Reginaldo Lopes

Metas sociais para reduzir a desigualdade

Criar novas atividades econômicas descentralizadas


Publicado em 01 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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O abismo da desigualdade no Brasil cresceu ainda mais com a pandemia. Segundo o estudo da revista “Forbes”, mais 21 empresários e banqueiros ascenderam, no ano passado, ao seleto clube dos sete dígitos, e assim o país já conta com 66 bilionários. No topo, continua figurando Jorge Paulo Lemann, que é o terceiro homem mais rico da América Latina, com uma fortuna acima de US$ 20 bilhões.

Do outro lado do fosso, a pobreza extrema disparou no mesmo período. Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional indicam que 55,2% dos lares brasileiros, ou o correspondente a 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar, e 9% deles passaram fome.

É inconcebível que a fome volte a matar no país líder em exportação de alimentos. O Brasil tem que criar um grande pacto pela responsabilidade social, para enfrentar a crescente disparidade entre pobres e ricos. Ela poderia se materializar em metas anuais de enfrentamento das desigualdades, que, caso não alcançadas, poderiam gerar até crime de responsabilidade para o governante.

A nossa pobreza é tão extrema que demoraria anos para ser revertida, e o único caminho para salvar vidas é a instituição da Renda Básica Universal. Ela poderia ser garantida com a tributação dos super-ricos e grandes lucros, já que somos um dos únicos países em que a riqueza não paga impostos, o que aumenta a concentração.

Além de nenhum brasileiro sem renda, é fundamental colocar a população economicamente ativa em alguma ocupação laboral. E os dados da desigualdade refletem as mudanças no mundo do trabalho. Os setores que mais enriqueceram são intensivos em capital, e não em mão de obra, ou seja, a crise da pandemia beneficiou o capital e prejudicou o trabalho. É preciso criar mais e melhores empregos, o que na atual etapa significa reverter a informalidade e a precarização.

A concentração de riquezas está diretamente ligada à oligopolização da economia. A prova disso é a fortuna do dono da Amazon, Jeff Bezos, que, com o oligopólio criado por sua empresa no mundo, deve se tornar o primeiro trilionário. É urgente conceber um contraponto, com um novo modelo mais justo e distributivo de produção de riquezas. Incentivar o incremento de novas atividades econômicas, investindo no cooperativismo e associativismo, que deve ser mais presente nas pequenas cidades e periferias dos médios e grandes centros.

Toda essa mudança só será possível com um Estado forte liderando a implementação da nova matriz econômica e exercendo o papel de elaborador, indutor e financiador. O Brasil precisa de um plano de recuperação econômica, investindo numa nova infraestrutura que contribua para a redução do custo Brasil. E desenvolver um ousado programa de obras públicas, que poderia investir um montante da ordem de R$ 4 trilhões nos próximos anos, entre investimentos públicos e privados, que poderiam gerar uma média de 10 milhões de empregos.

Evidente que com o atual governo é impossível implementar essas ousadas propostas, mas é fundamental já debater e criar uma coalizão em torno delas. Podem não ser críveis para os que se acomodaram. Mas inconcebível é o país continuar criando bilionários à custa da fome de milhões.

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