Reginaldo Lopes

Transparência pode acabar com dolarização de preço de combustível

Projeto de Lei exige que Petrobras publique forma de composição das tarifas

Por Reginaldo Lopes
Publicado em 07 de junho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Recentemente, a Câmara dos Deputados resolveu encarar o tema dos altos preços dos combustíveis. Sempre reivindiquei que a Casa fizesse isso, pois é um tema central na vida dos brasileiros. Foi aprovado o regime de urgência, para ser votado em breve, do Projeto de Lei 3.677/2021, de minha autoria, que tem como objetivo dar transparência às regras de composição dos preços de derivados de petróleo, praticados pela Petrobras.

Em síntese, a proposta torna obrigatória a divulgação dos valores referentes aos componentes que determinam o preço final pago pelo consumidor. Entre eles, os custos internos de extração, de refino e de produção, além do valor dos tributos incidentes, as taxas de lucro e outras informações que impactam diretamente as tarifas.

O projeto determina ainda que, para garantir o abastecimento interno e o papel econômico da Petrobras para o desenvolvimento nacional, só seja permitida a exportação do petróleo excedente depois de garantida a demanda interna.

Apesar de a Petrobras ultimamente ser tratada de outra forma, não podemos perder de vista que ela é uma empresa pública, patrimônio do povo brasileiro. Assim, deve ter como princípio a transparência. Tenho essa concepção para qualquer ente público. Por isso fui o autor da Lei de Acesso à Informação, que se tornou o principal instrumento de combate à corrupção no país.

É fundamental que a população compreenda que os valores extorsivos são uma política definida para extrair mais lucros aos acionistas minoritários, à custa do sacrifício do acionista majoritário, que é o brasileiro. A forma para gerar mais lucros tem dado resultado, e apenas no primeiro trimestre deste ano foram realizados repasses aviltantes, com lucro líquido de mais de R$ 44 bilhões.

Veja como dolarização dos combustíveis favorece a Petrobras

O mecanismo atual de composição das tarifas vem desde 2016 e foi mantido por Bolsonaro. Elas são indexadas em moeda internacional, seguindo o valor do barril cobrado no exterior, acrescentando nos valores do petróleo extraído no Brasil custos que não existem, como taxas portuárias e de transporte, como se importássemos um produto que é nacional.

Cerca de 85% dos componentes que produzem os derivados são brasileiros, mas a Petrobras aplica a dolarização em todo o processo. Além disso, a produção no país é em média 60% mais barata do que em outras nações, portanto deveríamos ter os menores preços do mundo.

O governo federal é diretamente responsável por esse verdadeiro acinte. Afinal, é ele que indica os conselheiros da estatal petrolífera e sempre optou por ter representantes do mercado, que na gestão levam em conta apenas os lucros dos acionistas minoritários, seus pares.

O preço do combustível é um dos grandes responsáveis pela alta da inflação. No ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 10,6%, consequência direta de tarifas como da gasolina, que subiu 46% no mesmo período. Uma longa cadeia de produtos é afetada, como os que chegam à mesa do brasileiro, nos contratos de aluguel, nos juros dos empréstimos.

Ao dar transparência na composição de preços da Petrobras, o brasileiro vai entender melhor essa política praticada e terá mais força para reivindicar uma mudança, gerando preços mais justos.

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