Reginaldo Lopes

Por que privatizar?

Países ricos estão reestatizando serviços com sucesso


Publicado em 08 de outubro de 2019 | 03:00
 
 
 
normal

Os futuros livros de história do Brasil deverão contar em tristes páginas os tempos atuais. Descreverão uma fase de grandes retrocessos, quando um grupo tomou conta do governo central com o objetivo de aniquilar qualquer perspectiva de um projeto de nação. De todas as ações predatórias que estão executando, uma das mais nocivas é o processo de privatizações, que quer tirar do Brasil o controle público de setores estratégicos.

Ao contrário do que é propagado, ao vender as estatais, o país está na contramão do desenvolvimento mundial. A tendência seguida pelos países desenvolvidos é da reestatização, invertendo o processo liberalizante que prevaleceu na década de 90. Desde 2000, ao menos 884 serviços foram reestatizados em países centrais do capitalismo global, como Estados Unidos, França e Alemanha.

Segundo estudo da revista “Forbes”, das dez maiores empresas do mundo em 2018, seis são estatais. Pertencem a países ricos como China, Estados Unidos e Japão. As três primeiras são chinesas, país que possui aproximadamente 150 mil estatais, sendo 55 mil delas diretamente subordinadas ao governo central. Antes que digam que isso é coisa de comunista, saiba que os Estados Unidos, o mais liberal país do mundo, possui mais de 7.000 estatais. O capital estatal é o sustentáculo para a constituição das maiores potências econômicas do mundo.

O principal argumento apresentado pelo governo ao justificar as privatizações é de que o valor arrecadado será usado para sanar o déficit fiscal da União. A mesma mentira foi usada pelo governo Fernando Henrique no fim do século passado. Pois bem, com todas as privatizações realizadas entre 1995 até 2003, a dívida líquida do setor público passou no mesmo período de 28% para 52% do Produto Interno Bruto.

Foi naquele momento que a Vale, na época chamada de Vale do Rio Doce, foi vendida, tornando-se a maior privatização já feita no Brasil. Ela formava um conjunto de 27 empresas, que representava 351.723 km² de áreas de pesquisa e lavra de minérios. Realizava prospecção do subsolo, transporte ferroviário, extração e processamento de minérios e sofisticadas atividades de química fina. Nas mãos da iniciativa privada, a Vale virou uma mera furadeira de buracos e exportadora de produtos primários, como minério bruto.

Antes uma grande impulsionadora da economia brasileira, hoje a Vale apenas explora a extração mineral, destruindo nossas montanhas e matando nosso povo. Foi em Brumadinho o ápice desta política predatória, quando 270 vidas foram levadas pela lama da ganância dos seus acionistas. Em Mariana, além das vidas de inocentes, mataram também nosso rio Doce.

Ao contrário do que é dito, em vez de prejuízo, as empresas públicas trazem muito lucro. Somente no primeiro semestre, apesar de todo processo de sucateamento ao qual estão submetidas, apenas cinco estatais geraram lucro de R$ 60,7 bilhões para os cofres públicos.

Empresas de setores estratégicos, que lidam com atividades essenciais à vida, têm que estar sob o comando do Estado e a serviço dos interesses nacionais. É possível geri-las de forma eficiente e lucrativa, basta que a vocação primordial seja respeitada, que é o bem coletivo e o interesse público.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!