Reginaldo Lopes

Petrobras para os acionistas, sem intermediários

Indicação de dois lobistas para a estatal aprofundou a crise

Por Reginaldo Loopes
Publicado em 05 de abril de 2022 | 03:00
 
 
 
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Como se não bastasse a política de preços dos combustíveis praticada pelo governo, que fez a gasolina chegar ao incrível patamar de R$ 8 por litro em diversos locais, nos últimos dias o presidente da República jogou a Petrobras em mais uma crise. Indicou os lobistas Adriano Pires e Rodolfo Landim para, respectivamente, os cargos de presidente da estatal e presidência do Conselho de Administração.

Mesmo antes de assumirem, pipocaram denúncias contra a dupla vindas de todos os lados. A bancada do PT na Câmara dos Deputados fez sua parte e protocolou um documento no Ministério de Minas e Energia solicitando esclarecimentos sobre a atividade empresarial de Adriano Pires, já que ele se negava a informar para quais empresas presta serviço. Nosso requerimento indagou também se tem contas não declaradas no exterior e se ele, ou seus familiares, possuem ativos em empresas vinculadas às áreas de petróleo, energia e gás.

Os dois lobistas têm tanta culpa no cartório que nem esperaram seus nomes serem apreciados pelo Comitê de Pessoas da Petrobras. Renunciaram antes mesmo de tomar posse. Na verdade, suspeita-se que o comitê já tinha pareceres contrários às nomeações e os dois evitaram o vexame de verem seus nomes recusados.

Mais do que nomes, é fundamental compreender o movimento feito por Bolsonaro ao indicar dois lobistas para o comando da estatal mais importante do país. Foi a mais ousada aposta do presidente para acelerar o processo de desmonte e privatização da empresa. Adriano Pires é fundador da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), que há mais de 20 anos trabalha para as principais multinacionais de Petróleo, Gás e Energia, como Chevron, Exxon Mobil e Shell.

Além do claro conflito de interesse entre suas atividades privadas e as atribuições inerentes ao presidente da Petrobras, Adriano Pires é um ardoroso defensor da política da dolarização dos preços dos combustíveis e da privatização da Petrobrás. Sua nomeação foi um movimento para literalmente colocar a raposa para cuidar do galinheiro. Não teria mais intermediários para representar os interesses dos acionistas privados. Sairiam os militares e entrariam os próprios funcionários dos investidores.

Agora, em plena crise de preços dos combustíveis, acentuada pela guerra da Rússia com a Ucrânia, a estatal do petróleo brasileira fica acéfala. O atual governo já mudou três vezes de presidente da Petrobrás. Porém, a política implementada sempre foi a mesma e só aprofundada desde o golpe contra a presidenta Dilma em 2016, quando as tarifas passaram a ser baseadas no dólar através do Preço Paritário de Importação (PPI) e as subsidiárias vendidas para estrangeiros.

Desde que foi adotado o PPI, os combustíveis tiveram seus preços reajustados três vezes mais que a inflação. Tudo isso com o único objetivo de gerar ganho para a Petrobrás, que tem parte imediatamente repassado aos investidores estrangeiros. Só em 2021 os lucros alcançaram R$ 116 bilhões.

Em pleno caos no setor de combustíveis, a anulação da posse dos dois lobistas para os cargos mais importantes da Petrobrás só não é uma boa notícia por sabermos que as próximas indicações serão feitas pelo presidente Bolsonaro, que já mostrou que em caso de substituições de auxiliares, sempre pode piorar.

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