde ao tamanho do Líbano. Em 2020 ficou perto, registrando um total de 8.426 km².

Apesar da mudança de discurso, a conta já chegou para Bolsonaro, e a fatura tem sido cobrada inclusive por setores que lhe deram sustentação, como o agronegócio. A política incendiária do governo começou a sofrer sanções de países importadores e praticamente inviabiliza o Acordo Mercosul-União Europeia, que poderia incrementar o PIB brasileiro em 5% em 15 anos. Nenhum país europeu vai querer assinar uma convenção em que Bolsonaro esteja envolvido.

Apenas um dia após o pronunciamento, Bolsonaro mostrou sua verdadeira face. Numa canetada, cortou R$ 240 milhões do Ministério do Meio Ambiente no Orçamento de 2021. Seu ministro, Ricardo Salles, é acusado de conluio com madeireiros para incentivar o desmatamento.

A Cúpula do Clima comprovou que com Bolsonaro nossas florestas estão cada vez menores. E a imagem do país lá fora diminui na mesma proporção. Já considerado pária pelo tratamento com a pandemia, a pergunta que se ouve no mundo é: como os brasileiros ainda não o apearam do poder?

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