Reginaldo Lopes

O mundo tem um problema, o Brasil tem dois

Compromisso com a vida e com a solidariedade contra o vírus


Publicado em 31 de março de 2020 | 03:00
 
 
 
normal

O mundo enfrenta uma crise humanitária que ainda não sabe bem como nem quando vai acabar. A pandemia do coronavírus é uma ameaça à vida, à saúde pública e à atividade econômica. Todos os líderes mundiais já têm consciência de que estão diante do maior desafio dos últimos tempos. E, se o mundo tem um grande problema a enfrentar, o Brasil tem dois: o coronavírus e Bolsonaro, o único governante que destoa do consenso mundial e quer levar sua nação ao suicídio em massa.

As atitudes do presidente não podem ser mais toleradas, pois ameaçam tragicamente o nosso povo e podem gerar um verdadeiro genocídio. Por isso, protocolei no Supremo Tribunal Federal, na quarta-feira passada (25), uma notícia-crime contra Bolsonaro pelo histórico das reiteradas e irresponsáveis declarações, ignorando a gravidade da pandemia.

O Brasil precisa entrar numa economia de guerra para enfrentar o coronavírus. Temos R$ 1,3 trilhão disponíveis na conta do Tesouro Nacional, que devem ser direcionados imediatamente para salvar vidas. Além deles, podemos emitir títulos da dívida pública, aproveitando a taxa de juros favorável. O que mais falta neste momento é previsibilidade: um mínimo de segurança aos brasileiros sobre qual caminho seguir.

As empresas precisam saber dos incentivos e empréstimos que terão ao alcance para se comprometerem a não demitir. Os trabalhadores formais precisam de garantia do emprego e do salário, e os informais e microempreendedores individuais, da segurança da concessão de uma renda emergencial.

A Câmara dos Deputados fez sua parte e aprovou a renda emergencial de R$ 600, na última quinta-feira. Nossa proposta era de um salário mínimo, mas o valor aprovado foi o possível. O povo brasileiro tem pressa, e essa ajuda já teria que estar chegando na conta dos brasileiros. Sem emprego fixo ou qualquer garantia social, a parcela mais humilde das famílias vê a geladeira já vazia.

Para as pequenas e médias empresas, o governo apresentou um pacote medíocre de R$ 40 bilhões, quando seriam necessários R$ 300 bilhões para garantir a permanência das nossas organizações empresariais e os salários dos trabalhadores formais. A linha de crédito anunciada terá a duração de apenas dois meses, como se alguém acreditasse que a situação atípica durará tão pouco.

As instituições privadas sem fins lucrativos de saúde correspondem a mais de 50% da oferta do SUS no Brasil, como no caso da Santa Casa. É fundamental estatizar suas dívidas, tirando dos bancos privados e repassando para bancos públicos a juro zero, para que esses hospitais possam atender a população neste momento.

Devemos implantar um pacote tributário emergencial, solidário e justo, que torne possível a arrecadação de no mínimo R$ 100 bilhões. Instituir uma contribuição social dos lucros do sistema bancário, dos altos salários, das altas rendas (lucros e dividendos), das grandes fortunas, das remessas de renda ao exterior e contribuição das grandes heranças.

O país dá mostras claras de que não vai mais tolerar a irresponsabilidade de um governante destemperado e genocida. É hora de romper com as cortinas de fumaça dos empréstimos e financiamentos e adotar ações emergenciais contundentes e incisivas, capazes de manter as pessoas e as empresas em pé. Só o compromisso com a vida, a solidariedade e a cooperação vencerá Bolsonaro e a pandemia.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!