Reginaldo Lopes

O desmonte do SUS agrava riscos do coronavírus

Responsabilidade no enfrentamento à pandemia


Publicado em 17 de março de 2020 | 03:00
 
 
 
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A pandemia causada pela disseminação do novo coronavírus – que já matou mais de 5.700 pessoas no mundo – só vem comprovar que temos na Presidência um inconsequente irresponsável. Eu já tinha essa certeza, mas confesso minha perplexidade com as atitudes do mandatário nos últimos dias.

Apesar de estar em isolamento por recomendações médicas, depois de manter contato com ao menos dez pessoas comprovadamente contaminadas pelo vírus, o presidente saiu do Palácio da Alvorada para participar, no domingo, de uma manifestação pública contra a democracia.

Chegou a cumprimentar 272 pessoas, segundo um jornal paulista. Ontem, repetiu a irresponsabilidade e foi ao encontro de apoiadores. Em entrevista, minimizou os riscos e manteve a mesma displicência que caracteriza sua reação à pandemia até aqui.

A população esperava o contrário: que estivesse recluso, coordenando um comitê de crise para levar o país a enfrentar o mal que se espalha pelo mundo e tende a fazer muitas vítimas por aqui também. Negar os fatos, contra todas as evidências, é o pior caminho para enfrentarmos um momento delicado como este.

O que se espera de um chefe de Estado à altura do posto é que tome medidas concretas para minimizar os danos e lidere o compromisso de um pacto solidário com toda a nação. Este é o momento de comprovarmos o valor da organização coletiva da sociedade, a relevância da ciência e da pesquisa e, principalmente, a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos seus devotos servidores.

É urgente a liberação da verba da saúde represada pela Emenda Constitucional 95, que geraria um aporte de cerca de R$ 21 bilhões ao SUS. Para acelerar essa medida, na última sexta-feira o Partido dos Trabalhadores protocolou no Supremo Tribunal Federal um pedido de liminar que suspende a parte da PEC relativa ao Orçamento da saúde.

O aporte financeiro pode ajudar a enfrentar uma das debilidades do SUS: a falta de leitos hospitalares para os casos de internação. Pode contribuir também para garantir o repasse de recursos do SUS aos municípios e fortalecer o trabalho das equipes do programa Saúde na Família.

O país precisa de um protocolo único de proteção à população, englobando aspectos como quarentena, deslocamentos, aglomerações, funcionamento de escolas e comércio. É vital ainda que se possa assegurar estabilidade no emprego e manutenção dos salários nos setores público e privado pelo tempo que durar a pandemia.

Mas não bastam ações no campo da saúde pública. A economia tem que estar preparada para o “longo inverno” que atravessaremos. É urgente a inclusão dos três milhões de brasileiros que estão na fila do Bolsa Família esperando pelo benefício. Temos que garantir uma renda familiar mínima para os pais, ajudando na alimentação dos estudantes em casa.

Trabalhadores autônomos, como os ligados à cultura, à gastronomia, ao turismo ou ao setor de serviços, precisam de um conjunto de benefícios que os ajude a superar um período sem trabalho, como fez ontem a Alemanha, com um pacote de medidas de proteção social.

É igualmente importante assumirmos nosso papel como cidadãos, encorajando ações individuais e solidárias. Não há pacto social sem o esforço de cada um. Nem chefe de Estado sem compromisso com o interesse coletivo. A hora é de respeito à vida acima de tudo e responsabilidade acima de todos.

 

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